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Em Madrid, Greta Thunberg tem recepção de celebridade

Com um blusa de capuz rosa enfiado na cabeça, um moletom por cima, mochila nas costas e um cartaz debaixo dos braços, Greta chegava à capital espanhola para participar da Conferência do Clima da ONU

11 dez 2019 - 19h43
(atualizado em 12/12/2019 às 05h01)
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MADRI - Com um blusa de capuz rosa enfiado na cabeça, um moletom por cima, mochila nas costas e um cartaz debaixo dos braços, uma garota pequena e magra desceu de um trem vindo de Lisboa para Madri na última sexta-feira, 6, antecedida por vários cliques de uma máquina fotográfica.

Na plataforma, alguns seguranças a esperavam, assim como dezenas de fotógrafos e câmeras de TV. Era a adolescente sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que chegava à capital espanhola para participar da Conferência do Clima da ONU e de uma grande marcha de jovens marcada para o final daquele dia para cobrar ações urgentes contra as mudanças climáticas.

Apesar de parecer apreensiva em vídeo que captou o momento, ela reagiu com bom humor ao assédio em sua conta no Twitter, que tem mais de 3,2 milhões de seguidores. "Consegui com sucesso me infiltrar em Madri nesta manhã! Acho que ninguém me viu… De qualquer forma, é ótimo estar na Espanha!", escreveu.

Algumas horas depois, participaria, com outros jovens de todo o mundo, de uma coletiva de imprensa, e naquela fria noite de quase inverno europeu, foi a estrela da marcha que reuniu mais de 500 mil pessoas.

Greta se tornou um símbolo da luta contra as mudanças climáticas e virou uma celebridade nesse meio. Nas três vezes em que esteve no centro de convenções onde ocorre a COP, gerou uma intensa comoção, mesmo em um ambiente geralmente sisudo de negociação internacional. No primeiro dia, as pessoas tentaram chegar perto dela para tocá-la. E todos os eventos dos quais ela participou ficaram lotados, com filas do lado de fora.

Greta se tornou a musa do clima após ter iniciado, há pouco mais de um ano, greves escolares às sextas-feiras em seu país para exigir dos governantes que agissem conforme o que foi previsto no Acordo de Paris, de manter o aquecimento do planeta a no máximo 1,5ºC até o final do século.

Ela inspirou jovens em todo o mundo com suas greves escolares que se transformaram na ação global Fridays for Future. Com discursos enfáticos, ela cobra responsabilidade dos adultos pela mudança que passa o planeta.

Acabou sendo alvo de críticas e fake news quase na mesma medida em que foi elevada ao nível de ídolo foi chamada de pirralha presidente Jair Bolsonaro, ao que respondeu colocando a palavra em seu perfil no Twitter.

Como disse um observador da sociedade civil que acompanha há mais de dez anos essas conferências, Greta talvez cause toda essa comoção porque ela realmente sente o pânico que todos deveríamos sentir diante de um planeta aquecido em 3ºC ou mais.

Em sua última aparição na COP, na manhã desta quarta-feira, 10, antes de iniciar a viagem de volta para casa, ela questionou os que se queixam do seu tom.

"Como ouvir alguns esses números e não ficar ao menos em algum grau em pânico? Como ouvir isso, sabendo que praticamente nada está sendo feito, e não ficar ao menos com um pouco de raiva? Como comunicar isso sem parecer alarmista? Eu realmente gostaria de saber", disse em um plenária da COP.

"Eu ainda acredito que o maior perigo não é a inatividade, o real perigo é quando políticos e CEOs estão fazendo parecer que uma movimentação real está ocorrendo quando, na verdade, quase nada é feito além de contabilidade inteligente e relações públicas criativas", acrescentou.

Para ela, ainda há esperança. "Eu tenho visto isso. Mas ela não vem dos governos nem das empresas", e sim da sociedade e das pessoas, que "começam a despertar" e liderar ações contra essa emergência.

* A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DO INSTITUTO CLIMA E SOCIEDADE (ICS)

Estadão
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