PUBLICIDADE

Oriente Médio

Talibã proíbe afegãos de irem ao aeroporto e deixar o país

"Pedimos aos norte-americanos que não encorajem os afegãos a irem embora. Nós precisamos das competência deles", disse o porta-voz

24 ago 2021 - 12h14
(atualizado às 12h33)
Compartilhar
Exibir comentários
Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã, durante coletiva de imprensa no Afeganistão
Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã, durante coletiva de imprensa no Afeganistão
Foto: Reuters

Em uma nova coletiva de imprensa nesta terça-feira, 24, o grupo fundamentalista Talibã informou que não vai mais permitir que cidadãos afegãos se dirijam ao aeroporto de Cabul para deixar o país.

"As pessoas devem voltar para casa. Nós pedimos aos norte-americanos que não encorajem os afegãos a irem embora. Nós precisamos das competências deles", disse um dos porta-vozes do grupo, Zabihullah Mujahid.

Segundo Mujahid, o "emirado islâmico está tentando controlar a situação" próxima ao aeroporto Hamid Karzai e que "a estrada em direção ao aeroporto foi fechada e os afegãos não podem mais passar ali, só os estrangeiros".

"Nós estamos impedindo os cidadãos afegãos de ir para lá porque há o risco de perderem a vida por causa da multidão, e os norte-americanos estão atirando quando há confusão e as pessoas morrem. Atiram nas pessoas e nós queremos que os afegãos fiquem seguros quanto a isso", acrescentou Mujahid.

Desde o dia 15 de agosto, quando o Talibã tomou o poder em Cabul, cenas de desespero se repetem dia após dia no aeroporto da capital. Milhares de pessoas correram em direção ao local na esperança de deixar o país que volta a ser comandado pelo grupo extremista.

As nações ocidentais, por sua vez, estão retirando seus funcionários e militares, mas também aqueles civis que colaboraram com as forças de ordem internacionais ao longo de 20 anos de ocupação liderada pelos Estados Unidos.

No entanto, ministros europeus já reconheceram que nem todos serão resgatados até o dia 31 de agosto, quando encerra o acordo entre norte-americanos e talibãs.

Sobre a data final da retirada, Mujahid declarou que "não acredita" que ela será ampliada. "O 31 de agosto é um plano dos Estados Unidos, que eles previram. Eles tiveram todas as oportunidades e todos os recursos para levar todas as pessoas que pertencem a eles. Nós não prorrogaremos o prazo", acrescentou.

Alguns governos ocidentais falam abertamente em tentar ampliar o prazo de resgate para dar tempo de buscar pessoas que auxiliaram a coalizão, mas que não moram em Cabul.

Membro do talibã exibe armas pelas ruas de Cabul, no Afeganistão
Membro do talibã exibe armas pelas ruas de Cabul, no Afeganistão
Foto: Reuters

O porta-voz foi questionado ainda sobre as dezenas de informações que mostram que membros do grupo estão invadindo casas de colaboradores e executando ou sequestrando as pessoas.

Recentemente, a emissora alemã Deutsche Welle informou que um parente de um de seus jornalistas foi assassinado enquanto eles procuravam pelo repórter e são inúmeras as falas que dizem que civis que trabalharam com os militares norte-americanos estão sendo espancados até a morte. Os relatos contrariam o discurso do próprio Mujahid, que disse que o novo governo anistiaria a todos porque "não quer mais inimigos internos nem externos".

"Nós não perseguimos ninguém, não caçamos ninguém, nenhum dos incidentes foi causado pela nossa parte em nenhum local do país. Nós não temos nenhuma lista. Queremos levar paz e segurança para todo o país", disse o porta-voz negando todas as acusações.

Mulheres

Apesar do discurso talibã dizer que as mulheres teriam os mesmos direitos obtidos nos últimos anos, seguindo "a lei islâmica", muitas delas não podem mais trabalhar desde que o grupo retomou o poder em Cabul.

Ao ser questionado sobre esse fato, Mujahid disse que essa é uma "situação temporária para o bem delas" e que nenhuma perdeu seu emprego, com seu salário sendo pago normalmente.

"Nesse momento, isso é para o bem delas, para impedir maus tratos. O procedimento será temporário. As forças de segurança, no momento, não estão operativas e não foram treinadas para lidar com as mulheres, nem falar com mulheres e decidimos parar as mulheres até que haja uma segurança para elas. Quando houver um sistema apropriado, poderão voltar ao trabalho e retomarão seus salários. Mas, por enquanto, devem ficar em casa", disse o representante sem dar prazos de quando e como isso irá acontecer.

O temor sobre os direitos das mulheres surge porque durante os anos em que o Talibã ficou no poder, entre 1996 e 2001, elas não podiam estudar, trabalhar ou sequer sair de casa sem estar acompanhadas por um homem da família. Por isso, muitas delas optaram por fugir desse novo governo afegão tanto para países vizinhos como em voos das nações ocidentais.

Novos ministros

Nesta terça-feira, o Talibã ainda anunciou dois novos ministros e o chefe da Inteligência do governo, informou a agência de notícias local Pajhwok.

Gul Agha será o novo ministro das Finanças, Sadr Ibrahim será o chefe da pasta do Interior e Mohammad Najibullah será o chefe da Inteligência.

O grupo também anunciou dois líderes políticos para Cabul. Enquanto Mullah Shirin foi escolhido para governar a província, Hamdullah Normani será o prefeito da cidade.

Ansa - Brasil   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade