PUBLICIDADE

Estudos citados em post não concluíram que hidroxicloroquina é eficaz contra Covid-19

6 mar 2023 - 17h48
(atualizado às 18h03)
Compartilhar
Exibir comentários

Publicações nas redes enganam ao indicar que haveria consenso de que a hidroxicloroquina é eficaz para tratar a Covid-19. As pesquisas citadas no texto, do site Médicos pela Vida, concluem, na realidade, que o antimalárico não tem eficácia no tratamento da doença. Além disso, com a evolução da pandemia, outros estudos também comprovaram que a droga não age contra a Covid-19.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 12 mil curtidas no Instagram nesta segunda-feira (6).

Selo falso

A ciência mostra a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19
Posts difundem texto publicado pelo Médicos pela Vida para afirmar que a ciência mostrou a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, o que é falso
Posts difundem texto publicado pelo Médicos pela Vida para afirmar que a ciência mostrou a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, o que é falso
Foto: Aos Fatos

O trecho de um texto publicado pelo site Médicos pela Vida em outubro do ano passado tem sido difundido nos últimos dias por publicações nas redes para afirmar que a ciência mostrou que a hidroxicloroquina é eficaz para tratar a Covid-19, o que é falso. O fármaco não é eficaz no tratamento ou na prevenção de mortes contra a doença. Tampouco há estudos suficientes que corroborem o uso profilático da substância — ou seja, antes do contato com o vírus.

Os seis estudos citados no texto como prova de eficácia da droga, na realidade, concluem o oposto: que a droga não funciona contra a doença. Confira abaixo:

  • O estudo intitulado "Hydroxychloroquine with or without azithromycin for treatment of early Sars-CoV-2 infection among high-risk outpatient adults: A randomized clinical trial" concluiu que a hidroxicloroquina, assim como sua combinação com o antibiótico azitromicina, não são terapias eficazes para tratamento ambulatorial da infecção pelo Sars-CoV-2;
  • O estudo "Hydroxychloroquine in Nonhospitalized Adults With Early Covid-19" mostrou que a hidroxicloroquina não reduziu substancialmente a gravidade dos sintomas em pacientes ambulatoriais com Covid-19 leve ou no estágio inicial da doença;
  • O estudo "Effect of Early Treatment With Hydroxychloroquine or Lopinavir and Ritonavir on Risk of Hospitalization Among Patients With Covid-19" concluiu que a droga não mostrou qualquer benefício significativo para diminuir a hospitalização associada a Covid-19 ou outros resultados clínicos secundários;
  • O estudo "Hydroxychloroquine for Early Treatment of Adults With Mild Coronavirus Disease 2019: A Randomized, Controlled Trial" apontou que nenhum benefício foi observado em pacientes com Covid-19 tratados com a hidroxicloroquina além dos cuidados habituais;
  • As conclusões do estudo "Hydroxychloroquine versus placebo in the treatment of non-hospitalised patients with Covid-19 (COPE - Coalition V): A double-blind, multicentre, randomised, controlled trial" não deram suporte ao uso rotineiro de hidroxicloroquina para tratamento de Covid-19 em ambiente ambulatorial;
  • O estudo "Randomized double-blinded placebo-controlled trial of hydroxychloroquine with or without azithromycin for virologic cure of non-severe Covid-19" concluiu que a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina não contribuiu para a cura de pacientes com Covid-19 leve ou assintomáticos.

Os supostos benefícios do fármaco são baseados em distorções difundidas pela plataforma HCQ Meta, de autoria anônima, e que apresenta problemas metodológicos que põem em xeque a credibilidade das informações fornecidas, como verificado em fevereiro de 2021 pelo Aos Fatos.

Com a evolução da pandemia, no entanto, diversos estudos duplo-cego randomizados — considerados padrão-ouro das pesquisas científicas — não comprovaram que a cloroquina e a hidroxicloroquina, bem como o vermífugo ivermectina e a azitromicina, seriam benéficas para prevenir ou tratar a Covid-19 em suas diferentes etapas.

Leia mais
Explicamos Sites que embasam manifesto por 'tratamento precoce' adotam metodologias duvidosas

No texto publicado pelo Médicos pela Vida também é citado que a Prevent Senior foi inocentada em inquérito da Polícia Civil de São Paulo. Em abril de 2022, o órgão concluiu que a operadora de plano de saúde não cometeu atos ilícitos ao usar e recomendar medicamentos sem indicação e eficácia contra a Covid-19. A conclusão foi criticada por um grupo que afirma ser vítima da Prevent Senior. O Ministério Público prossegue com as investigações.

Procurado por Aos Fatos, o Médicos pela Vida não retornou o contato até a publicação desta checagem.

O grupo reúne profissionais de saúde favoráveis a terapias que não se provaram eficazes contra a Covid-19 em estudos científicos sólidos. Em 2021, o movimento publicou um manifesto nos principais jornais do país em que defendia a prescrição de medicamentos como a cloroquina e a ivermectina para tratar a infecção pelo novo coronavírus. O texto foi baseado em informações extraídas de sites com metodologias duvidosas, como Aos Fatos revelou.

Referências:

1. Poder 360

2. The Lancet

3. C19HCQ

4. JAMA

5. Oxford Academic

6. Science Direct (1 e 2)

7. Aos Fatos

8. Cochrane (1 e 2)

9. FDA

10. G1

11. Veja

12. Estadão

13. Congresso em Foco

Aos Fatos
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade