Inteligência artificial ameaça arte aborígene na Austrália com cópias vendidas a preços irrisórios
Nos últimos meses, alguns artistas australianos tiveram a desagradável surpresa de descobrir que algumas de suas obras haviam sido claramente copiadas e depois vendidas em plataformas chinesas por um preço irrisório. Esse caso, que vai muito além da questão do direito autoral, evidencia a maneira como as inteligências artificiais podem prejudicar culturas já fragilizadas.
Grégory Plesse, correspondente da RFI em Sydney
A artista australiana Emma Hollingsworth encontrou cópias quase idênticas de suas telas sendo vendidas no site Temu, por apenas €3. Diante de inúmeras denúncias similares, a plataforma acabou retirando esses produtos de venda.
Para Emma, não se trata apenas de tentarem privá-la de seu sustento, em várias entrevistas, ela lembrou que suas telas não são apenas belas imagens, mas sobretudo o fruto de sua identidade como mulher aborígene. Elas estabelecem um vínculo direto com sua família, seus ancestrais e também com sua terra.
A inteligência artificial generativa, por sua vez, está totalmente desprovida dessa dimensão simbólica e não conta nenhuma história.
Um patrimônio reduzido a um "estilo"
Para um povo que os colonos tentaram erradicar fisicamente, mas também culturalmente, essa violação de sua propriedade intelectual perpetrada pela IA é vivida como uma nova forma de colonização. Os lucros retirados da venda das telas de estilo aborígene geradas por IA e vendidas na internet, evidentemente não são direcionados aos aborígenes.
Há artistas cujas obras são simplesmente saqueadas, como as de Emma Hollingsworth e, em outros casos, as IAs generativas criam novas obras. As imagens criadas dessa maneira são originais e não representam, em si, uma violação da propriedade intelectual, mesmo que, na realidade, sejam produzidas a partir de centenas ou até milhares de obras aborígenes diferentes.
Arte aborígene fragilizada pelas IAs
Também nesse caso, algumas pessoas na Austrália observam que as imagens geradas não levam em conta o significado de certas representações da verdadeira arte aborígene, e às vezes até de seu caráter sagrado. Além disso, a IA tende a reduzir a arte aborígene a um único estilo, o pontilhismo, quando, na verdade, ela é muito mais variada, já que os aborígenes são mais de 300 povos diferentes, cada um com sua própria língua, cultura e mitos. Assim, através da IA, sua arte é uniformizada e esterilizada.
Muitos aborígenes consideram que há uma forma de despossessão, mas também de esvaziamento simbólico, ao reduzir sua arte a elementos de decoração.