Voos são retomados em Copenhague e Oslo após sobrevoos de drones; Dinamarca fala em 'ataque grave'
Os aeroportos de Copenhague e Oslo voltaram a operar na manhã desta terça-feira (23) após uma noite de caos provocada por sobrevoos de drones de origem desconhecida. O tráfego aéreo ficou bloqueado por cerca de quatro horas na segunda-feira, levando ao cancelamento ou desvio de dezenas de voos nos dois países. Ao todo, 100 voos foram cancelados e 31 desviados, afetando cerca de 20 mil passageiros.
Os aeroportos de Copenhague e Oslo voltaram a operar na manhã desta terça-feira (23) após uma noite de caos provocada por sobrevoos de drones de origem desconhecida. O tráfego aéreo ficou bloqueado por cerca de quatro horas na segunda-feira, levando ao cancelamento ou desvio de dezenas de voos nos dois países. Ao todo, 100 voos foram cancelados e 31 desviados, afetando cerca de 20 mil passageiros.
Na manhã seguinte, longas filas se formaram nos balcões de atendimento, com viajantes tentando remarcar seus bilhetes. A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, classificou o episódio como "o ataque mais grave já registrado contra uma infraestrutura crítica" no país. Ela afirmou que o incidente se insere em uma tendência recente de ataques com drones, violações de espaço aéreo e ofensivas cibernéticas contra aeroportos europeus — citando casos na Polônia, Romênia e a entrada de caças russos no espaço aéreo da Estônia. Os três governos responsabilizaram a Rússia, que nega envolvimento nas intrusões.
Dinamarca diz que Rússia é "ameaça"
O episódio ocorre uma semana após o anúncio de que o governo dinamarquês pretende adquirir, pela primeira vez, armas de precisão de longo alcance, para se defender da ameaça que a Rússia passou a representar para o continente após a invasão da Ucrânia. Segundo Frederiksen, a ameaça russa pode se prolongar por anos.
O primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Støre, também denunciou que aviões russos violaram o espaço aéreo norueguês três vezes neste ano — após uma década sem registros desse tipo de incursão. Na noite de segunda-feira, o aeroporto de Oslo também foi fechado por cerca de três horas após relatos de drones na região. A polícia norueguesa confirmou que investiga uma possível conexão com o incidente em Copenhague, e os serviços de inteligência do país estão em contato com autoridades nacionais e internacionais.
Além disso, no fim de semana anterior, uma falha em um software de registro de passageiros — alvo de uma ciberofensiva — provocou interrupções em aeroportos de Londres, Berlim, Bruxelas e Dublin.
Embora o responsável pelos drones não tenha sido identificado, a polícia de Copenhague descreveu o operador como alguém com "capacidade técnica, intenção e recursos para se manifestar". Segundo o inspetor Jens Jespersen, o número de drones, suas dimensões, rotas e tempo de permanência sobre o aeroporto indicam um agente experiente — cuja identidade ainda é desconhecida. Ele também sugeriu que o episódio pode ter sido um exercício de treinamento para operadores de drones.
Os drones foram detectados por volta das 20h30 (hora local) de segunda-feira e o aeroporto só reabriu após a meia-noite. Eles vieram de diferentes direções e podem ter sido lançados a partir de embarcações. A polícia optou por não derrubá-los, alegando riscos à segurança: "Se caíssem, poderiam atingir aviões com passageiros, tanques de combustível ou áreas residenciais próximas", explicou Jespersen.
"Sabotagem"
O chefe de operações dos serviços de inteligência dinamarqueses (PET), Flemming Drejer, reforçou que o país enfrenta uma "ameaça significativa de sabotagem". A primeira-ministra também declarou à emissora DR que "não pode excluir a possibilidade de envolvimento russo". O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi mais direto e acusou Moscou de violar o espaço aéreo dinamarquês. O Kremlin, por sua vez, negou qualquer participação e classificou as acusações como "infundadas".
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, afirmou que ainda é cedo para atribuir o ataque à Rússia. Já a violação do espaço aéreo da Estônia por aviões russos levou o Conselho de Segurança da ONU a se reunir nos dias 22 e 23 de setembro, a pedido do governo estoniano, que classificou o episódio como uma "provocação".
Na sexta-feira anterior, três caças russos invadiram o espaço aéreo da Estônia por 12 minutos, provocando protestos da Otan e da União Europeia. Moscou negou qualquer violação. Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da Estônia anunciou uma reunião de emergência.
A Polônia, também membro da Otan, denunciou múltiplas incursões de drones russos em seu território no início de setembro, durante ataques à Ucrânia, e classificou os atos como "agressão". O novo enviado de Washington às Nações Unidas, Mike Waltz, prometeu no encontro "defender cada centímetro do território da Otan".
As relações, por vezes cordiais, entre Donald Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, parecem ter se deteriorado. Putin continua sua ofensiva na Ucrânia, apesar dos esforços de paz promovidos pelo líder norte-americano. Após uma visita oficial ao Reino Unido na quinta-feira, Trump declarou que o presidente russo o havia "realmente decepcionado" ao manter a guerra, que já entra no seu quarto ano.
Questionado sobre a situação na Estônia, Trump confirmou ter sido informado e acrescentou: "Não gostamos disso." O tom contrasta com sua reação à violação do espaço aéreo polonês no início do mês, quando classificou o episódio como uma "possível falha".
Reunião da Otan sob o artigo 4
Nesta terça-feira, representantes dos 32 países da Otan se reúnem em Bruxelas, também por iniciativa da Estônia. O encontro do Conselho do Atlântico Norte, em nível de embaixadores, ocorre sob o artigo 4 do tratado da Otan, que prevê consultas entre aliados diante de ameaças a qualquer um dos seus membros. A série de violações do espaço aéreo e ataques cibernéticos contra aeroportos europeus provocou uma escalada de preocupações entre os países da Otan e aliados estratégicos.
(RFI com AFP)