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Coronavírus

Covid-19: sociedades médicas recomendam check-up no coração para retomar exercícios

Vírus pode causar sequelas no órgão e complicações podem até levar à morte; avaliação e eletrocardiograma devem ser realizados

12 dez 2020 - 22h19
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A retomada ou o início de atividades físicas após um quadro de covid-19 não deve ser feita sem um check-up cardiológico. Mesmo em pacientes que apresentaram sintomas leves, é possível que o vírus cause alguma sequela no órgão, que pode levar a complicações e até à morte. O alerta foi feito pelas Sociedades Brasileiras de Cardiologia (SBC) e de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), que elaboraram um documento com base em estudos que apontaram a relação entre a infecção pelo vírus e problemas no coração.

No documento, as entidades citam a análise de dados da China, da Itália e dos Estados Unidos, além de estudos sobre a doença, que indicaram a ocorrência de lesão cardíaca em 20 a 30% dos pacientes hospitalizados e ligação com a morte de 40% dos infectados. Arritmias, miocardite e insuficiência cardíaca estão entre complicações que podem aparecer.

Tanto para esportistas recreativos quanto para atletas que tiverem a doença, as sociedades recomendam a avaliação médica e um eletrocardiograma como procedimentos básicos para poder se exercitar após ter a infecção. Também é necessário aguardar o desaparecimento dos sintomas. Dependendo dos resultados, novos exames podem ser solicitados.

"O que motivou a elaboração do documento foi o relato de problemas cardíacos em pacientes assintomáticos. Já sabíamos que o coração pode ser acometido em casos de viroses, porque os vírus podem inflamar o coração. Com covid, acontece em frequência maior na literatura internacional e é mais comum no indivíduo que teve quadro grave. Um trabalho alemão estudou 100 pacientes após 70 dias de recuperação e 70% tinham alguma alteração no exame de ressonância magnética cardíaca", explica Cléa Simone Sabino de Souza Colombo, presidente do grupo de estudos de cardiologia do esporte da SBC e coordenadora do documento.

Segundo a especialista em cardiologia e medicina do esporte, a principal preocupação dos especialistas é verificar se o paciente teve como sequela a miocardite, inflamação no músculo do órgão.

"Ela pode causar arritmia e, na prática do exercício, principalmente nos mais intensos, como crossfit, spinning e triatlo, pode ser grave e levar à morte súbita."

Médico especialista em medicina do exercício e do esporte da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Marcelo Leitão explica que, no caso de diagnóstico de miocardite, é necessário fazer um acompanhamento e pausar as atividades físicas.

"Esse quadro é diagnosticado com vários métodos, como eletrocardiograma e dosagem de enzimas cardíacas, principalmente a troponina, mas o melhor exame é a ressonância magnética cardíaca. Quando se faz exercício na miocardite, pode, muitas vezes, aumentar a inflamação e piorar a evolução da miocardite. O indivíduo que tem o diagnóstico tem de ficar sem atividade física no período entre três a seis meses e tem de ser reavaliado."

Com os resultados normalizados, é possível voltar a se exercitar.

Cléa diz que a recomendação não significa que quem teve covid-19 não pode fazer atividade física, mas que a prática deve ser retomada após a realização de exames.

"O que a gente ressalta é que fazer atividade física melhora a saúde, o indivíduo tem uma imunidade melhor, pode responder melhor em uma fase aguda e não ser obeso também é um fator positivo. No caso da recuperação pós-covid, os que ficam internados têm perda muscular grande, a sarcopenia, e praticar exercícios é importante."

No início de novembro, o empresário Bernardo Carvalho, de 37 anos, foi diagnosticado com covid-19. Ele não foi hospitalizado e se recuperou em casa, mas só retomou a rotina de exercícios após consulta com um cardiologista.

"Faço bastante esporte. Corrida de longa distância, futebol, natação, musculação, futevôlei. Soube de um triatleta amador que teve um infarto nadando e quis fazer um check-up cardiológico para voltar às atividades sem nenhum problema."

Mesmo com o quadro cardíaco normal, ele cumpriu um intervalo de duas semanas após a recuperação e voltou a se exercitar em um ritmo mais lento.

"Estou indo bem, mas ainda estou em um plano de voltar de forma gradativa. No pós-covid, a pessoa fica ofegante e cansa mais fácil, perde musculatura e força por ficar 14 dias deitado. O retorno é como se fosse em uma linha de fisioterapia."

A professora Etelvina Mendes, de 46 anos, não chegou a ir a um cardiologista, mas buscou um médico que a acompanha após ser diagnosticada com o novo coronavírus. Ela teve a doença em maio e só voltou a pedalar em agosto. Para a musculação, retornou em novembro.

"Tenho fibromialgia, tive muita indisposição e achei que era da doença. Fiquei de cama, com dor de cabeça, no corpo, dor de garganta, mas não tive febre nem falta de ar."

Como se sentia cansada ao pedalar, foi ao pneumologista. "Eu já fazia atividade física há quatro anos, então, o pneumo pediu uma ressonância e deu dentro do padrão. Ele vai fazer o encaminhamento para o especialista se for preciso."

Preocupação

Em academias, a possibilidade de complicações em pessoas que tiveram a covid-19 é uma preocupação. "Enfatizamos para não voltar com a mesma carga nem com o mesmo tipo de série. Tem de ver individualmente o histórico e o que pode ser feito. Ainda porque temos de atrelar o uso da máscara e evitar desconforto, saber o tipo de máscara ideal", diz Eduardo Netto, diretor técnico da academia Bodytech.

Os professores também receberam orientações para passar informações sobre a necessidade de check-up. "Estão orientando, quando tem um caso, diminuir a intensidade ao voltar e fazer testes específicos. Eles têm de passar a informação até porque os alunos pedem recomendações sobre doenças."

Cardiologista e médico do esporte do HCor, Nabil Ghorayeb destaca a importância de seguir as recomendações para evitar a infecção pelo novo coronavírus.

"Por alguma razão muito peculiar da covid, é muito mais frequente encontrar miocardite por covid do que por outras viroses, do que influenza, por exemplo. A gente ainda não tem um levantamento, mas já sabemos que é uma doença traiçoeira e não sabemos quem vai ter complicações. Estamos aprendendo sobre a doença no meio da pandemia. Então, as pessoas têm de levar a sério, tomar muito cuidado, usar máscara e álcool em gel, fazer distanciamento, porque temos uma doença no ar."

Estadão
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