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Coronavírus

Como lidar com o luto em tempos de covid-19

Doutora em Psicologia pela USP sintetiza as perdas a partir da pandemia

30 jun 2020 - 13h14
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O advento do novo coronavírus impôs mudanças profundas nos rituais sagrados de pós-morte, notadamente em culturas como a do Brasil. A impossibilidade de parentes e amigos se despedirem das vítimas da doença, o fato de a urna vir lacrada e o próprio distanciamento protocolar entre os que compartilham a dor na hora derradeira do sepultamento são exemplos de uma realidade recente – adaptada às exigências sanitárias.

Com isso, o processo do luto sofre interferências, desorganiza-se e deixa de ter seu encaminhamento tradicional, como observa a doutora em Psicologia pela USP, Lucélia Elizabeth Paiva.

“Não conseguir acolher a concretude da morte pode levar a alterações comportamentais, emocionais, cognitivas. É importante passar pelos rituais de despedida e retomar a vida. Há uma fissura nesse processo quando não é possível dizer adeus a quem se ama”, explica.

Lucélia Paiva, doutora em Psicologia pela USP: "A falta do corpo nos rituais de despedida pode gerar um luto mais complicado."
Lucélia Paiva, doutora em Psicologia pela USP: "A falta do corpo nos rituais de despedida pode gerar um luto mais complicado."
Foto: Divulgação

Isso, porém, é só uma parte da representação do luto neste período em que a pandemia da covid-19 continua se disseminando país afora, provocando centenas de mortes a cada dia.

“A perda do emprego, da liberdade, do ir e vir, do vínculo com a pessoa que morreu, a impossibilidade de eu ser o que era antes, as restrições ao abraço, ao afeto; tudo isso leva ao luto, em suas várias manifestações. Reinventar-se neste momento é importante para lidar com os efeitos da pandemia.”

Lucélia alerta sobre algumas medidas que servem para a reestruturação de quem passou por essas privações recentemente. Ressalta, por exemplo, a importância de uma rede de apoio que dê suporte a quem se vê imerso em angústias e tristezas em decorrência de um luto.

“Trazer a pessoa ausente por meio de fotos, vídeos, recordações; isso é saudável. Criar um ritual que simbolize essa perda e aprender a conviver com a ruptura são atitudes positivas. É bom também aproveitar cada oportunidade para refazer relações, a fim de colher boas lembranças quando sentir saudades.”

Fonte: Silvio Alves Barsetti
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