Governador do MS diz que retirada de 'O Avesso da Pele' das escolas foi 'decisão técnica'
Obra foi recolhida no ano passado por conter trechos considerados "impróprios"; livros foram devolvidos depois com indicação de uso
O governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), explicou a retirada do livro O Avesso da Pele, de Jefferson Tenório, das escolas do estado no ano passado. Segundo o político, a decisão foi técnica e a retirada se deu para uma faixa etária específica.
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"Foi uma decisão técnica a partir de parte de conteúdo do livro que o Conselho Técnico de Educação sugeriu. [...] Depois não voltou atrás para geral, voltou para uma faixa etária. Ela estava disponível para crianças numa linguagem que não seria apropriada segundo a comissão técnica e depois voltou para a faixa etária adequada. Foi uma questão absolutamente técnica", disse o governador, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira, 17.
Em março do ano passado, os exemplares do livro foram recolhidos das bibliotecas das escolas públicas do estado e por conter trechos considerados "impróprios". Em abril, após uma análise da Secretaria de Educação, as obras foram devolvidas e com as orientações pedagógicas quanto à indicação de uso.
Além do Mato Grosso do Sul, O Avesso da Pele havia sido retirado em outros estados, como Paraná e Goiás, que também voltaram atrás nas decisões.
Entenda o que aconteceu
No início de março de 2024, a diretora de uma escola estadual em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, publicou um vídeo criticando O Avesso da Pele e questionou a decisão do governo federal de incluir a obra no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) para alunos do Ensino Médio, condenando o que ela considerou "vocabulários de tão baixo nível".
Nos dias seguintes, o livro foi recolhido de escolas do Paraná e do Goiás. Com a repercussão do caso, o romance chegou a ficar entre os livros mais vendidos da Amazon no Brasil.
O romance de Jeferson Tenório, publicado em 2020, aborda a questão do racismo estrutural ao narrar a história de Pedro que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. A obra venceu o Prêmio Jabuti de 2021, na categoria Romance Literário.
Na época, em entrevista ao Terra, o escritor Jeferson Tenório afirmou que as queixas ao livro são reflexo da polarização política e dos discursos de ódio às minorias sociais.
"A gente está vivendo um momento que é a continuação, na verdade, de uma onda conservadora. Então, o que eu tenho percebido é que o racismo sempre existiu. As violências policiais contra a população negra sempre existiram. Mas o que tem acontecido agora, além da violência, uma espécie de incentivo a essa violência. Você tem um discurso de ódio a essas populações da minoria, e acredito que isso tem a ver com todo o processo político que a gente viveu nos últimos anos", pontua.
Na ocasião, o então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta, e a ministra da Cultura (MinC), Margareth Menezes, criticaram a tentativa de censura e os ataques ao livro. Em nota, o Ministério da Educação (MEC) explicou o processo de inclusão de obras no PNLD e esclareceu que os professores escolhem livros a serem adotados em sala de aula, e não o MEC e que a pasta envia obras para escolas apenas mediante solicitação dos próprios educadores. *(Com informações do Estadão Conteúdo)