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Deslizamento na Guatemala: 'Tragédia anunciada' deixa centenas de desaparecidos

3 out 2015 - 18h41
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Dias de chuva intensa haviam "preparado o terreno". E a região, vulnerável, não aguentou mais e cedeu. O deslizamento de terra começou às 21h30 (horário local) da última quinta-feira na Guatemala, e as consequências dele podem ser sentidas até hoje.

Operação de resgate segue em busca de mais sobreviventes
Operação de resgate segue em busca de mais sobreviventes
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Parte de um terreno de 100 metros de altura entrou em colapso em uma área humilde do país chamada Santa Catarina Pinula, 15 km ao sul da Cidade da Guatemala.

Quase dois dias depois da tragédia, o saldo de mortos ainda não é definitivo. Por enquanto, foram 44 vítimas fatais, segundo o Ministério Público local, enquanto pelo menos 350 pessoas seguem desaparecidas, de acordo com a Coordenadoria Nacional para Redução de Desastres (Conred).

Mas a tragédia já estava anunciada há algum tempo. Autoridades locais garantem terem advertido os moradores da região em 2008 de que aquela era uma área de risco – e o último aviso teria sido dado no fim do ano passado.

Um relatório solicitado pelas autoridades confirmava a instabilidade do terreno devido à erosão que afetava as ladeiras da encosta.

Com o tempo, as enchentes do rio Pinula, que corre atrás do morro, fizeram com que a área sofresse de "solapamento e erosão em terrenos e moradias", de acordo com esse relatório oficial. Mas nada mudou. E menos de um ano depois, a terra cedeu.

A intensa temporada de chuvas, que começou em maio e deixou quase meio milhão de desabrigados, acabou desencadeando o a tragédia.

"Essa é uma de tantas tragédias que acontecem na Guatemala (…). Somos muito vulneráveis a esse tipo de catástrofes, que têm acontecido em todas as partes", disse o membro da Conred, Alejandro Maldonado.

Segundo ele, o deslizamento aconteceu por uma "combinação de fatores", sendo a erosão e algumas redes de esgoto ilegais como os principais deles.

E ainda há medo de que algo parecido volte a acontecer.

Calcula-se que até 300 mil pessoas na área metropolitana da capital residam em condições similares às dos moradores de Santa Catarina Pinula.

Ainda há mais 230 assentamentos considerados "de risco", localizados em barrancos ou ladeiras de terra em condições instáveis.

Situação

Segundo a porta-voz do Ministério Público, Julia Barrera, somente 20 das 44 vítimas fatais já foram identificadas.

As autoridades já disseram que a quantidade de mortos deverá aumentar nos próximos dias.

O deslizamento também deixou 34 feridos, outras 48 pessoas estão sendo tratadas em abrigos e 125 casas sofreram danos graves na aldeia de El Cambray II em Santa Catarina Pinula.

Bombeiros, militares, socorristas e até voluntários participam das buscas – são cerca de 1.200 pessoas na operação de resgate.

Com a ajuda de escavadeiras, de pás e de cães, eles tentam encontrar mais sobreviventes da tragédia.

Neste sábado, também foi resgatado Noé Arévalo, um bombeiro voluntário que acabou soterrado durante a noite quando trabalhava nas buscas. Segundo David Cajas, membro do grupo de Bombeiros Voluntários, Arévalo tinha acabado de tirar três corpos dos escombros quando foi soterrado.

A quantidade de pessoas que estava na região no momento do deslizamento ainda não está clara, e as autoridades explicaram que havia muita gente morando ali de maneira irregular e, por isso, é difícil saber com exatidão o número de moradores da área.

O presidente da Guatemala, Alejandro Maldonado – pai do membro do Conred – esteve acompanhando de perto as buscas.

Ele lamentou o "incidente infeliz" e pediu cooperação para solucionar essa "emergência".

Testemunhas do drama

"Meu marido está agora aqui com uma pá cavando a terra para encontrar nosso filho", disse Marta Guitz, uma jornalista da agência Reuters.

"Quando chegamos, encontramos a passagem fechada e nossa casa soterrada. Meu filho Dany David González, de 17 anos, estava lá dentro, nos esperando para jantar."

Outra testemunha, Marleni Pu, de 25 anos, relatou que ela e seus familiares perderam tudo. "Estamos todos aqui, tios, primos, sobrinhos, toda a minha família. São seis casas no total dos meus parentes que acabaram embaixo da terra", disse à AP.

Testemunhas do desastre contaram terem escutado um grande estrondo seguido de uma imensa nuvem de poeira.

No ano passado, a temporada de chuvas na Guatemala – que vai de maio a novembro – terminou com 29 mortos e afetou quase 10 mil casas. A deste ano é a mais devastadora. E o saldo será ainda mais trágico.

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