Alta no nº de casos de Covid eleva pressão por medidas na Itália
Governo debaterá novas regras para evitar avanço da doença
As novas infecções pelo coronavírus Sars-CoV-2 na Itália ultrapassaram a marca inédita de mais de 10 mil no período de 24 horas nesta sexta-feira (16) e aumentaram a pressão contra o governo italiano para decretar mais medidas restritivas para conter o avanço da segunda onda da doença.
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, descarta impor um segundo lockdown nacional, apesar do crescimento nos números da pandemia nos últimos dias. No entanto, diversas regiões têm agido de forma unilateral e anunciado novas regras de prevenção.
A Lombardia, epicentro da Covid-19 no país, alterou o horário de funcionamento de bares e restaurantes, suspendeu competições esportivas amadoras que tenham contato físico e proibiu o consumo de bebidas e alimentos em locais públicos.
Já a Campânia, terceira região mais populosa da Itália, anunciou um toque de recolher para o último fim de semana de outubro, quando se celebra o Halloween, além de determinar o fechamos das escolas da região, o que provocou a ira da ministra da Educação, Lucia Azzolina.
O Piemonte decidiu fechar todas as atividades comerciais no período entre meia-noite a 5h, enquanto que o governo nacional ainda debaterá a possibilidade de decretar novas regras.
Ontem (15), o Instituto Superior da Saúde (ISS), órgão submetido ao governo italiano, alertou que a pandemia está em uma fase aguda, e o vírus já está circulando novamente em todo o território, o que é preciso ter cautela. Segundo o relatório semanal, 18 regiões estão com o índice de transmissão (Rt) superior a 1.
"Dada a gravíssima situação de circulação do vírus, indicamos encerramentos direcionados em regiões com circulação Sars-Cov2 muito elevada, visando permitir a realização de atividades escolares e produtivas. Os encerramentos, em áreas onde o índice de contágio é superior a 1 , terá que se referir a pontos de encontro como clubes, academias e estabelecimentos comerciais não essenciais", explicou Walter Ricciardi, representante italiano na Organização Mundial da Saúde (OMS).
Tendo em vista o avanço da doença no país, o presidente da Federação Nacional das Ordens dos Médicos da Itália (Fnomceo), Filippo Anelli, também fez um apelo ao governo para que introduza medidas mais restritivas e aos cidadãos para que sigam as regras com sentido de responsabilidade.
"Uma vez ultrapassado o limite de 10 mil infecções são necessárias medidas mais restritivas. Apelamos ao sentido de responsabilidade dos cidadãos", afirmou Anelli, acrescentando que o "que preocupa acima de tudo é a lotação da UTI, que já sofre em algumas regiões" "É por isso que devemos ter cautela para não infectar os sujeitos mais frágeis e com maior risco de complicações", enfatizou o presidente da Fnomceo.
Em entrevista à ANSA, o físico Enzo Marinari, da Universidade Sapienza de Roma, por sua vez, explicou que "neste momento a curva de contágio está crescendo rapidamente e apontando decididamente para cima, mas não se sabe onde está, pois dependerá das medidas de segurança adotadas".
A pressão por novas medidas será tema de uma reunião convocada pelos ministros da Saúde, Roberto Speranza, e de Assuntos Regionais, Francesco Boccia, para este sábado (17). O endurecimento das restrições, porém, é tema de divisão no país.
O Partido Democrático (PD) está preocupado com o aumento de infecções e pediu para o governo italiano avaliar novas medidas nacionais de contenção da infecção, revelaram fontes da legenda.
Enquanto isso, o ex-ministro do Interior da Itália Matteo Salvini, do partido de extrema direita Liga Norte, disse esperar que "ninguém pense em fechar tudo, porque seria um desastre econômico, cultural e social". Ele pediu cautela e atenção para o governo na hora de decidir e ressaltou que "quem disser que talvez haja um lockdown no Natal, comete um crime contra o povo italiano".
"Os italianos esperam do governo clareza e certeza, não suposições e ideias. Talvez ou veremos, não é permitido", finalizou Salvini.
Medidas debatidas -
A expectativa é de que o governo italiano anuncie novas medidas restritivas no país nos próximos dias, como consequência do crescimento nos números diários de casos e mortes.
Entre as hipóteses que devem ser discutidas neste sábado (17) estariam obrigatoriamente o smart working (um percentual a definir), a paralisação dos eventos e uma nova regra para atividades esportivas, incluindo ginásios e esportes de contato, bem como a introdução de ensino à distância nas escolas, intercalando com aulas presenciais.
Além disso, alguns ministros defendem uma espécie de toque de recolher, com todos os estabelecimentos fechados a partir das 22h ou 23h (horário local).
Conte, por sua vez, mantém a ideia de que as medidas devem ser "proporcionais": "Esta onda não é menos perigosa mas devemos enfrentá-la com uma estratégia diferente, que não inclui mais o lockdown", reitera.
O premiê italiano fez um apelo por uma estratégia comum com a União Europeia (UE) para evitar a "destruição para todos" e anunciou entre 200 ou 300 milhões de doses de vacinas "muito em breve".