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É libertador saber como o universo vai acabar, diz astrônoma

Em seu livro "O Fim de Tudo", a cosmóloga Katie Mack afirma estar ciente de como tudo terminará e diz que isso a liberta.

6 ago 2020 - 04h28
(atualizado às 05h43)
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Como será o fim do universo?
Como será o fim do universo?
Foto: NASA Goddard / BBC News Brasil

Expressões como "morte térmica", "grande implosão", "decomposição à vácuo" não parecem muito animadoras. E realmente não são.

Elas descrevem algumas das teorias apresentadas pelos cientistas sobre como o universo um dia morrerá.

No entanto, quando a cosmóloga Katie Mack pensa sobre o fim de tudo, ela sente uma paz profunda.

"Há algo em aceitar a transitoriedade da existência que te liberta um pouco", disse ela à BBC.

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Mack ainda se lembra vivamente da primeira vez em que teve consciência de que o universo poderia acabar a qualquer momento: ela estava com um professor e colegas de classe na universidade.

"Eu estava sentada no chão da sala do professor Phinney com o resto da minha turma de astronomia após nosso jantar semanal, e lembro que o professor estava com a filha dele de 3 anos no colo", escreveu ela em seu novo livro: "O fim de tudo."

Buracos negros fizeram Mack se interessar pelo universo
Buracos negros fizeram Mack se interessar pelo universo
Foto: JPL Caltech/NASA / BBC News Brasil

Ela aprendeu que os cientistas não têm a menor ideia de por que o universo se expande de tal maneira — a chamada inflação cósmica — e isso significa que eles também não podem afirmar que o espaço não começará a se destruir violentamente a qualquer momento.

"Eu transformei aquilo numa questão pessoal. Pensei que já que todo o universo tem esses processos que ocorrem o tempo todo, em princípio isso também pode acontecer comigo. Eu estou no universo, sou parte dele, e não tenho como me proteger de tudo isso", conta.

"Uma das coisas que procuro com este livro é compartilhar um pouco desse terror, que pode parecer mesquinho, mas é para ajudar as pessoas a terem uma conexão mais pessoal com o que acontece no universo", acrescenta.

O que está acontecendo no espaço fascina Mack desde que ela era pequena. Mas ser uma empregada doméstica em Los Angeles não lhe deu muito acesso ao que a maioria dos astrônomos diriam que os inspiraram a seguir essa carreira.

"Ali você não pode ver a Via Láctea. A duras penas você consegue ver as estrelas", diz Mack, que trabalhou como pesquisadora nas universidades de Caltech, Princeton, Cambridge e agora na Universidade Estadual da Carolina do Norte.

Em vez disso, foram "todas as coisas raras" que a levaram para esse caminho: "Todas essas coisas que torcem seu cérebro, como buracos negros e espaço-tempo".

Esse panorama das estrelas é algo que Katie Mack não pôde ver durante seus anos de estudos em Los Angeles
Esse panorama das estrelas é algo que Katie Mack não pôde ver durante seus anos de estudos em Los Angeles
Foto: Penguin / BBC News Brasil

Quando soube que Stephen Hawking se rotulava como um cosmólogo, ela soube "o que queria ser".

Devo esclarecer que não passei nos exames de ciências para obter o certificado do ensino médio, por isso imagino que deve haver melhores repórteres para entrevistar uma astrofísica teórica.

Mas depois de acumular 350 mil seguidores no Twitter, Mack aprimorou sua capacidade de falar com pessoas comuns e é para mentes não científicas que seu livro é voltado.

Não vou fingir que entendi todos os conceitos de seu livro, mas Mack reconhece que "não é para folhear e absorver tudo imediatamente".

"Dar um tempo"

"Eu sei que muitos escritores científicos tentam evitar isso completamente e querem guiar os leitores por todos os detalhes, mas acho que às vezes é recomendável dar um tempo."

Palavras simples como "morte térmica" são fáceis de entender, e isso é bom porque é a maneira mais provável de o universo acabar.

A morte térmica pode não ser assim, mas, seja o que for, não queremos fazer parte dela
A morte térmica pode não ser assim, mas, seja o que for, não queremos fazer parte dela
Foto: MSFC / BBC News Brasil

"É a ideia de que o universo se expande e se expande até esfriar e tudo desmoronar e desaparecer", diz Mack, reconhecendo que não é a "probabilidade mais fascinante".

"A que eu acho mais engraçada é a decomposição à vácuo. Talvez divertida não seja a palavra que devo usar em relação à destruição do universo, mas o conceito é divertido.

"Ela altera algo nas equações e logo é possível que algum tipo de bolha da morte se materialize em algum lugar do universo e se expanda na velocidade da luz destruindo tudo".

A ciência não pode descartar essa possibilidade.

"A única coisa que nos faz duvidar do que aconteceria é que ela existe naquele âmbito em que não podemos testar nenhum aspecto da teoria. Portanto, não sabemos se algo mudaria teoricamente nessa situação de alta energia", diz ele.

"Provavelmente não vai acontecer nos próximos trilhões e trilhões e trilhões de anos. Mas tecnicamente isso pode acontecer a qualquer momento."

Podemos ver como o universo foi formado, mas Mack está interessada em como ele terminará
Podemos ver como o universo foi formado, mas Mack está interessada em como ele terminará
Foto: NASA Goddard / BBC News Brasil

São pensamentos desse calibre que Mack sustenta que não podem dar um "senso de perspectiva".

"Muitos aspectos da vida moderna são projetados para tentar nos convencer de que estamos completamente seguros, protegidos e no controle de tudo que nos rodeia. E isso simplesmente não é verdade. Evidentemente, o mundo está passando por uma situação que está impulsionando essa mensagem".

"Mas também de uma perspectiva cósmica, estamos dentro deste universo e temos que aceitar o que ele nos dará."

O Newsbeat é um programa da Radio 1 da BBC que pode ser ouvido em inglês aqui.

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