Enquanto Brasília negocia fim do tarifaço, Casa Branca corta tarifas de produtos rivais
O Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, esteve com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, nesta quinta-feira (13) para tentar reverter o tarifaço de 50% imposto em julho a uma série de produtos brasileiros. Segundo o chanceler brasileiro, Rubio demonstrou interesse pessoal e do governo Trump em avançar rapidamente, e afirmou que um acordo provisório poderia ser fechado em poucas semanas, enquanto negociações mais profundas levariam de dois a três meses.
Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
Após o encontro, tanto Marco Rubio quanto Mauro Vieira reforçaram publicamente o tom positivo das conversas.
Em uma postagem nas redes sociais, acompanhada de uma foto ao lado do chanceler brasileiro, Rubio afirmou: "Me reuni hoje com o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, no Departamento. Discutimos assuntos de importância mútua e um marco recíproco para a relação comercial entre os Estados Unidos e o Brasil."
Met with Brazilian Foreign Minister Mauro Vieira at the Department today. We discussed matters of mutual importance and a reciprocal framework for the U.S.-Brazil trade relationship. pic.twitter.com/SoJzYUvlF4
— Secretary Marco Rubio (@SecRubio) November 14, 2025
Vieira também falou à imprensa logo após a reunião. O ministro confirmou que o Brasil aguarda uma resposta dos Estados Unidos sobre um "mapa do caminho"que deverá orientar as negociações bilaterais destinadas a resolver as pendências comerciais entre os dois países. "Apresentamos nossas propostas para a solução das questões. Agora estamos esperando que eles nos respondam", disse o chanceler.
Rubio teria dito a Vieira que a proposta brasileira já está sendo analisada e que um retorno deve vir "muito rapidamente", ainda esta semana ou no início da próxima. Segundo o chanceler, o secretário de Estado também mencionou comentários do presidente Donald Trump, que teria dito que gostou muito do encontro com o presidente Lula na Malásia e manifestado vontade de avançar na solução das questões comerciais.
Vieira afirmou que o objetivo dos dois países é concluir até o fim deste mês um acordo provisório que estabeleça um roteiro formal para as negociações finais sobre o tarifaço.
Enquanto o Brasil negocia, Washington reduz tarifas para concorrentes
Mas esse avanço acontece num contexto complexo. No mesmo dia em que recebeu Mauro Vieira, a Casa Branca anunciou novos acordos comerciais com Argentina, Guatemala, El Salvador e Equador, justamente países cujos produtos competem diretamente com as exportações brasileiras nos Estados Unidos.
Os novos pactos, segundo o governo americano, visam baratear itens essenciais para o consumidor em um momento em que o custo de vida domina o debate político. As tarifas dos EUA serão de 15% para produtos do Equador e de 10% para os outros três países, com isenção total para bens que não são produzidos em solo americano.
A lógica é interna: os alimentos ficaram mais caros, e Trump quer reduzir preços em áreas sensíveis. Segundo o secretário do Tesouro, Scott Bessent, o foco das isenções será exatamente em "coisas que não cultivamos aqui", como café, banana e outras frutas — itens cujo preço vem pressionando a inflação. "O consumidor vai sentir os preços caírem muito rapidamente", afirmou Bessent à Fox News.
Os acordos anunciados com Guatemala, El Salvador e Equador reduzem tarifas de produtos-chave como banana e café. No caso da banana, o efeito sobre o Brasil é limitado, pois cerca de 95%da produção brasileira fica no mercado interno. Mas no café, o impacto é direto e significativo. Os Estados Unidos são os maiores consumidores de café do mundo e o principal cliente do café brasileiro. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), no ano passado o país importou 1,6 milhão de toneladas de café verde e torrado. Desse total, mais de 8,1 milhões de sacas de 60 quilos vieram do Brasil, o que consolida os EUA como destino número um do café brasileiro.
Outro acordo relevante é com a Argentina, que deve ganhar acesso preferencial para exportar carne para os Estados Unidos. Isso também afeta o Brasil, que exportou 147 mil toneladas de carne bovina para os EUA entre janeiro e setembro de 2024, com receita de 867,4 milhões de dólares, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). Os Estados Unidos já são o segundo principal destino das exportações brasileiras de carne bovina.
Anúncio para o Brasil pode estar próximo
Apesar desses movimentos paralelos, o clima político em Washington indica que um anúncio positivo para o Brasil pode estar próximo. Ao sancionar a lei que encerrou o shutdown nesta quarta-feira (12), Trump afirmou que continuará empenhado em reduzir o custo de vida e tornar a América "acessível novamente". Uma das ferramentas para isso tem sido justamente o reajuste de tarifas de produtos importados.
A Casa Branca não confirmou os detalhes do novo recuo sobre o tarifaço, mas o porta-voz Kush Desai afirmou que "a administração Trump está comprometida em perseguir uma estratégia ágil, sofisticada e multifacetada em comércio e tarifas".
Com inflação de alimentos pressionando e o preço do café acumulando alta de quase 19% em setembro segundo o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, o governo corre para mostrar resultados rápidos ao eleitor. Nesse contexto, ao que tudo indica, os ventos da política interna americana poderiam dar o "empurrãozinho" que faltava para que Mauro Vieira volte para casa com boas notícias.