Saiba que cuidados adotar ao consumir bebidas alcoólicas e como identificar possíveis fraudes
RECOMENDAÇÃO DE AUTORIDADES É SÓ CONSUMIR PRODUTOS DE PROCEDÊNCIA CONHECIDA E DESCONFIAR DE PREÇOS MUITO ABAIXO DO MERCADO
Os casos de intoxicação por metanol adicionado irregularmente em bebidas alcoólicas têm provocado receio na população, especialmente no que diz respeito ao consumo de destilados, como gin, vodka e whisky. Até o momento, 29 casos foram confirmados no Brasil, com cinco mortes. Ainda há 217 casos e 12 mortes em investigação, e 249 suspeitas descartadas. Para garantir o consumo seguro de bebidas alcóolicas, as autoridades recomendam ser criterioso na escolha do produto e do estabelecimento, além de adotar cuidados adicionais.
Primeiro, é fundamental conhecer a procedência da bebida que está sendo consumida. O Ministério da Saúde recomenda que as pessoas não consumam bebidas alcoólicas vendidas de maneira informal, sem rótulo, lacre de segurança ou selo da Receita Federal. O Ministério da Agricultura e Pecuária fiscaliza e regulamenta o mercado de bebidas alcoólicas no Brasil e, atualmente, há 10.170 estabelecimentos registrados.
Governos e setor orientam estabelecimentos e consumidores
Diante do aumento incomum de casos de intoxicação, o Ministério da Saúde criou uma Sala de Situação para acompanhar sistematicamente as informações. Uma das respostas à crise é a orientação à população. A pasta orienta que as pessoas:
Não consumam bebidas alcoólicas vendidas de forma informal, sem rótulo, sem lacre de segurança ou sem o selo fiscal da Receita Federal;Desconfiem de produtos com preços muito abaixo da média do mercado;Verifiquem se o rótulo contém informações claras, como nome do fabricante, ingredientes e número de registro no Ministério da Agricultura;Que os comerciantes reforcem a atenção com seus fornecedores e garantam a procedência legal dos produtos vendidos.
O governo de São Paulo, Estado que concentra o maior número de casos até agora - 25 dos 29 casos confirmados e todas as cinco mortes - recomenda que as pessoas não consumam bebidas destiladas de procedência desconhecida ou duvidosa.
A ABBD, por sua vez, ensina a como identificar sinais de falsificação:
Tampa: as tampas originais costumam vir fechadas e sem amassos. Não há distância entre a tampa e o gargalo, as impressões da marca na tampa são de boa qualidade e há um barulho característico de "clique" ao abri-la. São sinais de alerta: tampas com bordas irregulares, espaço entre a tampa e o gargalo da garrafa, tampa amassada ou desgastada e, ainda, presença de lacre plástico com picote. Líquido: as bebidas originais têm volume e cor idênticos entre produtos da mesma marca; não há impurezas, sujidades ou corpos estranhos, e o líquido é cristalino e limpo, já que o processo de destilação garante a autenticidade. Sinais de alerta no líquido: presença de impurezas visíveis, cor diferente do padrão, volume irregular e aspecto turvo ou com sedimentos. Rótulo: os destilados de qualidade têm rótulo com impressão em alto relevo e as impressões são bem detalhadas. Mesmo que a bebida seja importada, é obrigatório ter um contra rótulo em português e um registro do MAPA com dados completos. Sinais de alerta: má qualidade da impressão, posicionamento torto do rótulo na garrafa, erros de ortografia e rótulos que se soltam facilmente. Selo IPI: este selo é obrigatório para produtos importados e os autênticos são impressos em papel moeda com relevo. Há uma holografia progressiva com as letras R, F e B. Os elementos de segurança são legíveis e a qualidade da impressão é alta. Sinais de alerta: selos impressos em papel comum ou plástico, ausência de holografia, baixa qualidade de impressão ou mesmo ausência do selo IPI em produtos importados. Garrafa: as garrafas de bebidas autênticas têm vidro limpo e sem riscos, formato consistente com a marca, acabamento profissional, sem sinais de reutilização. Sinais de alerta: garrafas com riscos e sujeira excessiva, sinais de abertura anterior, formato irregular e rótulos desgastados. Preços e canais: Bebidas autênticas costumam ter preço compatível com o mercado, canais de venda homologados, nota fiscal e vendedores estabelecidos. Sinais de alerta: preços muito abaixo do mercado, vendas atípicas (na rua, sem nota fiscal), vendas por canais informais e ofertas suspeitas.
O consumidor pode ajudar no combate ao mercado ilegal fazendo o descarte adequado dos insumos ligados às bebidas: destruir o vidro das garrafas com segurança, separar tampa e garrafa e danificar o rótulo (rasgando ou removendo-o). O melhor é descartar cada um desses itens separadamente, para evitar que falsificadores os reutilizem.
