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Coronavírus

Menina de 9 anos doa refeições com as moedinhas do cofre

Moradora da Barra da Tijuca, no Rio, Antonella faz questão de participar das ações semanais com a mãe e o padrasto

26 mai 2020 - 14h50
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O diretor de cinema Sherlon Adley e sua esposa Taís Semeraro, incomodados com o impacto da chegada da covid-19 ao Rio, decidiram unir forças para tentar atenuar o sofrimento de dezenas de moradores da cidade em situação de rua. Enquanto planejavam algumas ações, acabaram surpreendidos pelo gesto de Antonella Semeraro, filha de Taís e enteada de Sherlon. A menina reclamava da demora na ajuda, foi ao quarto, pegou seu cofre e retirou e contou todas as moedas: R$ 122. “Quero comprar quentinhas com esse dinheiro.”

Não havia mais nada que impedisse o casal de agir. A iniciativa de Antonella era a senha que faltava. Sherlon e Taís então montaram a lista de compras e foram ao supermercado na companhia dela. Aquela reação espontânea os comoveu e serviu como estímulo para que pusessem o plano em ação.

Família distribui alimentos e atenção a moradores em situação de rua na zona oeste do Rio
Família distribui alimentos e atenção a moradores em situação de rua na zona oeste do Rio
Foto: Divulgação

“Fiz questão de usar os 122 reais, valor utilizado para a compra de biscoitos, guaraná natural, sobremesa e agua mineral. Ela pagou tudo isso. Completei com o restante das mercadorias para nossa primeira entrega”, conta Sherlon ao Terra. Com o apoio de amigos e vizinhos, o casal conseguiu panelas industriais e foi recebendo produtos de higiene, alimentos, roupas e máscaras protetoras de quem queria participar da campanha.

A partir de então – início de abril -, o trio passou a sair às ruas todas as quintas-feiras para doar refeições a cerca de 70 pessoas que vivem espalhadas pela Barra da Tijuca e Recreio, bairros da zona oeste do Rio.

“Mais do que lhes oferecer refeições, estamos criando vínculos com vários deles. Chamamos alguns pelo nome, e perguntamos se podemos lhes doar as quentinhas. A resposta é uma lição de vida”, diz Sherlon.

Outro dia, um dos moradores, Paulo Sérgio, tirou do pescoço um cordão e o entregou à Antonella como forma de gratidão. “Ele disse assim, olhando para a minha filha: ‘meu cordão não é de ouro nem de prata, mas Deus tem muitas riquezas e a maior riqueza que você tem é a do coração puro’. Eu chorei muito, o Paulo Sérgio, que ficou com deficiência física depois de levar 16 tiros, também chorava. Muito emocionante” relata Taís.

Já são sete semanas de trabalho intenso na casa de Sherlon e Taís. Eles também cozinham, preparam as embalagens e saem de carro para a distribuição. Ao saber de outras carências na vida daqueles assistidos – ouvem as histórias dos novos amigos com atenção -, tentam agora ajudá-los em outras frentes, como na orientação para que tirem documentos e entrem em contato com suas respectivas famílias.

Antonella participa de todas as etapas da ação que seu padrasto e sua mãe coordenam na Barra da Tijuca
Antonella participa de todas as etapas da ação que seu padrasto e sua mãe coordenam na Barra da Tijuca
Foto: Divulgação

“Levamos às vezes remédios e mantas. Fazemos isso em silêncio, por amor”, explica Taís. Ela, o marido e Antonella acreditam, no entanto, que a divulgação de casos assim podem ter efeito multiplicador.

“Veio a pandemia, restaurantes e bares fecharam e muitos dos que distribuíam alimentos, agora com medo de contaminação, permanecem retidos em casa; assim, essas pessoas hoje nas ruas ficaram mais vulneráveis ainda”, prossegue a mãe da menina de 9 anos – ambas já empenhadas na próxima ronda de solidariedade pela noite da Barra da Tijuca, onde moram, e do Recreio. Quem quiser se juntar ao trio pode entrar em contato pelo whatsapp (21 99756-5906) ou pelo Instagram (@sherlonadley).

Fonte: Silvio Alves Barsetti
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