Investigação indica uso de armas químicas em ataques do exército sudanês contra paramilitares
Uma investigação publicada na quinta-feira (9) pelo canal de televisão francês France 24 fornece, pela primeira vez, evidências do uso de armas químicas pelo exército sudanês contra forças paramilitares. A guerra no Sudão devasta o país há mais de dois anos. Em maio passado, os Estados Unidos acusaram o Sudão de ter usado armas químicas em 2024 contra a milícia das Forças de Apoio Rápido (RSF), mas nenhuma prova havia sido apresentada para sustentar as alegações, que o exército sudanês nega.
Uma investigação publicada na quinta-feira (9) pelo canal de televisão francês France 24 fornece, pela primeira vez, evidências do uso de armas químicas pelo exército sudanês contra forças paramilitares. A guerra no Sudão devasta o país há mais de dois anos. Em maio passado, os Estados Unidos acusaram o Sudão de ter usado armas químicas em 2024 contra a milícia das Forças de Apoio Rápido (RSF), mas nenhuma prova havia sido apresentada para sustentar as alegações, que o exército sudanês nega.
O governo informou, em setembro, que uma investigação interna não encontrou "nenhuma evidência" de contaminação química no estado de Cartum. No entanto, a investigação conduzida pelo Les Observateurs, o serviço de verificação de fatos da equipe editorial da France 24, sediada em Paris, revelou que o exército teria lançado dois barris de cloro em setembro de 2024, nas proximidades da refinaria de petróleo de al-Jaili, ao norte de Cartum — a maior instalação do país —, então controlada pelas RSF, comandadas pelo general Mohamed Daglo.
A investigação, baseada em dados públicos, vídeos publicados em redes sociais e análises de cinco especialistas, mostra um barril de cloro aparentemente lançado de uma aeronave em 5 de setembro de 2024, que caiu sobre a base militar de Garri, localizada perto de al-Jaili. Com o impacto, uma espessa nuvem amarela foi liberada — característica da presença de cloro, segundo os especialistas.
A origem desse barril foi rastreada até uma empresa indiana que, supostamente, o teria enviado em agosto de 2024 para a cidade portuária de Port Sudan, atual sede interina do governo. Entrevistada pela France 24, a empresa afirmou que o produto era destinado "exclusivamente ao tratamento de água potável". A investigação também menciona um segundo barril lançado em 13 de setembro de 2024 sobre a base petrolífera de al-Jaili.
Somente o exército sudanês possui aeronaves capazes de realizar esse tipo de operação, ao contrário da RSF, que utiliza drones.
Relatório preocupante
Na quinta-feira, a Human Rights Watch descreveu o relatório da France 24 como "preocupante", destacando que ele constitui um crime de guerra e uma "grave violação" da Convenção sobre Armas Químicas (CWC, sigla em inglês), ratificada pelo Sudão em 1999. As autoridades sudanesas não comentaram imediatamente a investigação.
Desde abril de 2023, a guerra no Sudão opõe o exército, liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, às RSF, comandadas por seu ex-vice, o general Mohamed Daglo.
Os confrontos entre os dois lados já deixaram dezenas de milhares de mortos e deslocaram milhões de pessoas dentro e fora do país, mergulhando o terceiro maior país da África naquela que a ONU classifica como a "pior crise humanitária do mundo". Ambos os lados são acusados de abusos e atrocidades.
RFI e AFP