Baixa participação marca eleições legislativas em Hong Kong após tragédia com incêndio
Os eleitores de Hong Kong compareceram em pequeno número às urnas neste domingo (7) para escolher seus representantes no Conselho Legislativo, órgão que funciona como um parlamento local e pode formular e modificar leis. As eleições são rigidamente controladas por Pequim. Os esforços do governo para incentivar a participação foram ofuscados pelo incêndio recente que deixou 159 mortos.
As autoridades estenderam o horário de funcionamento das seções eleitorais (das 7h30 às 23h30), e os trens circularam até mais tarde no território, que está repleto de cartazes de campanha há semanas.
A taxa de participação foi de 31,9%, de acordo com o gabinete eleitoral da cidade, ligeiramente superior ao pleito de 2021, que contou com uma participação fraca.
Esta eleição ocorre novamente sem os dois principais partidos pró-democracia: o Partido Cívico, dissolvido em 2023, e o Partido Democrático, em declínio.
O sistema eleitoral de Hong Kong foi reformado pelas autoridades chinesas em 2021 para garantir que apenas "patriotas" pudessem ocupar cargos públicos. O número de assentos eleitos diretamente no Conselho Legislativo foi reduzido — atualmente são 20 de 90.
A mudança aconteceu após protestos pró-democracia generalizados, às vezes violentos, que abalaram a antiga colônia britânica. Hong Kong foi devolvida à China e hoje é um território com status especial.
A campanha eleitoral foi interrompida no final de novembro, pouco depois de um incêndio devastar torres de apartamentos em Wang Fuk Court, no norte de Hong Kong.
Poon, uma mulher cujo apartamento foi destruído pelas chamas, disse à AFP que a tragédia deve ser investigada a fundo, que os responsáveis devem ser punidos e que os próximos membros do parlamento devem fiscalizar as ações do governo.
"Algumas vozes da oposição, se realmente amam o seu país e Hong Kong, devem ter a oportunidade de se manifestar", afirmou Kitty Lau, outra moradora, de cerca de sessenta anos, que testemunhou o incêndio de sua casa.
"Seu voto é um voto que impulsiona reformas e protege aqueles afetados pelo desastre", declarou o chefe do Executivo, John Lee, a repórteres após votar, incentivando a população a fazer o mesmo.
Jacky Lam, professora de 56 anos, acredita que a principal prioridade do governo deve ser encontrar soluções adequadas de realocação e que os legisladores "devem se reunir regularmente com os moradores para ouvir suas opiniões".
John Lee indicou que o governo discutirá medidas de auxílio e reconstrução durante a primeira sessão do novo Conselho Legislativo. Ele já havia anunciado a criação de uma "comissão independente", presidida por um juiz, para investigar o incêndio que devastou sete prédios em reforma.
Eleitores presos
A agência anticorrupção de Hong Kong informou que prendeu quatro pessoas no domingo por incitarem outras a não votar ou a votar de forma inválida, elevando o número total de prisões para 11.
A polícia, por sua vez, deteve pelo menos 15 funcionários de diversas construtoras como parte da investigação sobre os incêndios de 26 de novembro e, aparentemente, pelo menos três pessoas suspeitas de "sedição".
Também foi relatada no sábado a prisão de um homem de 71 anos por "obstruir uma investigação de segurança nacional", um caso inédito em Hong Kong.
No sábado (6), o Escritório de Segurança Nacional da China no território (NSO) intimou representantes de veículos de imprensa internacionais, incluindo a AFP, acusando-os de disseminar informações falsas na cobertura do incêndio.
Antes de 2021, as eleições legislativas eram marcadas por confrontos violentos entre apoiadores de Pequim e defensores da democracia, com estes últimos frequentemente conquistando cerca de 60% dos votos.
Mas, em 2020, o governo chinês impôs uma lei de segurança nacional que reprime particularmente a dissidência, depois que Hong Kong foi abalada no ano anterior por protestos em larga escala.
Desde então, alguns legisladores pró-democracia foram presos, outros renunciaram e outros ainda fugiram de Hong Kong.
Com AFP