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Apagão alimenta oposição a projeto de desmantelamento de centrais nucleares na Espanha

Dois dias depois do apagão maciço que atingiu a Península Ibérica, a matriz energética da Espanha está no centro do debate político no país. O projeto implementado pelo governo socialista de Pedro Sánchez, que transformou a Espanha em um dos principais países europeus em matéria de transição energética, é apontado pela oposição como responsável pela pane elétrica de segunda-feira (28).

30 abr 2025 - 11h30
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Dois dias depois do apagão maciço que atingiu a Península Ibérica, a matriz energética da Espanha está no centro do debate político no país. O projeto implementado pelo governo socialista de Pedro Sánchez, que transformou a Espanha em um dos principais países europeus em matéria de transição energética, é apontado pela oposição como responsável pela pane elétrica de segunda-feira (28).

Vendedores usam a luz de seus celulares para selecionar e registrar alimentos durante o apagão em Barcelona, ​​Espanha, na segunda-feira, 28 de abril de 2025.
Vendedores usam a luz de seus celulares para selecionar e registrar alimentos durante o apagão em Barcelona, ​​Espanha, na segunda-feira, 28 de abril de 2025.
Foto: AP - Emilio Morenatti / RFI

O debate sobre a segurança e a capacidade das energias renováveis diante da nuclear não é novo no país. 

A transição é defendida pelo primeiro-ministro Pedro Sanchez, que prometeu fechar todas as usinas nucleares em dez anos. Segundo o plano de 2019, estabelecido pelo governo espanhol e empresas proprietárias de centrais nucleares, o primeiro reator que será fechado é o de Almaraz, em Cáceres, no noroeste do país, em 2027. A partir de então, a Espanha fechará os sete reatores nucleares que mantém em cinco centrais de maneira escalonada, até finalizar o desmantelamento completo em 2035.

De acordo com a operadora da rede elétrica espanhola REE, as energias solar e eólica representaram cerca de 40% do mix de eletricidade espanhol em 2024. Uma cifra que quase duplicou desde 2014. Atualmente, a participação das renováveis é também duas vezes maior que a da energia nuclear, que caiu para 20% no ano passado.

Transição gera tensões

O objetivo de Pedro Sanches é, no entanto, uma fonte de tensão no país.

Relatórios publicados nos últimos meses destacaram possíveis riscos na ausência de medidas fortes para adaptar a rede. Em um documento financeiro anual publicado no final de fevereiro, a empresa controladora da Rede Elétrica Espanhola, a Redeia, alertou sobre "a forte penetração da produção renovável sem as capacidades técnicas necessárias para um comportamento adequado diante de interrupções". 

Isso poderia "causar cortes na produção", que "podem se tornar severos, até mesmo levando a um desequilíbrio entre produção e demanda, o que afetaria significativamente o fornecimento de eletricidade" na Espanha, escreveu. 

A mensagem foi reforçada pelo órgão regulador da concorrência espanhol (CNMC) em um relatório de janeiro. "Em determinados momentos, as tensões na rede de transmissão de energia elétrica atingiram valores máximos próximos aos limites autorizados, chegando a ultrapassá-los", escreveu a organização. 

Após o apagão de segunda-feira, alguns especialistas do setor questionaram se um possível desequilíbrio entre produção e demanda (mais difícil de corrigir em uma rede onde a energia eólica e solar são mais importantes) poderia ter contribuído para o colapso do sistema elétrico espanhol. 

Além disso, a pane elétrica aconteceu duas semanas depois da decisão de fechar temporariamente duas usinas nucleares, Almaraz I e II, e Cofrentes, devido à incapacidade de ajustar seu fornecimento ao mercado atacadista em consequência da queda de preços causada pela redução da demanda e pelo aumento da presença de energias renováveis. Ou seja, elas não eram necessárias porque eólicas e solares gerariam energia suficiente para cobrir a demanda.

Debate político

No cenário político, menos de 24 horas haviam se passado desde o início do apagão e, na manhã de terça-feira (30), tanto a governadora da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso, quanto o líder do Partido Popular nacional, Alberto Núñez Feijóo, ambos da direita, saíram em defesa da energia nuclear. 

Eles afirmaram que ela é a chave para a estabilidade do sistema elétrico espanhol. Antes disso, o Partido Popular (PP) havia apresentado, há alguns meses, um projeto de lei no Congresso para estender a vida útil das usinas nucleares, argumentando que essa medida é necessária para garantir a autonomia energética do país.

Em entrevista concedida na manhã desta quarta-feira à rádio espanhola Cadena Ser, a presidente da Redeia e da REE, a ex-deputada socialista Beatriz Corredor, porém, garantiu que a produção de energia renovável é "segura". 

"Vincular o grave incidente de segunda-feira à penetração de energias renováveis não é verdade, não é correto", insistiu ela, garantindo que o relatório de fevereiro apenas listava os riscos potenciais, conforme exigido por lei. 

Na terça-feira, Pedro Sánchez também defendeu o modelo energético implementado por seu governo, lembrando que a causa precisa do apagão que causou caos em Portugal e na Espanha durante longas horas na segunda-feira ainda é desconhecida. 

"Aqueles que associam esse incidente à falta de energia nuclear estão mentindo descaradamente ou demonstrando sua ignorância", garantiu o líder socialista. 

"As usinas nucleares, longe de serem uma solução, foram um problema" durante a interrupção porque "foi necessário redirecionar grandes quantidades de energia para elas para manter seus reatores estáveis", insistiu o chefe de governo. 

Causas desconhecidas

Várias hipóteses foram levantadas para explicar a interrupção nos últimos dois dias, incluindo a de um ataque cibernético. Na terça-feira, a justiça espanhola abriu uma investigação para determinar se a interrupção foi causada por "sabotagem informática", que poderia ser classificada como um "crime terrorista". 

Essa hipótese, no entanto, é considerada implausível pela REE. "À luz das análises que conseguimos realizar", com a ajuda do Centro Nacional de Inteligência (CNI) espanhol, "podemos descartar um incidente de segurança cibernética", garantiu o gerente. 

Segundo a REE, o equivalente a 60% do consumo de eletricidade da Espanha, ou 15 gigawatts, desapareceu em apenas cinco segundos durante a queda de energia ocorrida na segunda-feira, às 12h33. Um fenômeno descrito como "sem precedentes" e "totalmente extraordinário". 

(RFI e AFP)

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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