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Juiz de Fora tem os 'classificados' para voluntários

Projeto da prefeitura une quem precisa de ajuda e quem quer ajudar; serviço é de execução simples e não gera mais gastos, diz pasta

22 set 2020 - 13h06
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A advogada Júlia Dornelas, de 30 anos, tinha alguns horários livres que pensava dedicar ao serviço voluntário. Ao pesquisar na internet, encontrou uma lista que mais parecia anúncio de emprego: com nome da instituição, vaga, endereço e contato. E foi assim que a Fundação Maria Mãe, localizada no bairro Ladeira, em Juiz de Fora (MG), passou a contar com o tempo de Júlia para preparar o café da manhã e o banho de aproximadamente 120 pessoas em situação de rua atendidas diariamente pela entidade.

O que uniu a advogada e a Maria Mãe foi o projeto Classificados do Bem, da Secretaria de Comunicação Pública de Juiz de Fora. Criada em dezembro de 2017, a iniciativa ocorre uma vez por mês, quando são divulgadas as "oportunidades" de serviço entre as mais de 50 instituições cadastradas no Conselho de Assistência Social da prefeitura. Em apenas dois anos, o projeto ajudou a preencher 310 vagas de trabalho voluntário, segundo levantamento do município.

De execução simples - proporcionada pela própria estrutura da prefeitura, ou seja, sem a criação de gastos extras -, o projeto surgiu como consequência de um programa lançado quatro anos antes, o Bem Comum, que promove campanhas de doações e outros eventos solidários na cidade. Nesse período, a secretaria se deparou com pessoas que diziam ter interesse em participar, mas que não tinham condições de doar materiais com frequência.

"Elas queriam doar o tempo, a habilidade que tinham", disse o ex-secretário de Comunicação Michael Guedes, responsável pela implementação dos "classificados". "Percebemos que esse tempo poderia ter um valor muito grande para quem precisava."

Divulgação

Entre os profissionais que atendem aos classificados estão psicólogos, fisioterapeutas, dentistas, advogados, chefes de cozinha, jardineiros, entre outros. Geralmente, cada edição apresenta entre 30 e 40 vagas, anunciadas nas redes sociais, no site da prefeitura e em jornais, rádios, sites e canais de TV locais.

"Para a instituição, acho que é uma promoção boa. Eu vejo, muitas vezes, as pessoas querendo ajudar e não sabendo qual local procurar", afirmou a presidente da Fundação Maria Mãe, Vanessa Farnezi. A entidade chegou a ter cerca de 50 voluntários regularmente. Hoje, são em torno de 15, em função da pandemia do novo coronavírus.

Os assistidos pela fundação recebem café da manhã, tomam banho, cortam o cabelo e trocam de roupa no local. Também têm acesso a atendimento psicológico, odontológico, ao serviço social e podem participar de atividades para reinserção no mercado de trabalho e geração de renda. Júlia ajuda a vestir e a alimentar os atendidos pela entidade, selecionando as roupas de acordo com as necessidades das pessoas e oferecendo o café pela manhã.

Apesar de não se tratar de um serviço diretamente municipal, a assistência prestada pela fundação recebe uma ajuda de custo do município, no valor de R$ 13 mil por mês. Ampliar a oferta de serviço voluntário nas entidades parceiras é, portanto, também uma forma de tentar reduzir os investimentos que precisam ser feitos pela prefeitura na área da assistência social.

Para o ex-secretário Michael Guedes, o principal mérito da iniciativa é o de mostrar para a sociedade um problema que ela própria é capaz de ajudar a resolver, sem custos para o município. "É uma forma de conseguir uma mobilização muito interessante, que pode atender a uma necessidade tanto quanto a uma política de saúde, de educação ou uma obra, por exemplo."

Por outro lado, Guedes disse acreditar que esse tipo de iniciativa depende de um trabalho permanente de aproximação com a sociedade e da transparência dos municípios para dar resultado. Ele lembrou que, antes de lançar os "classificados", a secretaria já tinha a experiência de quatro anos promovendo campanhas do Bem Comum e investiu em canais próprios de divulgação.

"O desejo era de que fosse encarado como um programa da sociedade, e não uma programa 'chapa-branca'. Justamente para estabelecer esse elo de credibilidade entre todos os atores envolvidos", afirmou o ex-secretário.

E foi assim que também o Educandário Carlos Chagas, criado em 1932, conseguiu atrair mais pessoas interessadas em ajudar. A instituição acolhe 25 crianças e adultos com deficiência ou transtorno mental e mantém um programa de habilitação e reabilitação social para a comunidade, composto por oficinas e outras atividades de inclusão.

Visibilidade

"Por ser uma instituição filantrópica, não se tem recurso para contratar todos os funcionários de que a gente realmente precisa", afirmou a assistente social Ana Eliza Itaborahy. Para ela, os Classificados do Bem deram mais visibilidade à instituição e trouxeram pessoas mais comprometidas. "Sempre que tem a necessidade, a gente joga lá." A principal contribuição tem sido alcançada em atividades como artesanato, dança e jogos.

"Faz muito bem conviver com eles (as crianças e os jovens assistidos pelo projeto). Quem vem trabalhar conosco se apaixona e recebe um bem ainda maior", afirmou Ana Eliza, ao citar o caso de um voluntário que conseguiu superar a depressão a partir desse contato. Depois de 17 meses como voluntária na Fundação Maria Mãe, a advogada Júlia Dornelas concorda: "É transformadora a experiência."

Estadão
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