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Com saída de alunos da rede privada na pandemia, matrículas sobem 73% na pré-escola pública de SP

Aumento ocorreu em julho, quando não é comum elevado número de pedidos; etapa que atende alunos de 4 a 6 anos sofre mais na crise pela dificuldade de oferta de ensino remoto

13 ago 2020 - 13h01
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As matrículas nas escolas municipais de São Paulo de crianças de 4 a 6 anos cresceram 73% em julho, se comparadas com o mesmo mês no ano passado. O movimento é interpretado como uma migração de alunos de escolas particulares, já que não é usual tantas matrículas no meio do ano para essa idade.

A etapa da educação infantil é uma das mais afetadas pela crise causada pela pandemia do novo coronavírus, principalmente pela dificuldade em oferecer ensino remoto para crianças pequenas. Estima-se que 30% das instituições privadas do Estado tenham fechado.

No ano passado, foram 981 crianças que pediram vaga em julho, agora, 1,7 mil. A maior parte delas mora na região do Ipiranga (258 crianças) e da Penha (183). Bairros com população de mais baixa renda, como Capela do Socorro - que inclui Cidade Dutra e Grajaú - tiveram só 67 pedidos de novas matrículas para crianças de 4 a 6 anos.

A partir dos 4 anos a legislação obriga que todos estejam matriculados na escola no País, caso contrário os pais podem ser responsabilizados judicialmente.

Os pedidos de vagas para a creche (0 a 3 anos), que normalmente ocorrem durante o ano todo, cresceram menos no período, 44%. No total (creche e pré-escola), foram 6.878 pedidos de novas matrículas na rede municipal ante 4.551 no ano passado. Na rede estadual, que inclui o ensino fundamental e médio, o aumento foi de 35%, passando de 6.020 para 8.150, de 2019 para 2020. O mesmo movimento ocorre em outras redes de ensino pelo País.

"É uma nova população para a escola pública, que traz outras experiências, pode contribuir para o desenvolvimento do projeto pedagógico, isso é positivo", diz a educadora Anna Helena Altenfelder, presidente do conselho do Cenpec. Ela também explica que as crianças de famílias mais vulneráveis se beneficiam com colegas de outras classes, o que ajuda na aprendizagem. "É importante que os pais não vejam essa mudança como um castigo para o filho."

A bancária Amanda Carvalho, de 31 anos, não conseguiu negociar a mensalidade da escola particular onde seu filho estudava na zona norte da capital e resolveu cancelar a matrícula para economizar os R$ 800 mensais. Leonardo tem 4 anos, não se interessava pelas aulas online e a mãe não pretendia deixá-lo voltar este ano por medo de contaminação. "Eu disse que ia tirá-lo da escola e não me ofereceram nada, só avisaram que ele tinha 4 anos e precisava estar matriculado", conta.

Pelo site da Secretaria da Educação, ela encontrou uma vaga numa escola municipal no bairro do Imirim. "Ainda não me mandaram nenhum material nem como são as aulas pelas internet, estou esperando." A mãe, no entanto, diz que não pretende deixar o menino na instituição pública depois da pandemia.

Apesar de estimar a falência de 30% das escolas particulares de educação infantil, o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp), Benjamim Ribeiro, acredita que a evasão da rede não passará de 4%. "Quem experimenta a escola particular só fica na pública em último caso", diz.

Computadores.A rede municipal afirma que fará parcerias com ONGs e até contratação de vagas na rede particular, se for necessário para acolher as novas matrículas. Por enquanto, 400 de 1,7 mil pedidos de vaga ainda não foram atendidos, mas há um prazo de 30 dias para a resposta final. Na creche, um problema antigo na cidade, há 22 mil crianças na fila.

Anna Helena lembra que as redes que receberem muitos alunos vão ter de lidar também com a questão do financiamento, já que as arrecadações estão caindo e as previsões foram feitas com base nos estudantes que havia no ano anterior. Há ainda os gastos com máscaras, EPIs, álcool em gel.

Durante a pandemia, a Prefeitura optou por oferecer apostilas para o ensino remoto, com atividades para os pais fazerem com as crianças de educação infantil, como leituras e brincadeiras. Segundo o secretário municipal de Educação, Bruno Caetano, as 13 mil salas de aula da rede serão equipadas com computadores, internet rápida e tela projetora para a volta às aulas, até dezembro. Os alunos que estiverem em casa poderão acompanhar a atividade pela internet.

Além disso, as aulas elaboradas pela equipe pedagógica da secretaria estarão disponíveis no computador para o professor seguir, de acordo com o currículo da rede, aprovado em 2018. "Tudo isso é a nossa grande aposta para acompanhamento dos alunos e recuperação das aprendizagens, é uma ferramenta para acompanhar o desempenho sala por sala, aluno por aluno", diz Caetano.

Estímulos. Desde o início da quarentena, especialistas em educação infantil não recomendam que as escolas promovam muitas atividades online para crianças de 0 a 5 anos. Associações de pediatria afirmam que a exposição às telas por horas é muito prejudicial para os menores.

Além disso, a creche e a pré-escola têm o objetivo de estimular as crianças, por meio de interações com os colegas, brincadeiras e experiências, algo difícil de ser realizado pela internet. Mesmo assim, com medo de perder alunos, algumas instituições dão horas de aulas diárias para crianças pequenas.

Turma heterogênea traz benefícios

O Pisa, o maior exame internacional, mostra que alunos mais pobres que estudam com outros mais ricos têm desempenho melhor. E uma sala de aula heterogênea, com diferenças sociais, culturais e étnicas, traz benefícios para todos, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela prova. Escolas em países desenvolvidos implementam políticas para a inclusão e consequente equidade na educação. Isso porque a condição social é um fator importante no fracasso escolar.

Estadão
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