Alemanha mantém serviço militar voluntário e planeja reforço diante de tensões com Rússia
O Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento alemão, aprovou nesta sexta-feira (5) a manutenção do serviço militar voluntário, após um árduo debate entre os membros da coalizão sobre como reforçar um Exército que enfrenta escassez de recrutas.
Com informações de Sérgio Corrêa, correspondente da RFI em Berlim
A coligação concordou com uma versão não coercitiva do serviço militar, apesar da intenção do chanceler Friedrich Merz, do partido conservador CDU-CSU, de instituir o recrutamento obrigatório por sorteio para homens. Os conservadores enfrentaram a oposição do seu aliado, o Partido Social-Democrata, que tem uma longa tradição antimilitarista.
O novo texto estipula que todos os homens com 18 anos poderão candidatar-se ao serviço militar por um período mínimo de seis meses. Primeiro, deverão se submeter a um exame médico e preencher um questionário sobre sua disponibilidade e vontade de servir no Exército.
As mulheres também poderão alistar-se voluntariamente.
Essas medidas serão implementadas a partir de meados de 2027, de acordo com um comunicado do Ministério da Defesa, desde que sejam aprovadas pelo Bundesrat, a Câmara Alta do Parlamento alemão.
A expectativa é que a medida aumente o número de voluntários, já que o chanceler Friedrich Merz, em suas próprias palavras, ambiciona construir o "exército convencional mais poderoso da Europa" para contrabalançar a ameaça russa e compensar a retirada da proteção militar dos Estados Unidos.
O serviço militar deve permanecer voluntário "se tudo correr como esperamos", afirmou o ministro da Defesa, Boris Pistorius, durante os debates. No entanto, poderá ser necessário expandir o programa se a situação de segurança "se deteriorar" e as metas de efetivo não forem atingidas, acrescentou. Qualquer mudança exigiria nova votação no Bundestag.
O partido de extrema-direita AfD, os Verdes e o partido de esquerda Die Linke votaram contra o texto atual.
Protesto contra o cadastro de potenciais recrutas
Enquanto isso, em noventa cidades da Alemanha, estudantes do ensino médio foram às ruas nesta sexta-feira para protestar contra o plano do governo de criar um cadastro de potenciais recrutas militares.
O cadastro, que será obrigatório para homens e voluntário para mulheres que terão 18 anos daqui a dois anos, visa avaliar a aptidão física, psicológica e intelectual dos jovens e sua disposição para servir nas Forças Armadas. A ideia, segundo o Ministério da Defesa alemão, é determinar quantas pessoas poderiam ser convocadas em caso de conflito, um número que o governo atualmente não possui.
Há décadas, o Exército alemão sofre com equipamentos precários e falta de pessoal. De acordo com o governo, o Exército conta atualmente com 182 mil soldados profissionais, mas esse número deve mais que dobrar na próxima década — uma meta ambiciosa para um país que praticamente adotou o antimilitarismo.
Os objetivos da Otan exigem que a Alemanha aumente seu efetivo militar para 460 mil soldados, dos quais 260 mil seriam da ativa e 200 mil da reserva.
Parceiros europeus
Na França, o serviço militar não é obrigatório desde 1997. De lá para cá, a obrigatoriedade foi substituída por programas como o Serviço Militar Adaptado (SMA) e o Serviço Militar Voluntário (SMV), nos quais os jovens podem se engajar por alguns meses para receber formação militar, cívica ou profissional, sendo normalmente remunerados e alojados. Essas opções, no entanto, se mostraram pouco sedutoras para atrair a juventude francesa para a carreira militar.
No fim de novembro, o presidente Emmanuel Macron anunciou um novo serviço militar voluntário no país, destinado a jovens adultos e com duração de dez meses. O objetivo é atender às necessidades diante das ameaças russas e do crescente risco de conflito.
Atualmente, as Forças Armadas francesas contam com 200 mil militares na ativa e 47 mil reservistas. A meta é chegar, respectivamente, a 210 mil soldados e 80 mil reservistas até 2030.
Na Europa, os serviços militares variam conforme as nações. Nos países nórdicos, o serviço militar é obrigatório, com durações e modalidades diferentes, incluindo a participação das mulheres. Lituânia, Suécia, Letônia e Croácia restabeleceram o serviço militar nos últimos anos, motivados pelas crescentes tensões com a Rússia.
Por outro lado, países como Bélgica, Holanda, Bulgária e Romênia optaram por sistemas de recrutamento voluntário, enquanto a Alemanha planeja recrutar 20 mil voluntários até 2026.