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Não é verdade que 30% das bebidas destiladas vendidas no Brasil sejam falsificadas

PESQUISA DE ASSOCIAÇÃO DO SETOR MOSTRA QUE 28% DAS BEBIDAS DESTILADAS NO PAÍS SÃO ILEGAIS, O QUE INCLUI SONEGAÇÃO FISCAL, CONTRABANDO, DESCAMINHO, FALSIFICAÇÃO E PRODUÇÃO SEM REGISTRO

10 out 2025 - 17h41
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Circulam nas redes sociais postagens afirmando que 30% das bebidas destiladas vendidas no Brasil são falsificadas. O dado é atribuído a um estudo publicado pela Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD), mas os números estão equivocados.

Bebidas destiladas são as mais falsificadas, segundo estudo.
Bebidas destiladas são as mais falsificadas, segundo estudo.
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

Um estudo encomendado pela ABBD à Euromonitor International foi publicado pela entidade em 26 de setembro deste ano. Ele diz que 28% do total de bebidas destiladas vendidas no Brasil eram ilegais.

Isso não significa que todo este volume era de bebidas falsificadas: dentro desse percentual há casos de sonegação fiscal, contrabando, descaminho, falsificação e produção sem registro.

O crime de falsificação representa 1,1% do mercado de bebidas alcoólicas, segundo a ABBD, e 4,7% do mercado de bebidas destiladas, que é a mais impactada. Em todo o mercado de bebidas alcoólicas, os produtos lícitos são 89,4% do total; entre as destilados, esse porcentual cai para 72,4%.

"A confusão acontece porque o mercado ilegal de bebidas destiladas - que realmente tem uma expressiva participação de 28% do total do mercado - inclui todo tipo de ilicitude, como evasão fiscal, contrabando/descaminho, produção sem registro e, também, a falsificação nessa proporção bem menor", explica, em nota, a associação que encomendou a pesquisa.

O levantamento foi feito a partir de pesquisa de campo realizada entre abril e junho de 2025. Foram visitadas 30 lojas em cinco cidades e revisados quatro marketplaces online. Os pesquisadores identificaram mais de 1,2 mil itens. Além desses locais, a pesquisa ouviu 37 organizações, empresas e autoridades que atuam no setor de bebidas.

Também foram revisadas mais de 50 fontes sobre o mercado ilícito, incluindo notícias de apreensões, balanços aduaneiros dos últimos seis anos, importações legais, anuários de bebidas anuários das bebidas produzidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e dados sobre prejuízos do álcool à saúde.

Falsificação é fonte de preocupação

Mesmo em proporção menor do que o que está sendo difundido, a falsificação é de fato o que gera mais preocupação, segundo a entidade, porque afeta não apenas o setor produtivo, como também a saúde dos consumidores. De acordo com o estudo da Euromonitor International, os dois principais métodos de falsificação são o refil de garrafas de marcas conhecidas e a adição na bebida de álcool impróprio para o consumo humano, como é o caso do metanol.

Essa estratégia é vantajosa para os falsificadores por conta da discrepância de valor, o que atrai compradores: as bebidas falsificadas podem ser até 35% mais baratas, e nos mercados online, o whisky falsificado chega a ser 48% mais barato que o original.

"Há diferentes fatores que mantém o ilícito relevante na categoria de bebidas: a alta carga tributária, a dificuldade de fiscalização em grandes territórios, a sofisticação crescente das redes criminosas e a disseminação de canais de venda informais e digitais que ajudam no escoamento desses produtos", disse João Garcia, gerente de Consultoria da Euromonitor International na época da divulgação do estudo.

No último dia 8, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), órgão ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, notificou nove plataformas de comércio online para que suspendessem a venda de insumos que possam ser usados para a falsificação de bebidas, como lacres, rótulos, garrafas e tampas.

A determinação integra o rol de medidas de resposta à crise de intoxicação de pessoas por bebidas adulteradas com metanol. Até 8 de outubro, o Ministério da Saúde tinha confirmado 24 casos de intoxicação, com cinco óbitos. Ainda há 235 casos e 11 mortes em investigação.

Mais dados reforçam cenário

Além do estudo divulgado pela ABBD, outros levantamentos mostram o cenário do mercado ilegal de bebidas no Brasil. Em abril deste ano, a Federação dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo (Fhoresp) publicou uma pesquisa mostrando que aproximadamente 36% das bebidas comercializadas no Brasil estavam sujeitas a algum tipo de irregularidade, como falsificação, adulteração, contrabando ou sonegação fiscal.

Não foram divulgados dados específicos sobre falsificação e a Fhoresp observou que a pesquisa não teve foco específico em adulteração por metanol. Em nota enviada ao Verifica, a Fhoresp disse que os dados são aproximados por conta das dificuldades em obter dados precisos sobre o mercado clandestino.

O levantamento foi feito ouvindo 20 sindicatos patronais, empresas do setor de hotéis, bares e restaurantes e de outros setores por amostragem, como agências de viagem, buffets e cigarros. Também foram usados dados abertos de fontes públicas, como registros de ações de fiscalização.

"Como as fraudes no setor de bebidas são clandestinas e a fiscalização é insuficiente para cobrir todo o mercado, o estudo se baseou em dados indiretos, obtidos também com especialistas e autoridades públicas de fiscalização e controle, que falaram sob anonimato, bem como dados de entidades correlatas", diz a nota.

Este texto foi produzido a partir de uma parceria entre Estadão Verifica e Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) para combater a desinformação sobre esse setor da indústria e reforçar o papel do jornalismo profissional. A iniciativa visa desmentir rumores infundados e conscientizar o público sobre os impactos negativos da desinformação.

Estadão
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