Metástase é principal causa de morte de pacientes com câncer, não tratamento com radiação
VÍDEO MENTE AO DIZER QUE QUIMIOTERAPIA E RADIOTERAPIA SERIAM AS VERDADEIRAS RESPONSÁVEIS PELO FALECIMENTO DE PACIENTES ONCOLÓGICOS; ESPECIALISTAS ENFATIZAM QUE BENEFÍCIOS DOS TRATAMENTOS SUPERAM RISCOS
O que estão compartilhando: vídeo em que um homem afirma ter identificado em autópsias que é o tratamento com radiação contra câncer, e não a própria doença, que causa a morte de pacientes.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A metástase é de longe a principal causa de morte por câncer, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A metástase ocorre quando as células do tumor se multiplicam e se espalham para outros órgãos do corpo. Mortes relacionadas à quimioterapia e à radioterapia são bem menos frequentes, e geralmente estão ligadas a fatores como idade avançada, infecções graves e estágios avançados do câncer. Especialistas ressaltam que os benefícios do tratamento superam riscos. O paciente deve ser acompanhado de perto por profissionais, para identificar problemas em etapas iniciais e tratá-los da forma adequada.
O autor da postagem no Instagram foi contatado, mas não respondeu até a publicação desta checagem.
Saiba mais: O vídeo é um trecho traduzido de uma entrevista em inglês. O homem diz que, em todas as autópsias que fez em pacientes com câncer, nenhum morreu pela doença. Segundo ele, as causas das mortes foram por insuficiência hepática, renal ou cardíaca, em razão da quimioterapia e da radioterapia.
Foi possível identificar a origem do vídeo com a busca reversa de imagens (veja aqui como fazer). O entrevistado se chama Michael Farley, identificado como consultor em Patologia Forense. A entrevista é de 2012, e o foco era discutir os benefícios da fitoterapia, o uso de plantas medicinais ou vegetais para efeitos terapêuticos.
Benefícios dos tratamentos contra câncer superam os riscos
A quimioterapia é um tipo de tratamento que usa medicamentos para combater o câncer. Já a radioterapia usa a radiação para destruir as células do tumor ou impedir que elas se multipliquem. Outros recursos são a cirurgia ou o transplante de medula óssea. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) explica que, em muitos casos, é necessário combinar mais de uma modalidade de tratamento.
Os tratamentos são indicados de acordo com o tipo, formação, estrutura e extensão do câncer, de acordo com a médica oncologista Andreia Melo, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico da Coordenação de Pesquisa e Inovação do Inca. O médico responsável também deve considerar características do paciente, como a idade e comorbidades, na hora de escolher o melhor tipo de tratamento.
"Todos esses aspectos são considerados ao se definir o melhor tratamento para aquele indivíduo", afirmou Andreia.
Andreia explica que as doses de radioterapia são rigorosamente calculadas. Segundo ela, é incomum a quimioterapia causar insuficiência hepática, cardíaca ou renal, como afirmado no vídeo.
"É preciso entender que os benefícios do tratamento superam o risco, e que o paciente oncológico é acompanhado muito de perto pelo oncologista", disse.
A médica também destaca que são realizados exames periódicos, a fim de identificar toxicidades em graus iniciais e tratá-las da forma adequada.
Os tratamentos contra câncer passam por rigorosa avaliação de segurança e eficácia pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), antes de serem implementados no Sistema Único de Saúde (SUS).
Nenhum dos tratamentos tem toxicidade inaceitável, segundo o professor titular de Oncologia da Universidade de São Paulo (USP) Roger Chammas, diretor do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.
"Depois de um tempo do registro, se porventura a gente descobre um efeito tóxico não previsto, tiramos o medicamento do mercado", explicou.