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Cloroquina agrava situação de pacientes com Covid, diz estudo

Tratamento de 96 mil pacientes foi analisado por pesquisadores

22 mai 2020 - 12h28
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O maior estudo já realizado sobre os efeitos da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de pessoas que contraíram o novo coronavírus (Sars-CoV-2), realizado com mais de 96 mil pessoas em todo o mundo, mostrou que os medicamentos não apresentam benefícios para os pacientes.

    Pior ainda, eles aumentam o risco de morte por problemas cardíacos.

    "Este é o primeiro estudo em larga escala a encontrar evidências robustas estatisticamente falando de que o tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina não traz benefícios a pacientes com Covid-19", ressalta o documento.

    Publicada na revista científica "The Lancet", a pesquisa compreende dados recolhidos de prontuários médicos de 96.032 pacientes em 671 hospitais em seis continentes, sendo que as pessoas estavam internadas entre os dias 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril de 2020, com teste positivo para o Sars-CoV-2.

    Foram analisados "os pacientes que receberam um dos tratamentos de interesse dentro de 48 horas do diagnóstico e que incluíam um dos quatro grupos de tratamentos (apenas cloroquina, cloroquina com um macrólido [um antibiótico], apenas hidroxicloroquina, ou hidroxicloroquina com um macrólido), e pacientes que não receberam nenhum desses medicamentos formaram o grupo de controle". Segundo os pesquisadores, aqueles que receberam os tratamentos após as 48 horas iniciais ou enquanto estavam em ventilação mecânica, ou ainda quem recebeu o remdesivir, um remédio que vem mostrando bons resultados no tratamento, foram excluídos do estudo.

    A idade média dos pacientes era de 53,8 anos e 46,3% deles eram do sexo feminino. Ainda conforme o texto publicado na revista científica, 63.315 pacientes estavam na América do Norte, 16.574 na Europa, 7.555 na Ásia, 4.402 na África, 3.577 na América do Sul e 609 na Austrália.

    Dos analisados, 14.888 estavam nos quatro grupos de tratamento e outros 81.144 pertenciam ao grupo de controle. Ao todo, 10.698 (11,1% do total) morreram por conta da Covid-19.

    Dos que receberam os tratamentos com a medicação, 1.868 receberam apenas cloroquina, 3.783 cloroquina + antibiótico, 3.016 tomaram a hidroxicloroquina e 6.221 a hidroxicloroquina com macrólido.

    Os estudiosos informaram, então, as taxas de mortalidade dos cinco grupos observados considerando os fatores de risco já conhecidos para o agravamento da doença, como idade e comorbidades.

    Do grupo de controle, ou seja, aqueles que não usaram nenhum dos dois medicamentos, a taxa ficou em 9,3% de óbitos. Entre os que tomaram apenas a hidroxicloroquina, o dado subiu para 18% e para quem usou a hidroxicloroquina mais um macrólido, o índice ficou em 23,8%. Já a cloroquina teve resultados melhores do que o de seu derivado: a taxa de letalidade ficou em 4,3% para uso só da substância e de 6,5% para a combinação com antibiótico. No entanto, os pesquisadores alertaram que o uso dela provocou, mesmo que não em termos fatais, um aumento de casos de arritmias cardíacas durante a hospitalização.

    Além de não ajudarem na cura do novo coronavírus, os dois remédios aumentaram a chance de graves problemas de saúde. A hidroxicloroquina provoca uma aumento de 34% no risco de morte e de 137% no risco de arritmias graves, quando usada sozinha, e de 45% e 411%, respectivamente, quando usada com macrólidos.

    A cloroquina sozinha aumenta a chance de morrer em 37% e de ter problemas cardíacos graves em 256%. Com antibiótico, ela mantém os 37% de risco de morte e de 301% no desenvolvimento de arritmias.

    "Nós não conseguimos confirmar um benefício da hidroxicloroquina ou da cloroquina, quando usadas sozinhas ou com macrólidos, em internações hospitalares por Covid-19. Cada uma dessas drogas foram associadas com a diminuição da chance de sobrevivência e um aumento na frequência de arritmias cardíacas quando usadas para o tratamento da Covid-19", relata o estudo.

    O medicamento voltou a ganhar destaque nas últimas semanas tanto nos Estados Unidos, com a revelação do próprio presidente Donald Trump de que está tomando o medicamento como prevenção - o que não é recomendado por nenhuma agência de saúde, inclusive a de seu governo, como no Brasil.

    Há dois dias, o Ministério da Saúde criou um novo documento com a autorização de uso da cloroquina para pacientes com casos leves da Covid-19, desde que haja o consentimento do paciente. A insistência de Jair Bolsonaro com o medicamento, inclusive, é apontada como a principal causa do ex-ministro da Saúde Nelson Teich ter deixado o cargo.

Ansa - Brasil   
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