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Em busca de carreira internacional, ela foi babá nos EUA antes de virar diretora no YouTube

Bibiana Leite, do YouTube, é entrevistada na série 'DNA da Liderança', que conta histórias de líderes e traz dicas de carreiras

20 nov 2023 - 09h40
(atualizado às 11h11)
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Da periferia de Salvador (BA), a executiva Bibiana Leite traçou uma longa jornada até alcançar a carreira internacional. A começar pelo idioma. Ela contou com a ajuda da tia para pagar o curso de inglês. Depois, com o objetivo de aperfeiçoar a língua estrangeira, virou babá nos Estados Unidos. Quando regressou ao Brasil, tentou uma vaga no Google, tornando-se a primeira mulher negra contratada pela empresa no País, em 2006. Esse era só o começo.

Três anos depois, realizou uma das metas da vida profissional: a carreira internacional. Leite desembarcou na Califórnia para assumir a operação do YouTube para a América Latina. Desde então, são mais de 13 anos ocupando cargos de liderança na corporação, com equipes de São Paulo, México, e Vale do Silício. Hoje, está à frente da diretoria de Parcerias de Conteúdo e Comunidades.

Ela foi a única mulher negra e migrante no alto escalão por muitos anos e trabalha para virar o jogo. Espera inspirar outras pessoas para que se sintam representadas e tenham, assim como ela, a possibilidade de pensar que podem chegar lá.

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DNA DA LIDERANÇA | Da periferia de Salvador (BA), a executiva Bibiana Leite traçou uma longa jornada até alcançar a carreira internacional. A começar pelo idioma. Ela contou com a ajuda da tia para pagar o curso de inglês. Depois, com o objetivo de aperfeiçoar a língua estrangeira, virou babá nos Estados Unidos. Quando regressou ao Brasil, tentou uma vaga no Google, tornando-se a primeira mulher negra contratada pela empresa no País, em 2006. Esse era só o começo. Três anos depois, realizou uma das metas da vida profissional: a carreira internacional. Leite desembarcou na Califórnia para assumir a operação do YouTube para a América Latina. Desde então, são mais de 13 anos ocupando cargos de liderança na corporação, com equipes de São Paulo, México, e Vale do Silício. Hoje, está à frente da diretoria de Parcerias de Conteúdo e Comunidades. Ela foi a única mulher negra e migrante no alto escalão por muitos anos e trabalha para virar o jogo. Espera inspirar outras pessoas para que se sintam representadas e tenham, assim como ela, a possibilidade de pensar que podem chegar lá. Veja as dicas de #lideranca de Bibiana #worktok trabalho

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No jogo de liderar, o tempo é o bem mais valioso na rotina de trabalho e gosta de distribuir bem a maneira que consome as horas no dia a dia.

"As pessoas sempre falam que tempo é dinheiro, e é verdade. Faço exercício físico, é um momento em que medito. Porque do começo até o fim do dia estou em reuniões, mas venho estabelecendo alguns princípios para ter reuniões bem definidas", conta.

Confira trechos da entrevista:

Como foi o início da sua carreira e em que momento decidiu se tornar líder?

Desde cedo, exercia bastante esse espírito de empreendedorismo e de liderança porque sempre pensei em fazer coisas grandes ou em ter o meu próprio negócio. Eu era daquelas que assistiam Pequenas Empresas & Grandes Negócios (programa com histórias de microempresários brasileiros) no domingo de manhã na Globo quando era criança. Na fase de faculdade, adorava ler a revista de mesmo nome. Na época, já tinha essa visão de trabalhar em grandes corporações.

Vendi biquíni, docinho e cosméticos para as minhas vizinhas. Também tive a oportunidade de trabalhar em empresas de telecomunicações na Bahia. A partir da minha inquietude de continuar fazendo coisas maiores e de ver o que que estava acontecendo no mundo, surgiu a vontade de morar fora do país para ter a fluência em inglês.

Logo quando terminei a faculdade de administração na Universidade Católica de Salvador, identifiquei um curso com bom custo-benefício para ser babá nos EUA por um ano. Me aventurei nesse processo. Fiz alguns cursos para voltar ao Brasil com o idioma bem lindo, como a gente diz. Quando voltei, me falaram que o Google estava chegando ao Brasil.

Como foi esse processo?

Depois de fazer uma série de entrevistas em inglês e em português, recebi a oferta de emprego, em 2006, e até hoje estou aqui.

Essa questão de liderança é algo que vinha aflorando em mim, sempre tive aquela visão de que podemos mais, conseguimos melhorar, desde que identifiquemos as oportunidades nas pequenas coisas ao nosso redor.

O que a experiência de babá nos Estados Unidos proporcionou para a sua carreira?

Nada da nossa carreira pode ser descartado. São aprendizados que conseguimos observar para ser um líder melhor com o passar dos anos.

A experiência de babá foi interessante, porque não tinha experiência nenhuma, não trabalhava com isso no Brasil antes. Mas me deu uma oportunidade de identificar relacionamento com pessoas.

Tinha que me relacionar com a família que trabalhava e com outras babás que estavam fazendo o mesmo programa, eram pessoas de várias partes do mundo.

Abri o meu campo de visão com relação a diversidade e culturas. Além de tudo, desenvolvi a minha habilidade de falar inglês fluentemente. Esse foi o meu principal objetivo, tanto é que não quis continuar nos EUA depois de terminar o programa.

Voltei para o Brasil justamente porque o principal objetivo era deixar meu inglês da forma mais fluente possível, para que pudesse seguir o meu caminho: trabalhar em grandes corporações e eventualmente virar uma executiva.

