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O tratamento de adolescentes
infratores, sobretudo em privação de
liberdade, é o calcanhar de aquiles na aplicação
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Uma das áreas mais polêmicas da legislação
infanto-juvenil, ela é, em muitos Estados,
desrespeitada e mal interpretada.
Segundo o Unicef, o País não tem nenhuma
instituição 100%, que possa ser apontada
como um modelo ideal. Mas há alguns ensaios,
como na Bahia. O segredo do sucesso, para os especialistas,
é cumprir a lei.
"Nos últimos dez anos houve um esforço
coletivo da sociedade e de alguns governos em entender
o ECA, mas ainda há gente que não consegue
se desvencilhar do Código do Menor", analisa
a diretora do Departamento da Criança e do
Adolescente do Ministério da Justiça,
Olga Câmara. "É preciso entender
o espírito da lei porque, ou protegemos nossas
crianças agora, ou teremos adultos com problemas
no futuro."
Olga reconhece que parte das instituições
responsáveis pela recuperação
de infratores ainda age sob a ótica repressiva
da lei anterior, na qual, se um jovem era infrator,
era preciso colocá-lo num lugar fechado para
que a sociedade não sofresse sua ação.
"O que se pretende é mudar essa visão
e tratá-lo em vez de escondê-lo, para
que ele não saia de um presídio de menores
e acabe num presídio de maiores."
O gerente do Programa de Reinserção
Social do Adolescente em Conflito com a Lei do Ministério
da Justiça, Anselmo Carvalho, esclarece que
apenas 10% dos delitos cometidos no País têm
como autor um menor de idade e nega que o adolescente
infrator receba menos punição que um
adulto criminoso. "A cobrança da sociedade
e das instituições é até
maior, mas existe resistência em se observar
isso."
De acordo com o gerente, a não-colocação
do estatuto em prática faz com que se criem
mitos como esses. "Muitas vezes a lei é
até mais severa com os adolescentes: um adulto
primário que cumpre um terço da pena,
por exemplo, é posto em liberdade, o adolescente
não; do mesmo modo, para alguns crimes o adulto
pode simplesmente pagar fiança e sair, o jovem,
não."
Redação
Terra / O Estado de S. Paulo
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