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Temer enfrentará dilema de elevar popularidade com medidas impopulares

31 ago 2016 - 15h16
(atualizado às 15h45)
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Embora desfrute de um amplo apoio no Congresso e seja conhecido como articulador eficiente nos bastidores, o presidente Michel Temer precisará garantir que a economia melhore e conquistar maior hegemonia entre as lideranças políticas para alavancar a popularidade e aprovação do governo, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

Michel Temer precisará garantir que a economia melhore e conquistar maior hegemonia entre as lideranças políticas para alavancar a popularidade e aprovação do governo
Michel Temer precisará garantir que a economia melhore e conquistar maior hegemonia entre as lideranças políticas para alavancar a popularidade e aprovação do governo
Foto: Beto Barata/PR

Dados de uma pesquisa do Instituto Ipsos divulgada neste mês indicam que o índice de reprovação de Temer é de 68% - similar ao de Dilma Rousseff em dezembro, já nas discussões do impeachment. E essa rejeição piora quando o assunto é economia. De acordo com o Ipsos, de julho a agosto, a porcentagem de pessoas entrevistadas que desaprovam a atuação de Temer no combate à inflação passou de 56% para 61%.

Especialistas apontam que a estabilidade econômica - num momento em que o PIB tem seu sexto trimestre consecutivo de retração - é chave para o aumento da aprovação do novo presidente, mas ponderam que o desafio será conquistá-la ao mesmo tempo em que adota medidas impopulares como ajuste fiscal, redução de gastos do governo, reformas trabalhista e da Previdência.

Outro desafio para a popularidade do presidente será conquistar as lideranças políticas no Congresso e manter a ampla base de apoio, tendo justamente que convencer os parlamentares a votar temas de gosto "amargo" para a população.

Economia

O cientista político da Universidade Federal da Bahia Wilson Gomes acredita que somente agora, com a confirmação do governo de Michel Temer, será possível identificar uma política econômica mais concreta, já que as ações até agora foram paliativas e temporárias.

"Agora a gente vai entender o que vai ser o governo Temer. Quem vai mandar vai ser (o ministro da Fazenda) Henrique Meirelles ou não? Isso também vai determinar o que será daqui para frente."

Para a cientista política da Universidade Federal de São Carlos Maria do Socorro Sousa Braga, o impacto das medidas econômicas para a população será diretamente proporcional à melhoria na popularidade do novo presidente.

"O pano de fundo da popularidade do Temer é o que afeta o dia a dia das pessoas, a melhora no poder de compra e no emprego. Isso daria um alivio ao governo. Mas se isso não melhorar e se mantiverem pressões em politicas de ajuste, maior instabilidade politica, mesmo setores que apoiam o governo Temer podem se voltar contra ele."

Wilson Gomes concorda que alguns setores e lideranças que apoiaram o presidente até agora podem abandoná-lo se as políticas econômicas não tiverem o impacto esperado.

"Se ele não fizer o que prometeu à oposição liberal, ele vai ser abandonado. Por outro lado, se ele seguir essa agenda, pode perder outra parte da população, porque arrocho nunca é bom. Vai depender de como a economia reagir".

O professor de ciências políticas da Fundação Getúlio Vargas, Claudio Couto, afirma que o diálogo e o poder de articulação serão essenciais daqui para frente para a governabilidade de Temer.

A população pode voltar a se mobilizar contra o governo caso a economia não melhore
A população pode voltar a se mobilizar contra o governo caso a economia não melhore
Foto: Paulo Pinto/ AGPT

"Não tem fórmula pronta, mas é (preciso) estabelecer um diálogo com a classe política, com a sociedade e com os meios de comunicação. Essas redes são fundamentais para qualquer governo".

Política

Desde que assumiu o governo interino, em maio, Temer tem a popularidade como um de seus desafios, de acordo com pesquisas. Os números divulgados pelo Datafolha em julho apontavam que 14% da população aprovava a gestão dele.

No entanto, especialistas apontam que a rejeição a Temer é diferente da rejeição que Dilma enfrentou antes de sair do cargo - ela chegou a ter 11% de aprovação.

"Embora os índices de aprovação sejam tão baixos quanto os dela, os sentimentos são diferentes. Com relação a Dilma havia um sentimento mais intenso de rejeição, havia muita gente mobilizada contra", opina Cláudio Couto.

Diante desse cenário, porém, os desafios para Temer governar são ainda maiores. "Não vai ser como o governo de Itamar Franco (que assumiu após o impeachment de Fernando Collor). Toda a sociedade estava contra o Collor, ele estava isolado. Para o Itamar era só governar, ele tinha legitimidade pra construir uma coalizão. As circunstâncias agora são diferentes", avaliou o cientista político da Universidade Federal da Bahia Wilson Gomes.

"Para muitas pessoas, o Temer é um guardador de lugar. Está ali porque era o sujeito que tinha condições de tomar o mandato de Dilma sem causar tanto transtorno. Tem que ver se ele vai querer ceder o lugar para outro ou se vai querer ficar. O PMDB esperou muito por isso", analisa.

"Ele terá um ano. Em 2017, os políticos já estarão pensando nas alianças para as próximas eleições. Se ele estiver forte, as pessoas vão ficar com ele."

Articulação política será importante para Temer ganhar força no poder
Articulação política será importante para Temer ganhar força no poder
Foto: Agência Senado / BBC News Brasil

Ruas

Um dos elementos que abalaram o segundo mandato de Dilma Rousseff desde o início foi a forte pressão das ruas, com frequentes protestos contra seu governo em todos os lugares do país.

Mas, apesar de Temer não ter gande popularidade, a perspectiva para o governo definitivo dele é diferente, segundo os especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

"Não dá para ter certeza sobre como as pessoas irão reagir ao governo dele. Mas acho que os protestos vão diminuir bastante", opina Wilson Gomes. "As pessoas estão cansadas de politica, esgotadas. Elas não aguentam mais ver e falar sobre essa confusão. A tendência é que, por conta disso, haja menos barulho nas ruas."

Especialistas acreditam que Temer não enfrentará tanta pressão das ruas, como Dilma enfrentou
Especialistas acreditam que Temer não enfrentará tanta pressão das ruas, como Dilma enfrentou
Foto: Agência Brasil / BBC News Brasil

"De 2013 para cá houve uma série de manifestações, e há fadiga tanto de um lado como de outro. Mas a pressão vai continuar ou não dependendo das políticas de arrocho fiscal", observa Maria do Socorro Braga.

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