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Alunos fazem história em Olimpíada Internacional de Química

Ivna Gomes e Vinicius Armelin conquistaram a medalha de ouro na competição, as primeiras do Brasil

27 ago 2018 - 09h00
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No início de agosto, a cearense Ivna Gomes e o paulista Vinicius Armelin se tornaram os primeiros brasileiros a conquistar a medalha de ouro para o Brasil na Olimpíada Internacional de Química. A equipe também tinha João Victor Pimentel e Orisvaldo Salviano, que conquistaram prata e bronze na competição, disputada na República Checa e na Eslováquia em 2018, e que acontece há 20 anos.

“Receber a medalha foi muito louco. Eu não fui esperando ganhar ouro, justamente porque ninguém havia ganhado antes, então receber essa premiação foi a melhor surpresa que poderia ter acontecido”, contou Ivna ao Terra. Vinícius ainda salientou como foi a experiência de participar da competição. “Entrar em contato com culturas diferentes e fazer amigos pelo mundo todo foi uma situação muito incrível”, diz o adolescente.

Ivna Gomes e Vinícius Armelin, primeiros medalhistas de ouro do Brasil na história
Ivna Gomes e Vinícius Armelin, primeiros medalhistas de ouro do Brasil na história
Foto: Arquivo Pessoal

Para chegar lá, eles participaram da Olimpíada Brasileira de Química, que na etapa de 2017/18 teve mais de 350 mil alunos participando. “Estamos em todas as unidades federativas, inclusive com capilaridade e presença no interior. Por exemplo, na Bahia, além da coordenação estadual que fica em Salvador, há mais de 80 coordenadorias municipais espalhadas pelo interior. Eles exercem as provas das olimpíadas nos estados”, conta o professor Sérgio Melo, coordenador geral da Olimpíada Brasileira de Química.

São seis fases no total, que acabam com um período de aprendizagem de uma semana na Unicamp para que os alunos trabalhem a parte prática. “O experimental é o nosso calo. A maioria dos alunos tem deficiência na prática porque um laboratório de química é caríssimo, os reagentes só podem ser usados uma vez ”, afirma Sérgio Melo. Tanto Ivna quanto Vinicius tem acesso a um laboratório nas escolas, o que facilita os estudos.

Como são entregues medalhas na Olimpíada de Química?

“Na Olimpíada Internacional temos um exame prático e um teórico, cada um com 5 horas de duração. O exame prático vale 40% do total de escores, e o teórico, 60%”, explica Ivna. As medalhas são distribuídas com base em um ranking das notas dos dois exames. “Os 10% primeiros ganham medalha de ouro, os 20% seguintes, prata, e o 30% seguintes, de bronze. Além disso, são agraciados com menção honrosa 10 alunos”, conta a estudante.

A avaliação prática desse ano teve três experimentos. “Uma síntese de composto orgânico, um de cinética química e um de determinação de amostra de água mineral. Esse último foi o mais legal, eles deram uma garrafa de água e pediram pra determinar de qual fonte da Eslováquia era aquela água, segundo uma tabela de comparação que eles deram”, afirma Vinicius. Já a teoria consistiu de oito perguntas de nível de graduação ou pós-graduação de química, sobre Físico-Química, Química Orgânica, Inorgânica e Bioquímica.

“Foi extremamente gratificante. Provar que para nós, brasileiros, o ouro não é algo inalcançável, e que podemos competir de igual para igual com outros países, é saber que vamos inspirar as próximas gerações de olímpicos”, conta Ivna.

Delegação brasileira na Olimpíada Internacional de Química (IChO) de 2018, disputada na República Tcheca
Delegação brasileira na Olimpíada Internacional de Química (IChO) de 2018, disputada na República Tcheca
Foto: Arquivo Pessoal

Os estudos

Os dois medalhistas de ouro do Brasil começaram a se interessar pela Química na escola, com a influência de professores e a curiosidade de participar das competições. O professor Sergio Melo explica normalmente que os estudantes que participam das competições começam com cerca de 13 anos.

“São alunos do ensino fundamental, do 8º ou 9º ano. A gente não baixa mais porque eles só vão ver conteúdo de química a partir dessa série. Não adianta porque a gente acaba desestimulando ao invés de estimular”, acredita o docente, que diz ser norma que os representantes em disputas internacionais tenham 16 ou 17 anos, “quando eles chegam no ápice”.

Ivna disputou esse ano sua segunda Olimpíada Internacional de Química. Em 2017, ela fez parte da equipe que foi à Tailândia e voltou com uma medalha de prata. “Percebi que tinha aptidão para o campo quando consegui absorver o conteúdo com relativa facilidade e me sair bem nas competições das quais participava, em 2015”, disse Ivna. Vinicius seguiu uma linha parecida. “Descobri que gostava de química só no primeiro ano mesmo, quando comecei a participar de aulas de olimpíada no colégio”.

O paulista, inclusive, não é muito fã de estudos ininterruptos. Além das aulas regulares, ele se dedicou a estudar no tempo livre e em partes do final de semana, mas sem se cobrar muito. “Nunca tive uma rotina de estudos muito pesada. Não ia aguentar, sinceramente”, afirma.

Representatividade

Ivna, única mulher da equipe em 2018, superou outro obstáculo: a falta de mulheres que competem em olimpíadas desse tipo. “A participação feminina nessas competições (olimpíadas nacionais e até mesmo as internacionais) sempre beira os 10% do total de participantes, e isso se vê em olimpíadas de química, física, matemática, informática, etc. É um padrão que mostra um obstáculo difícil de ser superado, um gender gap difícil de ser transposto, mas não impossível”.

Inclusive, ela começou uma página no Facebook para incentivar o protagonismo feminino nos ambientes olímpicos, a Meninas Olímpicas. Junto com Mariana Bigolin, que compete em Matemática, elas buscam depoimentos de meninas e divulgar os resultados delas nos torneios.

“Os estereótipos conseguem moldar as preferências de muitas meninas, preferências essas que podem influenciar seu gosto pelas matérias nas escolas, diminuindo seu gosto por ciências e por ciências exatas, e até serem decisivas nas escolhas de carreira. Acredito que essa lacuna de gêneros que, aliás, às vezes é muito perceptível, deve ser combatida, para que nós, meninas, sejamos parte expressiva não só da ciência, mas de todas as áreas em que ainda somos poucas.

Delegação brasileira na Olimpíada Internacional de Química (IChO) de 2018, disputada na República Tcheca
Delegação brasileira na Olimpíada Internacional de Química (IChO) de 2018, disputada na República Tcheca
Foto: Arquivo Pessoal

Fuga de cérebros

O termo “fuga de cérebros” é utilizado para tratar da emigração de intelectuais de seus países de origem para outras nações. Com os jovens brasileiros que participam de Olimpíadas Internacionais não é diferente. O professor Sérgio Melo disse que uma coisa que acontece com frequência é que os alunos ganhem bolsas nos Estados Unidos e não voltem mais ao Brasil. “Me incomoda e muito. Os 15 melhores do ano passado foram para universidades americanas bem ranqueadas, como MIT, Caltech, Harvard, Yale… é um futuro mais promissor.”

Ele comemorou a decisão da Unicamp de abrir uma cota para os participantes de Olimpíadas. “Quem já se destaca nacionalmente pode ingressar sem vestibular através de uma indicação nossa”, afirma. Outro problema é a falta de recursos para bancar a Olimpíada Brasileira. Desde o ano passado, a Dow, empresa do setor químico, tem parceria com a OBQ. Essa verba, em conjunto com um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), cobre o processo seletivo e de capacitação dos alunos.

Fonte: Redação Terra
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