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Concentração de CO2 na atmosfera bate recorde; parte da Amazônia vira emissora de gás estufa

Segundo agência da ONU, em comparação à era pré-industrial, em 1750, os níveis de dióxido de carbono são 49% maiores; partes da Floresta Amazônica já têm mais emissão que absorção de gás carbônico

25 out 2021 - 08h27
(atualizado às 22h10)
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Mesmo com a redução de emissões na pandemia, a concentração de dióxido de carbono (CO2), principal gás responsável pelo efeito estufa, atingiu novo recorde ao ficar em em 413 partes por milhão (ppm), em 2020, conforme alerta nesta segunda, 25, a Organização Meteorológica Mundial (OMM). O aumento é de 0,6% ante 2019. Se comparado aos níveis da era pré-industrial, em 1750, os níveis de CO2 são 49% maiores. A entidade também aponta que partes da Amazônia já deixaram de absorver e se tornaram emissoras de gás carbônico, o que traz riscos ao planeta.

A agência das Nações Unidas (ONU) também prevê que, ao fim de 2021, os níveis de CO2 na atmosfera devem superar o recorde de 2020. A OMM estima que as medições do meio do ano, em observatórios como o de Tenerife (Espanha) e Havaí (EUA), podem indicar concentrações de até 419 ppm.

"A última vez que uma concentração comparável de CO2 foi registrada na Terra foi entre três e cinco milhões de anos atrás", diz o secretário-geral da agência, Petteri Taalas. "Naquela época, a temperatura era 2°C a 3°C mais quente, e o nível do mar, entre 10 e 20 metros mais alto do que hoje, mas não havia 7,8 bilhões de pessoas no planeta."

Outros gases responsáveis pelo efeito estufa também registraram aumento no ano passado, em comparação com 2018. As concentrações de metano (CH4) e óxido de nitrogênio (N2O) já são, respectivamente, 262% e 123% superiores às de 1750. A paralisação de setores importantes da economia global em 2020 - com a queda da atividade industrial e da circulação de veículos - motivou redução temporária nas novas emissões de CO2. Os lançamentos de gases derivados de combustíveis fósseis apresentaram queda de 5,6%.

Porém, conforme a OMM, isso "não teve efeito perceptível nos níveis de gases de efeito estufa", embora o crescimento anual na concentração de CO2 tenha sido ligeiramente menor. "Na atual taxa de aumento nas concentrações de todos esses gases, veremos um aumento de temperatura muito maior do que as metas de 1,5 ou 2 ºC do Acordo de Paris (pacto climático de 2015, assinado por 195 países)", afirma Taalas.

Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), a ser realizada em Glasgow, de 31 de outubro a 12 de novembro, a agência espera mostrar que os países devem tomar medidas urgentemente. "Muitas nações estão agora estabelecendo metas de neutralidade de carbono, e é de se esperar que, na COP-26, haja aumento dramático desses compromissos", diz Taalas. Segundo ele, as mudanças "são econômica e tecnicamente viáveis, e não há tempo a perder para adotá-las."

Planeta vê queda de sumidouros de gás carbônico

Conforme a agência, metade do CO2 emitido pela ação humana fica na atmosfera e a outra é absorvida por oceanos e ecossistemas terrestres (chamados, por isso, de sumidouros). A quantidade que permanece, por sua vez, indica o equilíbrio entre sumidouros e fontes emissoras, que muda anualmente por causa da variabilidade natural.

Nos últimos 60 anos, os sumidouros terrestres e oceânicos cresceram proporcionalmente com a alta das emissões, diz a OMM. Porém, a capacidade de absorção é influenciada negativamente pelas mudanças climáticas - fenômeno já ocorre na Amazônia.

A OMM informou que áreas da porção oriental da floresta deixaram de ser sumidouros e se tornaram fontes emissoras de CO2. "As regiões da Amazônia oriental têm aumento de temperaturas muito forte na estação seca, diminuição de chuvas e grande desmate, durante os últimos 40 anos", indica no boletim.

A região ocidental, por sua vez, apresenta baixos níveis de emissão ou são sumidouros do principal gás de efeito estufa. A agência atribuiu o fato a essa parte experientar relativa estabilidade na estação seca e menos interferência humana.

Estudo liderado por uma pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, já havia mostrado essa tendência. O trabalho, publicado na revista científica Nature em julho, aponta que o desmatamento, as temporadas de secas e os incêndios foram fatores decisivos para que algumas áreas da floresta passem a produzir mais CO2.

Estadão
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