Como foi a transição para a carreira internacional?

Essa transição foi interessante porque a cultura americana é muito diferente. É uma relação com o trabalho diferente do que temos no Brasil, que por ser uma economia ainda desenvolvimento, passamos por várias crises, a inflação é uma coisa que faz parte da nossa vida desde que somos pequenos. Então, damos muito mais valor ao trabalho.

Aqui nos EUA eles costumam dizer: 'It's just a job' (é apenas um trabalho). Com esse choque cultural, comecei a observar como nós (brasileiros) lidamos com esse tipo de oportunidade.

Claro, além disso, por ser uma mulher negra, nordestina e imigrante, tive muitos obstáculos. Quando vim morar nos EUA, normalmente era a única na sala. Era a única pessoa que tinha a minha identidade que se parecia comigo em reuniões, em momentos de tomar grandes decisões. No Brasil, não era tão diferente, mas pelo menos me via em outras partes da organização. Nos EUA, foi um choque maior.

O que foi mais difícil durante esse período?

Apesar de falar inglês fluentemente, na época ainda não era a minha língua. Então, nem sempre entendia tudo que eles estavam falando.

É diferente quando estamos em um ambiente corporativo falando inglês 24/7, e falando inglês em um momento em que é uma babá em um programa de intercâmbio.

O que mais mudou na sua rotina quando você se tornou executiva?

Como executiva é necessário ter uma rotina que seja bem organizada, porque no final das contas trabalho muitas horas por dia.

Mas sempre separo tempo para ficar com a minha família, moro com o meu parceiro e não temos filhos, mas dedico tempo para ele. Também tenho muitos amigos aqui, tento encontrá-los no fim de semana.

Tenho que ter essa rotina para me organizar e entender como consigo ganhar eficiência.

As pessoas sempre falam que tempo é dinheiro e é verdade. Então, priorizo. Faço exercício físico, é um momento em que medito. Porque do começo do dia até o fim do dia estou em reuniões, mas venho estabelecendo alguns princípios para ter reuniões bem definidas com a agenda e com os objetivos para não perder muito tempo.

Como define o seu estilo de liderança?

Gosto de entender o que motiva as pessoas e conhecê-las a fundo, para entender o que é importante para ela (pessoa liderada) na carreira.

As pessoas costumam dizer que sou focada nas métricas, gosto de saber como é que estamos. Se por acaso não estivermos indo muito bem em algum momento do trimestre, o que podemos fazer para mudar o curso da nossa estratégia?

Também adoro mudanças. E aí algumas pessoas podem até argumentar: 'Você está no Google há 17 anos, como que você é uma agente transformadora?' É justamente isso, porque apesar de estar na empresa por muito tempo já passei por vagas diferentes, trabalhos diferentes, pessoas diferentes.

Quais são as estratégias que utiliza no dia a dia para lidar com a síndrome da impostora?

Logo quando me mudei para os Estados Unidos essa síndrome era muito mais ativa. Era a única mulher negra, nordestina, ainda por cima imigrante.

Talvez se não fosse imigrante a situação seria um pouco diferente, mas quando você tem sotaque, está nessas salas e tenta trazer o seu ponto nas discussões e observa que as pessoas não estão necessariamente te entendendo ou não estão dando a atenção que elas deveriam estar te dando, isso pesa muito.

Hoje em dia, uma das coisas que faço é pensar no valor que trago por ter esse esse background, que é diferente das outras pessoas. Outra coisa de que gosto é lembrar que, apesar de as pessoas poderem criticar o meu inglês, ainda falo três línguas (espanhol, inglês e português).

A maioria com quem me relaciono fala apenas o inglês. Claro, é uma língua muito forte, mas falo três línguas. É justo que tenha sotaque, não sou nativa, não cresci no mesmo país das pessoas que estão ao meu redor.

Consigo estabelecer o fato de que é importante que pessoas como eu estejam nesse espaço, além de inspirar outras pessoas para que elas possam também ter a possibilidade de pensar que podem estar aqui. São algumas táticas para controlar e gerenciar a síndrome de impostora.

Qual conselho para pessoas que desejam seguir carreira internacional, mas ainda encontram dificuldade de se enxergarem nesses locais?

Tempo é dinheiro, é uma das coisas mais valiosas que temos na nossa vida. Vamos falar do Jeff Bezos, que é o homem mais rico dos EUA.

Supondo que sou uma pessoa que trabalhe como motorista de ônibus, o que temos em comum são as 24 horas. Mesmo ele sendo mais rico do mundo, ele não tem 30 horas. Claro, ele consegue terceirizar muita coisa da vida dele, o que faz com que o dia seja mais longo.

O meu ponto é que usamos o nosso tempo de forma desnecessária. Podemos usar o nosso tempo para o próprio benefício.

Quanto tempo você passa em rede social? Será que não dá para diminuir um pouco esse tempo? Às vezes, você faz algum tipo de aprendizado no seu celular, ouve uma ted talk (palestra em vídeo) que pode ser bacana para sua carreira.

Se você hoje tem 25 anos e começar agora o inglês, pode ser ali no seu celular, tem tantos aplicativos que possibilitam algum tipo de aprendizado.

Fazendo pouco a pouco de forma consistente, consegue. Talvez daqui a 10 anos esteja falando inglês. De repente, em cinco anos consegue falar inglês fluentemente. Então, o meu conselho é organizar mais o tempo para conseguir se beneficiar.

Estadão
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