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O que aconteceu com os personagens centrais do caso Jeffrey Epstein, agora tema de documentário da Netflix

Financista bilionário, acusado de tráfico e abuso sexual de menores, morreu um mês após ser preso, em cirscunstâncias ainda não totalmente esclarecidas.

1 jun 2020 - 19h38
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Epstein foi encontrado morto na cela um mês depois de ser preso
Epstein foi encontrado morto na cela um mês depois de ser preso
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Uma recém-lançada série documental do serviço de streaming Netflix voltou a lançar luz sobre uma das figuras mais controversas da história recente dos Estados Unidos: Jeffrey Epstein.

Dividido em quatro episódios, o documentário narra os crimes do financista bilionário, acusado de tráfico e abuso sexual de menores. Ele morreu um mês após ser preso, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas.

Epstein vivia uma vida de luxo e riqueza. Seu círculo social era amplo e incluía personalidades como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o ex-presidente Bill Clinton, o príncipe britânico Andrew e Harvey Weinstein, o produtor de cinema americano condenado por estupro de mulheres.

Por meio de entrevistas assustadoras com acusadores, gravações de interrogatório do próprio Epstein e documentos legais, Jeffrey Epstein - Poder e Perversão detalha graficamente os complexos "esquemas de tráfico de pirâmides sexuais" de Epstein na Flórida, Nova York, Novo México e nas Ilhas Virgens e questiona como o misterioso bilionário conseguiu escapar de uma pena de prisão mais severa, apesar das inúmeras provas de suas vítimas e das autoridades.

O escândalo envolvendo Epstein também ganhou destaque nas redes sociais após uma conta ligada ao grupo Anonymous ter postado um processo judicial que vincularia Trump ao esquema sexual comandado pelo financista. Mas essa acusação já havia sido noticiada e a mulher que supostamente teria sido vítima de Trump desistiu do processo há alguns anos.

Confira abaixo os personagens desta trama.

Jeffrey Epstein

O pedófilo bilionário no centro da série documental da Netflix teria cometido suicídio por enforcamento em uma cela da cidade de Nova York em agosto de 2019, onde estava preso, sem direito a fiança, por acusações de tráfico sexual.

Epstein foi preso em 6 de julho de 2019 e se declarou inocente de dezenas de acusações de tráfico sexual por atrair meninas menores de 14 anos, de 2002 a 2005.

As circunstâncias de sua morte, no entanto, ainda são extremamente controversas.

Isso porque os agentes penitenciários do Metropolitan Correctional Center em Manhattan (Nova York), onde Epstein estava preso, não estavam monitorando sua cela no momento de sua morte - ele foi encontrado sem vida com um lençol amarrado ao pescoço.

Já as duas câmeras de segurança do lado de fora de sua cela estavam com defeito.

Como resultado, muitos especularam que ele havia sido assassinado.

O FBI, a polícia federal americana, e o inspetor-geral do Departamento de Justiça dos EUA estão investigando as circunstâncias da morte de Epstein.

Já seu irmão, Mark Epstein, contratou peritos para contestar a versão das autoridades de que ele morreu enforcado, como mostra o episódio final da série.

Outra grande incógnita abordada na série diz respeito à fortuna de Epstein. Dois dias antes de seu suicídio, Epstein transferiu US$ 600 milhões a um trust nas Ilhas Virgens, tornando quase impossível para suas vítimas buscar indenização.

O bilionário possuía propriedades multimilionárias na Flórida, Nova York, Novo México e nas Ilhas Virgens, além de vários jatos particulares.

Ghislaine Maxwell era considerada braço direito de Epstein
Ghislaine Maxwell era considerada braço direito de Epstein
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Ghislaine Maxwell

A ex-namorada e braço direito Epstein, a socialite britânica Ghislaine Maxwell, foi acusada por suas vítimas como responsável por seus crimes globais de tráfico sexual. Ela nega qualquer irregularidade e atualmente está sendo investigada pelo FBI. Ghislaine não é vista em público desde agosto de 2019 quando foi fotografada em uma lanchonete em Los Angeles.

