Vídeo de produtores jogando arroz fora no Paraná foi gravado no governo Temer
IMAGENS VOLTARAM A CIRCULAR FORA DE CONTEXTO; HOMEM QUE PROTESTOU NA ÉPOCA DISSE QUE NÃO HOUVE MANIFESTAÇÕES RECENTES
O que estão compartilhando: vídeo de um protesto de produtores de arroz no interior do Paraná. Eles jogam parte do alimento colhido na rua. Legenda sobreposta ao vídeo diz que eles estariam culpando o governo Lula pela queda no preço do produto.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O protesto realmente aconteceu, mas em maio de 2018. O vídeo foi gravado na época do governo de Michel Temer. Produtores rurais do município de Querência do Norte (PR) reuniram-se em frente a uma agência do Banco do Brasil para reclamar dos prejuízos na safra do arroz. Um homem que aparece no vídeo protestando contou ao Verifica que não houve manifestações recentes.
Saiba mais: um perfil do Instagram compartilhou um vídeo de um protesto e disse que ele teria ocorrido no último dia 16 de outubro, em Querência do Norte (PR). As cenas mostram dezenas de produtores rurais reunidos em volta de um monte de arroz espalhado em frente a uma agência do Banco do Brasil.
Um deles diz que não compensa mais plantar o grão e que o País está sendo governado por uma quadrilha. À gravação foi adicionada a seguinte legenda: "Tristes com a queda dos preços no Brasil, produtores culpam Lula e jogam arroz na calçada".
Feita no dia 20 de outubro de 2025, a postagem ultrapassou 183 mil visualizações até a publicação deste texto.
Vídeo foi gravado em 2018
Apesar de o protesto realmente ter acontecido, ele não é atual, como diz a postagem que viralizou no Instagram. Com uso da busca reversa de imagens (aprenda a usar aqui), o Verifica encontrou informações sobre essa manifestação que datam de maio de 2018. Uma delas foi publicada no perfil da BandNews, no Facebook. Confira:
A emissora informou que, assim como os caminhoneiros protestavam na época, os produtores reclamavam do alto valor do diesel e contavam os prejuízos na safra do arroz.
Em determinado momento, o produtor rural que aparece falando no vídeo diz: "Nós vamos fazer esse ato, nós vamos nos juntar com os caminhoneiros para pedir para esse Brasil um basta".
O protesto dos rizicultores de Querência do Norte ocorreu em 22 de maio de 2018, um dia depois de caminhoneiros iniciarem uma greve que paralisou o País. A manifestação causou uma crise sem precedentes no abastecimento do Brasil, levando o governo de Michel Temer a criar um pacotão de medidas para a categoria.
Homem recebeu mensagens após vídeo voltar a circular
O homem que deu a declaração à BandNews no protesto é o produtor rural Celso Anghinoni. Ele relatou que tem recebido mensagens sobre o vídeo de 2018 que voltou a circular fora de contexto.
"Inclusive, procurei um advogado pra ver o que eu poderia fazer", disse em entrevista ao Verifica.
Um dos vídeos enganosos o identifica como um apoiador de Jair Bolsonaro. "Bolsonarista ataca Lula porque o arroz tá barato", diz a legenda adicionada ao conteúdo que circulou no grupo de WhatsApp da família de Anghinoni.
O produtor faz parte do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Também é membro da Cooperativa de Comercialização da Reforma Agrária Avante (Coana), criada em 1995 para distribuir e comercializar a produção agrícola das famílias assentadas pela reforma agrária. Anghinoni estima que elas são responsáveis pela produção de cerca de 39% do arroz irrigado do município.
Preço do arroz em queda
Querência do Norte é considerada a capital do arroz irrigado no Paraná. De acordo a prefeitura, das 130 mil toneladas de arroz irrigado produzidas no Paraná na última safra, 44 mil toneladas saíram do município, o que corresponde a 33,8% do total.
Na avaliação de Anghinoni, o vídeo do protesto voltou a circular agora por conta de preços baixos no arroz neste momento. No Paraná, os preços do produto recuaram 45% em setembro de 2025 frente ao mesmo mês de 2024, de acordo com o boletim do dia 9 de outubro, do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Estado.
Recentemente, o governo federal, via Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), anunciou ações para escoar 630 mil toneladas de arroz da safra 2024/25. O objetivo é reequilibrar os preços, escoar o excedente e garantir renda ao produtor.
O produtor rural Anghinoni diz que iniciativas como esta que buscam assegurar um preço justo para o arroz são bem-vindas.
"Foi o que não aconteceu naquele tempo em que fizemos o protesto", opinou. Para ele, Temer e o ex-presidente Jair Bolsonaro acabaram com as políticas sociais e de apoio à agricultura familiar.
Esse conteúdo foi checado também pela Reuters, pelo Fato ou Fake e pela Lupa.