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1968, a Revolução Globalizada (Parte V)

27 mar 2018 - 16h19
(atualizado às 16h23)
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Em 1968, jovens das cidades mais importantes do mundo sairam às ruas para criticar abertamente a sociedade e os regimes políticos vigentes. Durante alguns meses, tudo parecia ser posto de pernas para o ar frente ao vendaval juvenil. Açoitadas pela fúria das ruas, as autoridades quase naufragaram naquele ano tão estranho e excepcional durante a primeira revolução globalizada que se conheceu.

A Internacional Estudantil

“We shall fight/ We will win/ Paris, London, Rome, Berlin..” (lutaremos, venceremos, Paris,etc...)

Slogan dos contestadores ingleses, 1968.

Naquele ano de 68 coube aos estudantes de Berlim tomarem a dianteira nos protestos contra a guerra no Sudeste asiático. Em seguida a Ofensiva do Tet, os militantes da SDS (Socialistische Deutsche Studentenbund), organizaram em 17 de fevereiro de 1968 um Congresso Internacional sobre o Vietnã,  conclamando as mais diversas lideranças universitárias a se fazerem presentes nos auditórios da Universidade Livre de Berlim.

Apresentaram-se jovens gregos, franceses, italianos, escandinavos e de outras procedências para debaterem em foros repletos quais estratégias de oposição a serem adotadas contra a continuidade da guerra. Nas paredes pendiam enormes retratos de Che Guevara que se alternavam com bandeiras da Frente de Libertação do  Vietnã.

Num dos seus discursos, Rudi Duschke, líder máximo da SDS,  associou a luta do povo vietnamita contra a intervenção norte-americana como idêntica à travada pelos estudantes europeus frente à continuidade da sociedade de classes em que viviam. A batalha antiopressão era a mesma apesar dos espaços geográficos serem tão distintos.

Todos saíram impressionados com a organização dos alemães, com seus slogans e estandartes prontos e com seus esquemas de segurança ativados. Os franceses, particularmente, em breve iriam por em prática daquilo que viram em Berlim (ver Mark Kurlansky- 1968, o ano que abalou o mundo, págs. 201-5). Foi na ex-capital germânica pois que se estruturou a Internacional Estudantil que logo iria por fogo em boa parte do mundo.

A conflagração alemã mais extremada deu-se a partir do atentado sofrido dois meses depois por Rudi Dutschke, em abril de 1968. Em Berlim, Frankfurt e demais cidades universitárias, as marchas de protesto redundaram em grandes batalhas campais contra a policia e ataques aos veículos da mídia impressa do grupo Axel Springer, de direita.

O fracasso que se seguiu às esperanças despertadas pela mobilização estudantil fez com que muitos militantes resolvessem ingressar na RAF (Rotte Armee Faccion), também conhecido pelo nome dos seus dirigentes como o Grupo Baader-Meinhoff que, nos anos 70, tentaram manter um clima revolucionário na Alemanha Ocidental através de atentados terroristas e assassinatos seletivos, atacando grandes empresários e barões da mídia, a quem eles acusavam de serem parciais.

Praticamente a mesma trajetória vamos encontrar na Itália, onde os estudantes rompidos com o Partido Comunista Italiano, a quem acusavam de conciliar com a burguesia, aderiram à violência revolucionária com a fundação das Brigadas Vermelhas (Brigate Rosse) que chegaram a seqüestrar e matar o primeiro-ministro Aldo Moro em 1978.

Pode-se dizer que os enfrentamentos generalizados que caracterizaram boa parte dos anos 70, (ativada pelos grupos Brigate Rosse, Baader-Meinhoff, Black Panthers, ERP, Montoneros,Tupamaros, Var-Palmares, Exército Vermelho japonês, etc.) foram subproduto das esperanças e das energias despertadas em choque com a frustração que se seguiu.

Na América Latina,  o resultado foi mais trágico porque o movimento estudantil não se deparou com regimes democráticos mas sim com regimes militares, ou com a “ditadura perfeita” que governava o México desde os anos vinte.

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"A Revolução silenciosa", um documentário sobre a história das mulheres sauditas:
Fonte: Especial para Terra
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