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Metodologia ágil cresce com transformação digital

Empresas investem cada vez mais no processo que visa a ter melhores resultados em menos tempo

10 jan 2021 - 05h10
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Inicialmente criadas para aprimorar processos de desenvolvimento de software, as metodologias ágeis deixaram de ser uma prática exclusiva de TI para conquistar espaço em outros segmentos. De acordo com a terceira edição do estudo Agilidade na América Latina, feito pela consultoria everis em parceria com a MIT Tech Review - para avaliar a adoção da filosofia ágil por grandes empresas de países como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru -, o investimento nesses projetos aumentou em 30% desde 2017.

Das 35 participantes (26 delas colocadas entre as 500 maiores da região), 52% tiveram redução de custos, 68% observaram diminuição de riscos e 94% ganharam maior velocidade de entrega. Em um mercado em constante transformação - quadro acelerado com a chegada da pandemia, que forçou processos de adaptação digital ao redor do mundo -, integrar competências, equipes e processos para entender a necessidade do cliente e gerar resultado com mais rapidez é um caminho inevitável, segundo especialistas, para continuar na competição.

Trocando em miúdos, práticas ágeis como Scrum, Lean e KanBan visam a conseguir resultados melhores em menos tempo. Para isso, aliam elementos como times multidisciplinares (squads), ciclos curtos de desenvolvimento e experimentação de projetos (sprints), compartilhamento de dados e trabalho em rede a ferramentas e softwares que ajudam a visualizar todo o processo.

A mudança na forma de trabalhar, porém, não acontece de uma hora para outra. "As startups muitas vezes já nascem ágeis, mas corporações mais tradicionais precisam se adaptar para se manter competitivas", diz Victor Vidal, criador e coordenador dos cursos de metodologias ágeis da Impacta Tecnologia. "São empresas que precisam revisitar os processos organizacionais para ver como otimizar sem perder a essência."

Ele explica que cada organização tem seu processo. "Não é uma receita de bolo, mas dá para dizer que o primeiro passo para implementar a cultura ágil é um trabalho de conscientização de que, para haver transformação digital, precisa ter transformação cultural", diz. "Isso envolve estimular autonomia e tomada de decisão, senso de propósito, descentralização e deixar de lado os planejamentos exaustivos."

O principal desafio para implementar o método ágil, segundo a pesquisa da everis, é a resistência a mudança, relatada por 49% dos entrevistados. E também nesse ponto acredita-se que a pandemia seja um divisor de águas. "À medida em que se viram completamente ameaçadas, tendo de mudar a maneira como ofereciam seus serviços, as empresas começaram a entender que precisavam de uma saída para que eles fossem mais responsivos e acompanhassem a velocidade que o nosso mercado atual exige", diz Marcelo Szuster, CEO da dti digital e apresentador do podcast Os Agilistas. "O que a pandemia fez foi trazer isso de forma brutal para as empresas, exigindo uma reação imediata."

Além da mudança na estrutura tradicional, em que cada setor ou time trabalha isoladamente, a atuação da liderança é peça-chave para a transformação. "Se quiser que haja realmente uma mudança ágil no mindset (mentalidade), é preciso fomentar um ambiente de inovação e, para isso, o líder tem de dar muito mais espaço para os times e equipes", explica Szuster. A ideia principal, segundo ele, é que o líder seja mais um facilitador e removedor de impedimentos do que alguém que controla e microgerencia tudo que está acontecendo.

Centenária ágil

Instalada no Brasil desde 1858, a fabricante de máquinas de costura Singer, hoje parte do grupo SVP Worldwide, implementou uma série de processos com foco em pessoas e no desenvolvimento da autonomia e tomada de decisão. "No início de 2020, tivemos uma convenção para falar de transformação com diversos ajustes, inclusive no chão de fábrica, onde fizemos a implantação da metodologia Lean", diz o diretor-geral, Márcio Daniel. "É uma cultura que permite o erro e corre atrás de ajustes rápidos."

Ele conta que a empresa seguiu caminhos paralelos, na fábrica e no comercial, por serem processos que envolvem habilidades distintas. Uma consultoria foi contratada para treinar a liderança e os funcionários da fábrica. "No comercial, traçamos estratégias para melhor entendimento da necessidade do consumidor, trazendo pessoas específicas para cada canal - os chamados líderes de projeto - e contando com o envolvimento do pessoal do chão de fábrica", diz. "Para ter uma ideia, mudamos até a embalagem de caixa de agulha seguindo sugestões da equipe."

Com a chegada da pandemia, o executivo achou que seria necessário segurar alguns projetos. "Mas aí os resultados começaram a aparecer. Tivemos um crescimento de 30% em 2020, comparado ao ano anterior", comemora. A mudança também foi visível no trabalho das equipes, segundo ele. "Não é mais aquele sentimento de cobrança, mas de compartilhamento e troca", afirma. "Algumas pessoas que antes pensavam 'é assim e pronto' hoje se sentem à vontade para dar sugestões, pensar diferente, sem medo de questionar e propor coisas novas."

Estadão
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