Rumores que circularam na imprensa americana sobre o paradeiro dela incluíam até um resort no Brasil. Ela estaria escondida com um olheiro de modelos francês, que seria o encarregado de recrutar meninas para Epstein.

Um processo civil movido por uma das acusadoras de Epstein, Annie Farmer, está atualmente suspenso porque a investigação federal sobre seus cúmplices, que inclui Ghislaine, ainda está em andamento. A própria Ghislaine entrou com uma ação contra o espólio de Epstein na esperança de recuperar as custas judiciais vinculadas à sua prisão.

Desde então, Ghislaine vendeu suas duas casas e sua organização ambiental sem fins lucrativos, The TerraMar Project, foi fechada em 2019.

A socialite britânica também teria comprado dezenas de meninas menores de idade e é até acusada de praticar atos sexuais com muitas delas.

Virginia Roberts, uma das acusadoras de Epstein, disse que Ghislaine organizou um dos supostos encontros sexuais do príncipe Andrew com a jovem de 17 anos em seu condomínio em Londres depois de uma festa à noite. O príncipe negou as acusações.

Alex Acosta

Alex Acosta renunciou ao cargo de secretário de Trabalho dos EUA por causa do escândalo sexual de Epstein
Alex Acosta renunciou ao cargo de secretário de Trabalho dos EUA por causa do escândalo sexual de Epstein
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O ex-secretário do Trabalho dos Estados Unidos renunciou ao cargo no governo Trump em 2019 por causa da forma como lidou com os crimes sexuais de Epstein quando era promotor de Justiça dos EUA no sul da Flórida.

Acosta, que se recusou a ser entrevistado para a série da Netflix, era promotor em Miami, onde supervisionou um acordo secreto de não acusação para Epstein em 2008, apesar das evidências de que ele abusou sexualmente pelo menos 400 adolescentes.

Com o acordo, em vez de ser condenado à prisão perpétua, Epstein ficou preso por 13 meses e com a possibilidade de deixar a prisão 12 horas por dia, seis por semana "a trabalho".

O chefe da polícia de Palm Beach, Michael Reiter, que tentava colocá-lo atrás das grades, chegou a se desculpar pessoalmente com as vítimas de Epstein e suas famílias.

Durante a entrevista coletiva em que anunciou sua renúncia, Acosta disse: "Acreditamos que procedemos adequadamente" e "fizemos o que fizemos porque queríamos ver Epstein preso."

Desde então, Acosta mantém-se longe dos holofotes e permanece sem emprego desde que deixou a Casa Branca. Ele foi sucedido pelo atual Secretário do Trabalho Eugene Scalia.

Les Wexner

'Descobrimos que ele (Jeffrey Epstein) se apropriava de grandes quantias de dinheiro minhas e da minha família', disse Wexner (foto)
'Descobrimos que ele (Jeffrey Epstein) se apropriava de grandes quantias de dinheiro minhas e da minha família', disse Wexner (foto)
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O bilionário que fundou a L Brands, um império global de varejo que inclui marcas como Victoria's Secret e Bed Bath and Beyond, deixou o cargo de CEO e presidente da empresa em 2020 e vendeu sua participação majoritária na Victoria's Secret por US$ 525 milhões.

Após a acusação de Epstein em 2019, Wexner acusou seu ex-consultor financeiro de roubar US$ 46 milhões de sua empresa.

"Descobrimos que ele se apropriava de grandes quantias de dinheiro minhas e da minha família", disse Wexner na ocasião.

"Isso foi, francamente, um tremendo choque, apesar de claramente ser muito inferior em comparação com as acusações impensáveis contra ele agora."

