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Coronavírus: Itália cancela futebol e Carnaval e isola cidades após 7 mortes

Epicentro do surto, China ainda concentra maior número de casos, mas outros países começaram a registrar picos da doença e, por extensão, enfrentar dificuldades para contê-la.

24 fev 2020 - 07h25
(atualizado às 16h57)
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Policiais com máscara em meio ao carnaval de Veneza
Policiais com máscara em meio ao carnaval de Veneza
Foto: Reuters / BBC News Brasil

A fim de tentar conter o avanço do surto do novo coronavírus do país, autoridades italianas decidiram encerrar dois dias mais cedo o carnaval de Veneza e adiar jogos de futebol da divisão principal na região de Milão.

A Itália é o lugar com mais casos da doença na Europa: mais de 200 pessoas doentes e sete mortas. Nos últimos dias, autoridades têm adotado diversas medidas, como quarentenas, em duas zonas "quentes" próximas a Milão e Veneza.

Cerca de 50 mil pessoas não podem entrar ou sair de diversas cidades nas regiões de Veneto e Lombardia nas próximas duas semanas, salvo com autorizações especiais.

O temor em torno da doença afetou até mesmo cidades que estão fora dessa zona, com comércio fechado e aulas suspensas.

Na fronteira com a Áustria, um trem oriundo de Veneza foi parado depois que dois passageiros apresentaram febre, um dos principais sintomas do novo coronavírus (rebatizado de Covid-19), junto a tosse e falta de ar.

"As autoridades agiram rapidamente e com bastante cuidado nesse episódio", afirmou o ministro do Interior austríaco, Karl Nehammer, à BBC. Mas os dois casos posteriormente acabaram descartados como sendo infecções pelo Covid-19.

Epicentro do surto, a China ainda concentra o maior número de diagnósticos confirmados, mas outros países começaram a registrar picos da doença e, por extensão, enfrentar dificuldades para contê-la.

Em "alerta máximo", a Coreia do Sul é o segundo lugar com mais diagnósticos confirmados (763), seguida da Itália, com 157. O Irã é o segundo país com mais mortes: 8.

pessoa fantasiada e com máscara
pessoa fantasiada e com máscara
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Até agora, 2.619 pessoas morreram em decorrência do Covid-19, que surgiu em dezembro na província chinesa de Hubei. Segundo o estudo mais amplo já feito sobre a nova doença, a taxa de mortalidade dela gira em torno de 2% (ou seja, ela mata 2 a cada 100 pessoas infectadas).

A falta de conexão clara entre casos ao redor do mundo e a China ampliaram os temores da Organização Mundial da Saúde de uma eventual perda de controle do surto.

O que está acontecendo na Itália?

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, anunciou no sábado (22) a implementação de "medidas extraordinárias" para tentar conter o número crescente de casos de Covid-19.

Segundo ele, as quarentenas podem durar semanas.

Tanto a polícia quanto as Forças Armadas têm autoridade para "garantir" que as medidas sejam respeitadas. Moradores foram orientados a só saírem de suas residências em caso de extrema necessidade.

Angelo Borrelli, chefe do departamento de proteção civil da Itália, afirmou a jornalistas que 110 dos casos confirmados no país se deram na região de Lombardia, cuja capital é Milão.

Uma idosa foi a terceira pessoa a morrer no país, no domingo (23). Segundo estudo feito sobre milhares de dados do Centro de Prevenção e Controle de Doenças da China, mais de 80% dos casos são brandos, e grupos de risco envolvem pessoas com doenças pré-existentes e mais velhas — a mais alta taxa de mortalidade atinge quem tem 80 anos ou mais: 14,8%.

Sem conseguir identificar o "paciente zero" (a primeira pessoa infectada) no país ou monitorar a cadeia de transmissão da doença, autoridades italianas passaram a adotar medidas cada vez mais restritivas em duas províncias: Veneto e Lombardia.

"A partir desta noite, vamos paralisar o Carnaval e todos os eventos esportivos até 1º de março", afirmou o presidente regional de Veneto, Luca Zaia.

