UE investe bilhões para reduzir dependência da China em terras raras e matérias-primas críticas
A União Europeia anunciou um pacote de € 3 bilhões para financiar projetos estratégicos de extração, refino e reciclagem de terras raras e outros minerais essenciais, buscando reduzir sua dependência da China. As medidas incluem a criação, em 2026, de um Centro Europeu de Matérias-Primas Críticas, restrições à exportação de resíduos industriais e uma nova doutrina de segurança econômica.
A União Europeia anunciou nesta quarta-feira (3) um pacote de medidas para acelerar o desenvolvimento de projetos ligados à produção de terras raras e outras matérias-primas críticas, numa tentativa de reduzir sua dependência da China. O francês Stéphane Séjourné, vice-presidente da Comissão, afirmou que "a Europa responde à nova situação geopolítica mundial" e que "marca sua independência em relação às matérias-primas críticas". Bruxelas quer fortalecer a autonomia do bloco diante das tensões comerciais globais e da pressão simultânea de Pequim e Washington.
Os recursos virão de programas europeus e do Banco Europeu de Investimento. Além disso, será criado em 2026 o Centro Europeu das Matérias-Primas Críticas, com três missões principais: monitorar e avaliar necessidades, realizar compras conjuntas em nome dos Estados-membros e administrar estoques para atender às empresas.
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Outra medida concreta é a restrição, já no início de 2026, das exportações de resíduos e sucatas de ímãs permanentes — fabricados a partir de terras raras e usados em diversos setores industriais — para favorecer o seu reaproveitamento dentro da Europa. Estão previstas também limitações às exportações de resíduos de alumínio e, possivelmente, de cobre.
Terras raras, um tesouro cobiçado
As terras raras são elementos metálicos essenciais para setores como a indústria automotiva, energias renováveis, tecnologia digital e defesa. Servem à produção de ímãs potentes, catalisadores e componentes eletrônicos. A China concentra a maior parte das reservas mundiais e domina não apenas a extração, mas também o refino, exercendo um quase monopólio. O país mantém controle semelhante sobre outros metais estratégicos, como o gálio, usado em semicondutores.
A UE já havia aprovado, há dois anos, uma lei para garantir o abastecimento de matérias-primas críticas. Mas o bloco se vê pressionado entre a China, que multiplicou restrições às exportações de terras raras em 2025, e os Estados Unidos de Donald Trump, que negociam acordos bilaterais em várias frentes para assegurar seus próprios suprimentos.
O comissário europeu de Comércio, Maros Sefcovic, apresentou também uma atualização da doutrina de "segurança econômica" da União. "No mundo, os fluxos comerciais são usados como armas, as cadeias de suprimento estão sob pressão e as dependências econômicas se transformam em pressão política, afetando diariamente nossas empresas e sua competitividade", declarou.
A primeira versão dessa doutrina, de 2023, nasceu das lições da pandemia de Covid-19 e da guerra na Ucrânia, que expuseram a fragilidade das cadeias de abastecimento europeias. Agora, diante das tensões geopolíticas e comerciais — incluindo o confronto tarifário com os Estados Unidos —, Bruxelas decidiu reforçar seus instrumentos.
A nova versão prevê maior flexibilidade no uso de ferramentas já disponíveis, como o controle de investimentos estrangeiros, restrições à exportação de determinados bens e diversificação de fornecedores. "Vamos usar nossos instrumentos de forma mais estratégica, desenvolver novos se necessário e melhorar nossa coleta de informações econômicas", concluiu Sefcovic.
Com AFP
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