Imprensa francesa vê isolamento de Bayrou e aposta em derrota no Parlamento com implosão do governo
A imprensa francesa dedica amplo espaço nesta quinta-feira (28) à agenda pública do primeiro-ministro François Bayrou, que tenta salvar seu governo a poucos dias de um voto de confiança decisivo.
A imprensa francesa dedica amplo espaço nesta quinta-feira (28) à agenda pública do primeiro-ministro François Bayrou, que tenta salvar seu governo a poucos dias de um voto de confiança decisivo.
Segundo Le Figaro, Bayrou busca convencer o patronato reunido no Medef — principal organização empresarial da França, que representa quase 200 mil companhias — de que está aberto a negociações sobre o orçamento, desde que consiga atravessar o teste no Parlamento.
O jornal, porém, vê pouca margem de manobra: em editorial, avalia que o premiê apenas "ganha tempo diante do inevitável", referindo-se à sua provável queda no próximo dia 8 de setembro, quando a Assembleia Nacional decidirá se mantém ou não o governo.
O Le Monde destaca o desconforto político causado pela própria decisão de Bayrou de submeter-se ao voto de confiança. O diário relata que a iniciativa foi recebida com surpresa dentro do governo e entre parlamentares da base, alimentando críticas sobre o risco de mais uma crise institucional em pleno mandato do presidente Emmanuel Macron.
O jornal observa ainda que Bayrou enfrenta um isolamento crescente: a oposição ao seu governo vai da esquerda à extrema direita, sinalizando uma batalha parlamentar de desfecho difícil.
Narrativa da "dívida pública" desmontada pela imprensa
Já o Libération coloca a questão econômica no centro do debate. Em reportagem, o jornal reúne cinco economistas para contestar a narrativa de Bayrou sobre a gravidade da dívida pública.
Especialistas como Éric Monnet, professor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e da Escola de Economia de Paris, estudioso de crises financeiras, argumentam que os indicadores não apontam para uma situação de colapso iminente. A dívida francesa, segundo ele, mantém-se em torno de 2% do PIB em encargos anuais — um patamar administrável e muito inferior ao observado historicamente em momentos de crise.
No pano de fundo, os três diários convergem: a votação marcada para 8 de setembro pode transformar Bayrou no quarto primeiro-ministro a cair em menos de um ano sob Macron, um recorde de instabilidade política na chamada "Quinta República". A convocação oficial da sessão extraordinária foi publicada nesta quinta-feira (28) no Diário Oficial da França, reforçando a expectativa de um confronto parlamentar que pode redefinir os rumos do governo francês.