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Guilherme Mazieiro

Opinião: Voltando do feriado? Descubra quem saiu perdendo na Semana da Pátria

Saídas de Ana Moser e Mauro Cid são derrotas para Lula e Bolsonaro

11 set 2023 - 13h29
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 Aviões da Força Aérea Brasileira realizam voo de demonstração durante a cerimônia do Dia da Independência, em Brasília, no dia 07 de setembro,
Aviões da Força Aérea Brasileira realizam voo de demonstração durante a cerimônia do Dia da Independência, em Brasília, no dia 07 de setembro,
Foto: Reuters

Depois de quatro anos de governo Jair Bolsonaro (PL), as famílias brasileiras voltaram a guardar memórias do 7 de Setembro apenas como mais uma data no calendário para festividades cívicas, feriado com a família e descanso. Tudo correu como se espera em um ato de dia da Independência. Saíram da foto os registros de radicais pedindo o fechamento do Congresso ou golpe de Estado e fanáticos chamando, vergonhosamente, o chefe da nação de “imbrochável”, como em 2022.

Enquanto o retorno gradual à normalidade institucional permitia que as famílias vivessem a vida com um problema a menos para se preocuparem, os dois principais líderes políticos do país, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) enfrentaram derrotas “brochantes”.

Começarei por Lula. Na quarta-feira, a poucas horas do feriado começar, quando muita gente estava preocupada com o trânsito da estrada, o mandatário deu fim à espera que se arrastou por meses. O petista demitiu dois aliados para acomodar pupilos do Centrão. Márcio França, um braço-direito do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), foi realocado no recém-criado Ministério de Micro e Pequenas Empresas para que o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) assuma sua cadeira.

O grupo político comandado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o Centrão, emplacou também André Fufuca (PP-MA), um dos parlamentares que votou pela queda de Dilma Rousseff (PT) no processo de impeachment em 2016. Para dar lugar a este parlamentar, Lula demitiu Ana Moser do Ministério do Esporte. Ela ainda não foi realocada e deve deixar o governo.

A saída de Moser, mais do que de Márcio França, gerou revolta em ídolos do esporte nacional. Sem padrinho político ou bancada de parlamentares, Moser caiu pelo jogo político. O jogo que a medalhista olímpica talvez tenha menos afinidade, já que sempre atuou na política por meio do esporte e seu papel social. Sua saída também reflete a redução de mulheres na Esplanada, agora são apenas 9 entre os 38 ministérios.

Fufuca, que é jogador da política, aparentemente, desconhece questões estruturais do esporte no país e sua importância para a cidadania. Ao que indica a mudança política, ele trabalhará para engordar o caixa da pasta com projetos para arrecadar (e o Centrão cuidar) do dinheiro de sites de apostas, as bets.

Ainda que tenha contornos de mero ajuste político para ampliação de base, a queda de França e Moser sinalizam uma mudança na composição ideológica do governo. O ajuste de rota implicará num destino diferente do proposto originalmente. Nesta partida, Lira venceu Lula.

No caso de Bolsonaro, a derrota é mais significativa, pois veio de Mauro Cid. O tenente-coronel, que além de saber todos os movimentos e agendas do ex-chefe (inclusive as secretas, como revelamos aqui no Terra) tinha até um quarto para ele no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Para sair da cadeia, propôs um acordo de “delação premiada”. Ou seja, ofereceu dedar crimes de aliados para ajudar a investigação da Polícia Federal com provas e informações em troca de minimizar sua pena.

Não se sabe o que foi dito e a quem Cid apontou a mira. O que se sabe é que o contexto das investigações e revelações sobre crimes que vão do gabinete do ódio à fraude em vacinação, venda de joias e tentativa de golpe de Estado, coloca Bolsonaro no alvo.

Em 31 de março de 2022, quando o país ainda convivia com a Presidência do capitão exaltando a data do regime militar, ele mandou um recado indireto a ministros do Supremo e aliados políticos. De cara fechada e ofegante, bradou: 

“A foto mais antiga que tenho, estou [com] meu pai, com cigarro de palha na boca, um pedaço de madeira, um pedaço de arame segurando uma traíra de aproximadamente 10 kg. Desde cedo eu convivo com as traíras. Mas acabam indo para a panela todas elas, sem exceção”.

Derrotado nas eleições, Bolsonaro fugiu para os Estados Unidos e a bravata culminou nos ataques do dia 8 de janeiro. A traíra não foi para panela, está em casa. O peixe, como dizem, morreu pela boca.

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui e receba os próximos conteúdos.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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