|
A Anistia Internacional apontou
a Fundação Estadual para o Bem-Estar
do Menor (Febem) com palco de de grave violação
de direitos humanos, onde impera um sistema de tortura,
e o governo de São Paulo não faz nada
para alterar esse quadro. Ao divulgar em Londres,
sua sede, o relatório "Brasil, Desperdício
de Vidas", a Anistia acusa o governo paulista
de usar o temor da população com a segurança
pública para justificar a construção
de novas unidades para os internos da Febem, sem tocar
nos problemas reais da instituição.
A Anistia Internacional conclui também que
o Estatuto da Criança e do Adolescente está
tendo pouca aplicação no País,
principalmente em São Paulo, apesar dos esforços
do Ministério Público e Conselhos Tutelares.
O estudo, contido num detalhado documento de 30 páginas,
procura analisar as razões da crise na Febem,
que atingiu seu ápice em 24 de outubro de 1999,
quando uma rebelião causou a morte de 4 internos,
58 feridos - entre eles 29 funcionários - e
a fuga de vários menores. Segundo a pesquisadora
da Anistia Internacional, Julia Rochester, desde então
nada mudou na instituição.
"Continua o caos, continuamos recebendo denúncias
semanais de torturas, tratamentos terríveis,
espancamentos, humilhações, há
uma tolerância semi-oficial", disse.
Segundo o relatório da Anistia, "em lugar
de reconhecer e enfrentar as violações
dos direitos humanos que motivaram a espiral de violência
e destruição nas unidades da Febem,
as autoridades exploraram a preocupação
legítima da população ante o
crime violento, caracterizando a crise simplesmente
como uma questão de segurança pública.
As medidas que as autoridades tomaram para lidar
com o círculo vicioso de tortura e rebelião
concentraram-se quase que por completo na contenção
dos internos em estabelecimentos carcerários
de segurança máxima."
Julia Rochester afirmou que o governo conta com a
complacência do Tribunal de Justiça de
São Paulo. A Anistia Internacional quer que
o governo de São Paulo reconheça "imediatamente"
que a Febem significa um problema de violação
dos direitos humanos. "O Brasil é um dos
países do mundo com maior índice de
violência e precisa de um sistema eficiente
de recuperação de menores infratores.
Mas o governo precisa aplicar a lei e remodelar todo
o sistema atual", diz a Anistia.
Febem responde a relatório
A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento
Social divulgou ontem um comunicado à Imprensa
informando que, com relação ao relatório
divulgado pela Anistia Internacional sobre a Fundação
Estadual do Bem Estar do Menor (Febem), "não
está medindo esforços para qualificar
e requalificar seus Recursos Humanos".
De acordo com a nota, foi criado o Sistema de Ouvidorias
para atender as unidades da Febem. Por enquanto, estão
em funcionamento as do Tatuapé, Raposo Tavares
e Franco da Rocha. Segundo o comunicado, em seis meses
passaram pelo programa de capacitação
1.446 funcionários.
A secretaria informou ainda que a Febem dispõe
de 43 unidades educacionais com salas de aula, áreas
de lazer e atividades culturais. "São
oferecidas 30 modalidades de cursos profissionalizantes
como informática e oficina mecânica."
De acordo com o documento, unidades novas ou reformadas,
hoje em obras, "cumprem as diretrizes do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA)". Quartos
para até dez jovens têm banheiro e água
quente. Há projetos de instação
de Plantões Sociais nas delegacias, com psicólogos,
assistentes sociais e advogados.
Redação
Terra / O Estado de S. Paulo
|