Diversos jogos de três divisões de futebol do país previstos para o fim de semana acabaram adiados. Há preocupações em torno de partidas de campeonatos europeus, que atraem milhares de torcedores estrangeiros.

Milão decidiu também suspender aulas em universidades e escolas. "Vou propor ao presidente de nossa região que estenda a medida para nossa região metropolitana inteira. É só uma preocupação, não queremos criar pânico", afirmou o prefeito milanês, Giuseppe Sala.

Parte da plateia do desfile da Dolce & Gabbana usou máscaras
Parte da plateia do desfile da Dolce & Gabbana usou máscaras
Foto: AFP / BBC News Brasil

Na vizinha Lissone, a professora de inglês Colette Walsh afirmou à BBC que as prateleiras dos supermercados estão vazias em meio ao pânico da população. "É surreal, nunca vi algo assim."

Desfiles de moda foram afetados também. O da Armani não teve presença da mídia ou de clientes, e o da Dolce & Gabbana ficou esvaziado, com algumas pessoas usando máscara.

O que está acontecendo na Coreia do Sul?

No domingo, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, afirmou que o país está enfrentando um momento crítico, e que os próximos dias são cruciais na batalha para conter o surto.

A Coreia do Sul registrou 763 casos de Covid-19 e sete mortes. "O governo elevou o alerta ao nível máximo seguindo orientação de especialistas", afirmou Moon.

Área em torno do lugar onde grupo religioso se encontrava foi desinfetada
Área em torno do lugar onde grupo religioso se encontrava foi desinfetada
Foto: AFP/Getty Images / BBC News Brasil

Autoridades de saúde do país afirmam que o pico de casos está ligado a um hospital e a uma filial da Igreja Shincheonji na cidade de Daegu.

Fundada em 1984 pelo sul-coreano Lee Man-hee, que se descreve como "o pastor prometido" mencionado na Bíblia, a Shincheonji é uma polêmica seita cristã. Em razão do avanço do coronavírus, a instituição disse ter fechado sua unidade em Daegu e que serviços em outras regiões seriam mantidos online ou individualmente, em domicílio.

Nos 169 novos casos anunciados no domingo, 95 estão ligados à Shincheonji. Ao todo, 329 registros foram associados à filial dessa igreja em Daegu.

"As ruas de Daegu, a quarta maior cidade do país, parecem abandonadas. Uma ou duas pessoas, cobertas da cabeça aos pés e de máscaras, passam em frente a lojas fechadas. A maioria está em casa", descreve Laura Bicker, correspondente da BBC na Coreia do Sul.

Segundo ela, o diretor do hospital da Universidade Keimyung, Chi-Heum Cho, afirmou esperar que o surto possa ser contido no país até a semana que vem.

O que está acontecendo no Irã e na China?

O Irã divulgou no domingo que registrou 43 casos do novo coronavírus no país, a grande maioria na cidade sagrada de Qom. Oito pessoas morreram.

Iraque, Paquistão, Armênia e Turquia decidiram fechar as fronteiras com o Irã, e o Afeganistão suspendeu todo tráfego aéreo e viário com o país vizinho.

Presidente chinês descreveu surto de coronavírus como a "maior emergência de saúde pública" recente do país
Presidente chinês descreveu surto de coronavírus como a "maior emergência de saúde pública" recente do país
Foto: EPA / BBC News Brasil

Para especialistas, o número de pessoas infectadas no Irã pode ser muito maior que o divulgado pelo governo, em razão da taxa de mortalidade calculada na China (2 mortos a cada 100 infectados) — ou seja, se a proporção mortos/infectados for a mesma no território iraniano, deve haver centenas de pessoas doentes ali.

Na China, o presidente Xi Jinping descreveu o surto de coronavírus como a "maior emergência de saúde pública" da história recente do país e ressaltou avanços no combate à doença.

No sábado, autoridades chinesas divulgaram uma queda do número de mortes e novos casos.

Até agora, 97% dos casos foram registrados na China, ou 77.150 dos 79.360. Ao menos 2.495 pessoas morreram em decorrência do Covid-19 na província de Hubei.

Quase 100 mil pessoas que tiveram contato com pacientes infectados estão sob monitoramento das equipes de saúde do país.

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