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Unesco: é dever do MEC criar política contra homofobia na escola

Entidade lamenta o veto da presidente Dilma ao kit anti-homofobia do MEC

17 mai 2012 - 06h04
(atualizado às 16h07)
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Angela Chagas
Direto de Porto Alegre

Segundo a Unesco, o bullying homofóbico é o mais frequente na escola e precisa ser combatido com práticas pedagógicas
Segundo a Unesco, o bullying homofóbico é o mais frequente na escola e precisa ser combatido com práticas pedagógicas
Foto: Igor Mota / Futura Press

Nesta quinta-feira, dia que marca a luta mundial de combate à homofobia, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) faz um alerta para a necessidade de combater o preconceito contra homossexuais nas escolas. Em entrevista exclusiva ao Terra, a oficial de educação preventiva da Unesco no Brasil, Rebeca Ontero, disse esperar que as orientações da entidade sobre o tema sejam levadas em conta pelo governo brasileiro, já que a homofobia é um problema crescente nas instituições de ensino do País.

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"É dever do Ministério da Educação, e também de outros órgãos do governo, providenciar estratégias para a redução do bullying homofóbico nas escolas. O professor, há anos, demonstra que não está preparado para lidar com a questão da diversidade sexual, e os materiais pedagógicos têm um importante papel para mudar esse quadro", afirmou ao defender o kit do programa Escola sem Homofobia, vetado pela presidente Dilma em maio do ano passado. O material seria distribuído a alunos de 6 mil escolas públicas do País, mas foi suspenso após pressão da bancada religiosa do Congresso Nacional.

"O kit que nós avaliamos do programa Escola sem Homofobia é muito bom porque trabalha a questão de forma adequada, com respeito. O mais interessante no material é que envolvia a formação de professores, que hoje infelizmente ainda não sabem lidar com a homofobia", disse. Sobre o veto da presidente Dilma ao material, Ontero afirmou que questões políticas predominaram. "Não devemos mais entrar no mérito dessa discussão. Precisamos agora propor novas iniciativas, com embasamento científico que comprovem a importância das ações".

Segundo ela, enquanto países como Estados Unidos, Canadá e Inglaterra já desenvolveram diversos estudos sobre os impactos da homofobia no aprendizado, isso ainda é pouco incentivado no Brasil. "Toda política pública tem favoráveis e contrários, mas quando ela está ancorada em uma base científica evita que seja questionada. No caso do kit, o veto ocorreu por motivos políticos, não se discutiram dados, não se levou em conta que a homofobia é um problema presente em todas as escolas e que a gente precisa enfrentar", disse.

Ontero ainda criticou a influência da religião na discussão sobre a política educacional no Brasil. "A questão religiosa também tem um peso grande na contrariedade a esse trabalho de combate à homofobia. Acreditamos que todas as crenças devem ser respeitadas, mas as instituições de ensino não podem refletir as questões religiosas, vivemos em país laico, que deve respeitar a diversidade".

Impactos do bullying homofóbico

A Unesco lançou nesta quarta-feira, na França, um guia de orientação sobre a homofobia elaborado a partir de uma consulta pública envolvendo 25 países, realizada no Rio de Janeiro no final de 2011. Durante o evento, especialistas apresentaram os problemas e as práticas adotadas em suas nações para o enfrentamento do bullying. "Os resultados dessa pesquisa foram reunidos e estão sendo divulgados pela Unesco, primeiramente em inglês e francês. Até o final de maio, isso será traduzido para o português", afirmou Rebeca Ontero.

Segundo ela, a Unesco optou por trabalhar com o bullying homofóbico por ser a prática que mais danos causa à formação de crianças e adolescentes. "Os pais e professores pensam que o bullying é algo natural dessa fase. Silenciam quando os problemas aparecem porque são despreparados para lidar com isso. Mas, na maioria das vezes, o impacto psicológico para os estudantes é inevitável", disse.

Ontero explicou ainda que a homofobia tem relação direta no aprendizado, já que a maioria das vítimas acaba abandonando a escola. "Eles acabam se dedicando menos ao estudo, faltam às aulas. Às vezes as agressões levam à depressão e até ao suicídio", afirmou ao destacar que muitos acabam se afastando do convívio social e se tornando mais vulneráveis às drogas. "O problema existe e precisamos ter coragem para enfrentá-lo", completou a representante da Unesco ao citar dados que apontam que 40% dos gays no Brasil afirmam já terem sofrido agressão física na escola.

Fonte: Terra
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