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Gaza não terá Ano-Novo feliz: países pedem medidas urgentes, e UE critica restrições a ONGs

Após a visita do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a Washington, na terça (29), o presidente americano, Donald Trump, prometeu que o Hamas pagará "um preço alto se não entregar as armas". Este é um dos principais pontos da segunda fase do acordo de paz negociado pelos EUA com Israel, que entrou em vigor em outubro e inclui também a reconstrução do enclave. Mas o ceticismo reina entre a população de Gaza, onde a situação humanitária continua catastrófica.

31 dez 2025 - 08h57
(atualizado às 09h06)
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Rami El Meghari, correspondente da RFI em Gaza, e Aabla Jounaïdi, da RFI em Paris*

O cotidiano dos palestinos em Gaza se resume à sobrevivência. Em um acampamento improvisado à beira-mar, Oum Ahed, 50 anos, moradora do enclave, lamenta a precariedade nos assentamentos. "Essas pequenas tendas doadas para a gente foram levadas pelo vento dos últimos dias", relata. "À noite, as pessoas gritam porque a água sobe e leva tudo, inclusive as barracas e os móveis. Queremos abrigos mais sólidos, porque ainda vamos ficar aqui por anos, dois, cinco ou talvez dez", diz.

Hamdi Ali, outro morador do enclave, diz não ter grandes expectativas em relação às negociações com Israel. Sua única preocupação é sustentar a família de oito pessoas. "Não temos ideia do que nos espera e não confiamos em ninguém, além de Deus. Os países estrangeiros zombam da gente", lamenta.

"Há sempre essa vontade dos Estados Unidos de avançar com seus projetos estratégicos e econômicos na região. Isso deveria facilitar a manutenção do cessar-fogo e a reconstrução de Gaza. Mas tudo isso está comprometido por desafios técnicos e logísticos: questões financeiras ainda precisam ser resolvidas, sem contar que será necessário cuidar de todas as pessoas aqui", explica o cientista político e economista Mohamed Abou Jiab.

Trinta e sete ONGs ameaçadas

Israel ameaça proibir a atuação de 37 ONGs em Gaza a partir desta quinta-feira (1º). As organizações devem enviar até a noite desta quarta-feira a lista de seus funcionários palestinos, apesar da crise humanitária que afeta 2,2 milhões de habitantes do território. O governo israelense acusa dois membros da ONG francesa Médicos Sem Fronteiras (MSF) de "vínculos com organizações terroristas".

Segundo comunicado do Ministério da Diáspora e da Luta contra o Antissemitismo, as organizações que "se recusarem a enviar a lista de seus funcionários palestinos, para excluir qualquer vínculo com o terrorismo terão suas licenças canceladas a partir de 1º de janeiro". As ONGs afetadas "deverão encerrar todas as atividades até 1º de março de 2026".

A União Europeia alertou nesta quarta-feira (31) que a suspensão de ONGs vai impedir o envio de ajuda vital. "A UE foi clara: a lei sobre registro de ONGs não pode ser aplicada em sua forma atual", escreveu a comissária europeia Hadja Lahbib no X. "Todos os obstáculos ao acesso à ajuda humanitária devem ser eliminados", acrescentou.

Na terça-feira (29), França, Reino Unido, Canadá e outros países pediram que Israel tome medidas urgentes diante da situação catastrófica em Gaza. O comunicado, publicado pelo Ministério das Relações Exteriores britânico, insta Israel a permitir que organizações não governamentais atuem de forma sustentável e previsível e garanta que a ONU possa continuar seu trabalho no enclave.

"Expressamos nossa profunda preocupação com a nova deterioração da situação humanitária em Gaza, que continua catastrófica", afirmam os ministros das Relações Exteriores do Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Islândia, Japão, Noruega, Suécia, Suíça e Reino Unido. De acordo com o texto, os israelenses devem suspender as "restrições desproporcionais" impostas a certas importações, como material médico e abrigos, e abrir as passagens fronteiriças para aumentar o fluxo de ajuda humanitária aos palestinos.

'Atividades terroristas'

O ministério israelense afirmou que apenas 15% das ONGs são alvo das restrições e acrescentou que "atos de deslegitimação de Israel, processos judiciais contra soldados de Tsahal (Exército israelense), negação do Holocausto e dos eventos de 7 de outubro constituem motivos para a retirada de licença".

As autoridades afirmam que "algumas organizações internacionais estiveram envolvidas em atividades terroristas" e acusam diretamente a MSF de ter empregado pessoas "com vínculos com organizações terroristas". De acordo com o Ministério da Diáspora e da Luta contra o Antissemitismo, "um membro da Jihad Islâmica Palestina foi identificado" em junho de 2024 como funcionário da ONG. Em setembro de 2024, "outro funcionário da MSF foi identificado como atirador do Hamas".

MSF se defende

A Médico Sem Fronteiras afirmou que "jamais empregaria conscientemente pessoas envolvidas em atividades militares" e disse "manter diálogo com as autoridades israelenses", acrescentando que já expressou suas "preocupações" sobre a exigência de envio obrigatório das identidades. ONGs internacionais já haviam alertado, em meados de dezembro, que temiam não poder mais atuar na Faixa de Gaza, devastada por dois anos de guerra, devido a essas novas regras.

Das cerca de 100 solicitações de registro apresentadas nos últimos meses, apenas 14 haviam sido rejeitadas até o fim de novembro, segundo o ministério, que conduz desde março esse novo procedimento obrigatório. "A grande maioria das ONGs registradas opera na Faixa de Gaza e continuará a exercer suas atividades", afirmou o Ministério das Relações Exteriores, segundo o qual 99% da ajuda humanitária não será afetada pela medida.

*Com agências

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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