A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) publicou uma cartilha ajudando os consumidores a identificar bebidas potencialmente falsificadas. Uma dica é comparar a garrafa com outras da mesma marca: as bebidas autênticas têm a mesma quantidade de líquido por conta de um padrão de enchimento e, no caso das destiladas, têm a mesma aparência límpida.
A entidade aponta ainda que nem todas as garrafas têm dosador, mas as autênticas não têm uma separação entre a tampa e a parte de baixo do lacre. Ou seja, se a garrafa tem a tampa vermelha, esse padrão se mantém até o final do lacre, sem a presença de uma faixa separando a tampa do gargalo.
Corpo humano não metaboliza o metanol
O metanol que vem sendo encontrado em bebidas é um composto químico usado na fabricação de produtos como anticoagulantes, solventes e combustíveis. Ele não foi feito para beber e, diferente do etanol presente nas bebidas, não é processado pelo corpo humano. Por isso, a ingestão do metanol causa danos graves ao organismo.
Ainda assim, é possível que esse composto seja encontrado em algumas bebidas alcoólicas, mas em quantidade muito baixas e que não causam riscos à saúde. Isso acontece durante o processo de fermentação. Já o metanol encontrado nas bebidas que causaram intoxicação, até agora, apareceu em concentração bastante elevada.
De acordo com Alexandre Learth, perito do Centro de Exames, Análises e Pesquisas do Instituto de Criminalística de São Paulo (CEAP), a ingestão de 10 ml de metanol já pode causar lesões no nervo óptico. Para se ter uma ideia, essa quantidade é equivalente a um copo dosador de medicamentos, dos mais comuns, cheio. As doses iguais ou superiores a 30 ml - ou seja, três copinhos - podem levar à morte.
Segundo dados da Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, os sintomas iniciais da intoxicação são dor de cabeça, tontura, sonolência, náuseas, vômitos e dor abdominal. Eles podem evoluir para confusão mental, alterações na visão - como visão embaçada, sensibilidade à luz, "chuviscos" ou manchas -, suor excessivo, taquicardia, convulsões e dificuldade para respirar.
Caso alguém que tenha ingerido bebida alcoólica tenha algum desses sintomas, a recomendação é procurar um pronto-socorro o mais rápido possível - o socorro deve acontecer em até seis horas após a ingestão.
"O tempo é determinante, principalmente nas primeiras horas após a ingestão da bebida contaminada", destaca a coordenadora de Controle de Doenças (CCD) da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Regiane de Paula. Ela aponta que os sintomas são diferentes de uma ressaca normal.
Pessoas com suspeita de intoxicação não devem esperar os sintomas piorarem para buscar ajuda médica. Uma das razões para isso é que há um antídoto para o problema, mas ele deve ser administrado em ambiente hospitalar.
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Polícia já prendeu 51 pessoas em São Paulo este ano
Entre o dia 29 de setembro - quando foi instalado um gabinete de crise - e o último sábado, 11, a polícia de São Paulo prendeu 30 pessoas por venda irregular ou adulteração de bebidas. Ao longo de todo o ano de 2025, foram 51 prisões no Estado. O caso mais recente foi no sábado, em Hortolândia, quando um homem foi preso durante uma operação que fechou uma fábrica clandestina de bebidas.
Desde o dia 29, foram apreendidas mais de 21,4 mil garrafas, 105,2 mil insumos, 480 mil rótulos e 121,8 mil vasilhames vazios. O Procon vem fazendo fiscalizações em bares e restaurantes e já passou por mais de mil estabelecimentos. Destes, 13 foram interditados cautelarmente.
É importante destacar que nem todas as apreensões são de bebidas com metanol, já que as fiscalizações identificam diferentes tipos de irregularidades, desde adulteração a produtos sem nota fiscal. As fiscalizações podem ocorrer, segundo o Procon-SP, em locais ligados às vítimas de intoxicação, após denúncias anônimas ou em ações de rotina. Após a apreensão, as bebidas são analisadas.
Em mais de uma ocasião, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, e o governador, Tarcísio de Freitas, negaram que os casos de adulteração tenham ligação com o PCC. Segundo eles, a prática não é lucrativa para as facções e as prisões de pessoas vem mostrando que os falsificadores atuam de forma isolada.
Este texto foi produzido a partir de uma parceria entre Estadão Verifica e Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) para combater a desinformação sobre esse setor da indústria e reforçar o papel do jornalismo profissional. A iniciativa visa desmentir rumores infundados e conscientizar o público sobre os impactos negativos da desinformação.