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Europa

ONU denuncia descaso com migrantes mortos no Mediterrâneo

Número de vítimas que perderam a vida em 2014 chegou a 3.419; mais de 207.000 migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo desde o início do ano

10 dez 2014 - 12h24
(atualizado às 15h53)
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<p>Barco improvisado cheio de migrantes &eacute; interceptado por um navio da Marinha italiana, no mar Mediterr&acirc;neo perto de Lampedusa, em 5 de fevereiro</p>
Barco improvisado cheio de migrantes é interceptado por um navio da Marinha italiana, no mar Mediterrâneo perto de Lampedusa, em 5 de fevereiro
Foto: Marinha italiana / AFP

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, queixou-se nesta quarta-feira da indiferença chocante dos países europeus em relação aos migrantes que tentam atravessar o Mediterrâneo, no momento em que 3.419 pessoas perderam a vida em 2014, um recorde.

"A falta de interesse que vemos em vários países diante do sofrimento e da exploração dessas pessoas desesperadas é profundamente chocante", afirmou Al-Hussein na abertura de uma conferência em Genebra sobre o tema.

Desde o início do ano, mais de 207.000 migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo, um número quase três vezes maior do que o recorde anterior de 2011, Nesse ano, 70.000 pessoas deixaram seus países durante a Primavera Árabe, a onda de contestação contra governos autoritários no Oriente Médio e no norte da África que desencadeou violentos conflitos.

"Os países ricos não devem se tornar guetos, com seus povos tentando fechar os olhos para não ver as manchas de sangue em suas estradas", advertiu o alto comissário.

Com os conflitos ao sul (Líbia), no leste (Ucrânia) e a sudeste (Síria/Iraque), a Europa registra atualmente o maior número de chegadas pelo mar.

Cerca de 85% dessas perigosas viagens começam na costa líbia em direção à Itália ou a Malta.

A maior parte dos imigrantes que chegaram à Itália neste ano é de origem síria (60.051), com seu país devastado por uma guerra civil que já dura quase quatro anos, e eritreia (34.561), tentando escapar da repressão brutal do governo, do serviço militar por toda a vida e de trabalhos forçados, não remunerados e de duração ilimitada.

O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) criticou a gestão migratória dos países ricos, lamentando que alguns governos fiquem mais focados em manter os estrangeiros fora de suas fronteiras do que no respeito ao asilo, enquanto crianças, mulheres e idosos sofrem em embarcações superlotadas.

"Se famílias inteiras arriscam suas vidas no mar hoje, é porque já perderam qualquer esperança e acreditam que essa é a única maneira de estar a salvo", explicou António Guterres, alto comissário da ONU para os refugiados.

"Em seu lugar, nós provavelmente teríamos feito a mesma coisa, e, talvez, essa simples conscientização de nossa humanidade comum pode nos levar a fazer boas escolhas em resposta", acrescentou Al-Hussein.

Apenas a Itália já salvou 150.000 imigrantes que tentavam atravessar o Mediterrâneo em 2014. Mas as autoridades italianas confirmaram em outubro o fim da operação "Mare Nostrum", lançada com urgência depois da tragédia de Lampedusa, por falta de apoio na Europa.

Vários países europeus aceitaram contribuir com uma nova operação, batizada de Tritão, que se limitará à vigilância do Mediterrâneo.

"Vocês não podem utilizar meios de dissuasão para impedir uma pessoa de fugir para salvar sua vida", afirmou Guterres.

Segundo ele, os Estados devem "procurar as verdadeiras causas profundas, examinando as razões que levam as pessoas a fugir, o que as impede de pedir asilo por meios mais seguros, e o que pode ser feito para combater as redes criminosas que prosperam neste contexto, protegendo sempre as vítimas".

Embora o Mediterrâneo seja "a rota mais mortal do mundo" segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), a região não é a única. Pelo menos 348.000 migrantes no mundo também se arriscaram em travessias pelo mar desde o início de janeiro, um pico nunca atingido antes.

O Acnur registrou 540 vítimas das 54.000 que tentaram atravessar o Golfo de Bengala, no Sudeste Asiático, a maior parte proveniente de Bangladesh ou de Mianmar, com destino à Tailândia ou à Malásia.

No Mar Vermelho e no Golfo de Aden, pelo menos 242 pessoas perderam a vida, enquanto no Caribe, o número de mortos e desaparecidos chegou a 71 até dezembro.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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