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Em lágrimas, Knox revela medo de ser hostilizada na Itália

Americana falou sobre o famoso assassinato de Meredith Kercher

15 jun 2019 - 11h04
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A americana Amanda Knox, que realiza sua primeira viagem à Itália depois de ter sido absolvida do assassinato da estudante britânica Meredith Kercher, revelou que temia ser hostilizada e ridicularizada ao retornar ao país, além de ter medo que novas acusações contra ela fossem apresentadas por dizer sua verdade.

    "Eu sei que, apesar da minha absolvição, continuo sendo uma figura controversa para a opinião pública, especialmente na Itália", afirmou ela durante o Festival de Justiça Penal, que acontece neste sábado (15) em Modena. Durante sua participação no painel "O Processo Penal Midiático", onde "condenações injustas" são abordadas, Amanda explicou que "muitas pessoas pensam que eu sou ruim, que eu não pertenço aqui. Isso mostra como uma falsa narrativa pode ser poderosa e minar a justiça, especialmente quando amplificada pela mídia".

    Knox foi acusada pelo homicídio de Meredith, ocorrido em 1 de novembro de 2007, na cidade italiana de Perugia, onde ambas estudavam e dividiam uma casa. O corpo da jovem foi encontrado degolado, seminu e com uma série de feridas. O caso logo chamou atenção pelas circunstâncias que o envolviam.

    Ao lado do marfinense Rudy Guede, único condenado em definitivo pelo crime, Knox e seu então namorado, o italiano Raffaele Sollecito, foram acusados de matar a britânica em meio a discussões sobre a limpeza da casa e jogos sexuais que fugiram do controle - hipótese descartada posteriormente. Na época, o caso ganhou repercussão midiática de grande proporção. Durante o evento, Knox foi apresentada por Guido Sola, um advogado e um dos organizadores da conferência, como um exemplo de alguém que está sendo julgado pela mídia, vítima de um "linchamento midiático", cuja culpa foi decidida em um tribunal de opinião pública.

    Knox e Sollecito chegaram a ser sentenciados após o DNA da americana ter sido encontrado em uma faca com o sangue da vítima e ficaram presos na Itália até 2011, quando a Corte de Cassação, tribunal supremo do país, anulou o processo por falhas na perícia. No mesmo dia em que foi libertada, Amanda voltou para a casa de sua família, em Seattle, e nunca mais pisou na Itália. Visivelmente emocionada e em lágrimas, a americana lamentou um sistema que era alimentado pela "fantasia dos tabloides". Ela culpou os meios de comunicação, locais e internacionais, por não terem pesquisado o caso mais a fundo para revelar as falhas da promotoria.

    "Eu nunca fui um réu, inocente até que se prove a culpa", disse ela sobre a percepção do público. "Eu era astuta, uma psicopata, suja, vadia, culpada até provar o contrário", lamentou.

    Segundo ela, esta versão distorcida entrou no tribunal, comprometendo o resultado de seu julgamento. No entanto, a lição mais importante que aprendeu foi que era fácil para o público "transformar réus em monstros".

    "É fácil ver o que queremos ver", acrescentou Knox, reduzindo casos criminais a "histórias em preto e branco povoadas por demônios e santos".

    "Eu não tinha motivação para matar minha amiga, zero vestígios do meu DNA estavam na cena do crime. Então ouvi o juiz pronunciar as palavras 'culpada'. O veredicto caiu sobre mim como um peso esmagador , eu não conseguia respirar", relembrou.

    Amanda relatou que "era inocente, mas o resto do mundo havia decidido que era culpada. Eles tinham reescrito a realidade.

    Passado, presente, futuro não importava mais". Além disso, ela disse que a mídia criou uma história para esse caso.

    "Eu não absolvo a mídia que coletou um imenso lucro" desta história e "até hoje eles tratam minha vida como conteúdo para sua renda. Não é suficiente para eu ter meu caso concluído bem", indagou.

    Assassinato - Amanda relembrou o caso com riqueza de detalhes e voltou a acusar o marfinense Rudy Guede, único condenado em definitivo pelo crime. "Em 1 de novembro de 2007, um ladrão, Rudy Guede, entrou em meu apartamento, estuprou e matou Meredith. Ele deixou vestígios de DNA e impressões digitais. Ele fugiu do país, foi julgado e condenado. Apesar disso, um número significativo de pessoas não ouviu seu nome, isso porque os promotores, a polícia e os jornalistas se concentraram em mim", ressaltou. A atual jornalista e escritora ainda disse que, na ocasião, "os jornalistas pediram para prender um culpado" e ela foi a investigada enquanto Guede fugiu".

    "Estou pensando no meu promotor, Giuliano Minnini. Gostaria de ter um encontro cara a cara com ele, fora do papel do bem e do mal. Espero que, se isso acontecer, ele também possa ver que eu não sou um monstro, mas simplesmente Amanda", acrescentou. Ao ser questionada sobre o desejo de fazer justiça por Meredith, ela respondeu: "Não. Não está mais viva".

    Por fim, Amanda afirmou que, na Itália, conheceu "a tragédia e o sofrimento, mas apesar disso ou talvez por isso a Itália se tornou parte de mim". "Muitas pessoas pensam que eu sou louca por ter vindo aqui, me disseram que seria atacada nas ruas, que serei falsamente acusada e enviada de volta à prisão. Estou com medo", finalizou.

    Amanda já escreveu um livro sobre o crime mais emblemático da Itália e ajudou a produzir um documentário da Netflix sobre o tempo que ficou detida e sua experiência ao ser acusada pelo assassinato. O festival de três dias, organizado pelo Projeto Inocência da Itália e pela Ordem dos Advogados Criminosos em Modena, discutiu "temas complicados" sobre justiça criminal.

Ansa - Brasil   
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