Mas uma das acusadoras de Epstein, Maria Farmer, disse que foi abusada sexualmente por Epstein em uma propriedade de Wexner no Estado americano de Ohio no final dos anos 90. Ela disse ao jornal Washington Post que Wexner deveria ser responsabilizado.

Acredita-se que Wexner é a principal razão pela qual Epstein amealhou sua fortuna.

Segundo o jornal The New York Times, em 1991, Wexner assinou uma procuração de três páginas "que permitia que Epstein contratasse pessoas, assinasse cheques, comprasse e vendesse propriedades e emprestasse dinheiro - tudo em nome do Sr. Wexner."

Seu relacionamento de duas décadas supostamente foi além de apenas laços comerciais. Aventou-se a possibilidade de os dois homens serem amantes, o que Epstein negou. No documentário, ex-parceiros de negócios de Epstein em Wall Street disseram que ele se gabava do relacionamento que tinha com Wexner e como controlava "a mente e as emoções" do magnata.

A esposa de Wexner, Abigail, que faz parte do conselho de administração da Universidade Estadual de Ohio, onde os Wexners são grandes doadores (o hospital da escola foi nomeado em homenagem a eles), também foi acusada por Farmer de ser cúmplice do suposto ataque de Epstein à adolescente na mansão de Ohio em 1996.

Wexner ainda é presidente emérito da L Brands. Abigail Wexner permanece no conselho de curadores do Estado de Ohio.

O casal negou saber sobre os encontros entre Epstein e as meninas menores de idade e não está sendo investigado pelas autoridades.

Príncipe Andrew

O Duque de York é uma das muitas personalidades acusadas de abuso sexual ao lado de Harvey Weinstein e Alan Dershowitz (Bill Clinton voou no jato particular de Epstein 26 vezes de acordo com documentos de voo, mas não houve relatos de crime envolvendo o ex-presidente dos EUA).

O príncipe Andrew, segundo a acusadora de Epstein, Virginia Roberts, a agrediu em várias ocasiões. Outro funcionário da Epstein corroborou uma história sobre Roberts e o príncipe Andrew nus juntos na propriedade de Epstein, nas Ilhas Virgens.

Roberts também tem uma foto sua com o príncipe Andrew, com o braço em volta de sua cintura, que foi tirada após uma festa noturna no clube de Londres, quando ela tinha apenas 17 anos na casa de Ghislaine Maxwell em Londres.

No entanto, em entrevista à BBC, Andrew afirmou que "não se lembra" de tê-la conhecido. Naquela noite, disse, ele estava em uma pizzaria com a filha.

Na ocasião, o duque também foi questionado sobre por que decidiu ficar com Epstein em sua mansão em Nova York em 2010, mesmo depois de o amigo ter cumprido pena de 13 meses de prisão na Flórida.

Andrew alegou que foi à casa de Epstein "o único objetivo de lhe dizer que, porque ele havia sido condenado, era inapropriado sermos vistos juntos. Eu senti que fazê-lo por telefone seria covarde. Tive que ir vê-lo e conversar com ele".

Após a morte de Epstein em 2019, o príncipe emitiu uma declaração dizendo "em nenhum momento durante o tempo limitado que passei com ele vi, testemunhei ou suspeitei de qualquer comportamento", e acrescentou "seu suicídio deixou muitas perguntas sem resposta e eu reconheço e simpatizo com todos que foram afetados e desejam algum tipo de fecho. Este é um momento difícil para todos os envolvidos e não consigo entender ou explicar o estilo de vida de Epstein. Deploro a exploração de qualquer ser humano e não toleraria, participaria ou incentivaria tal comportamento. "

Autoridades americanas continuam investigando os supostos cúmplices de Epstein, incluindo o príncipe Andrew, mas em março os promotores de Nova York disseram que, embora o duque tenha publicamente afirmado que colaboraria com a investigação, "fechou completamente a porta à cooperação voluntária e estamos considerando outras opções."

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