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Política

PF suspeita que general Cid usou Apex em Miami para venda de joias sauditas, diz site

Segundo PF, Mauro Cesar Lourena Cid usou estrutura da agência para viajar a Brasília no período em que esteve no acampamento golpista

16 abr 2024 - 12h33
(atualizado às 13h21)
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Foto: Poder360

A Polícia Federal (PF) encontrou indícios de que o general Mauro Cesar Lourena Cid utilizou a estrutura do escritório da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) em Miami, nos EUA, no esquema de venda de joias sauditas envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. As informações são do UOL. 

O general Cid é pai do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. A Polícia Federal iniciou a investigação do general no caso das joias após encontrar em conversas de WhatsApp evidências de que ele auxiliou o filho na negociação desses itens nos Estados Unidos. Indicado por Bolsonaro, o general Cid assumiu o comando do escritório da Apex em Miami em 2019 e permaneceu no cargo até 3 de janeiro de 2023, quando foi demitido pelo novo governo.

A PF ouviu na semana passada os depoimentos de três funcionários da Apex Miami, que vieram a Brasília para prestar esclarecimentos em uma investigação interna conduzida pela agência. As oitivas, segundo investigadores, serviram para ampliar as investigações sobre a conduta do general no caso. 

Os investigadores centraram-se no caso das joias e indagaram aos funcionários se o general Cid utilizou o escritório da agência para armazenar os itens durante as negociações para vendê-los nos Estados Unidos. Além disso, a investigação está investigando se recursos da agência foram empregados pelo general Cid para custear despesas de pessoas externas ao quadro da Apex.

A Apex não é uma entidade estatal, mas opera como uma pessoa jurídica de direito privado financiada com recursos do sistema S. Portanto, está sujeita à auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) e deve prestar contas à corte.

Apex e o acampamento golpista

A estrutura da Apex, em Miami, foi usada pelo general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, para comparecer a um acampamento golpista no quartel-geral do Exército no fim de 2022. No local ocorriam articulações de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) contra a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Imagens obtidas pela reportagem do UOL mostram o general Cid circulando pelo QG em Brasília com o diretor de investimentos da Apex Miami, Michael Rinelli, no dia 3 de dezembro. Ele aparece gesticulando e falando algo ao funcionário, mas não é possível ouvir a conversa.

Na época, o pai de Mauro Cid comandava o escritório da agência em Miami, por indicação de Bolsonaro, que é seu conhecido de longa data, já que estiveram juntos na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) na década de 1970. 

A viagem de ambos de Miami para Brasília ocorreu entre os dias 26 de novembro de 11 de dezembro de 2022, e custou aproximadamente R$ 9.300 aos cofres da agência. Segundo o site, os gastos das passagens aéreas, faturadas por meio de contrato com uma empresa terceirizada, não constam no sistema de informações públicas. 

No dia dos fatos, dois funcionários da Apex de Miami foram convocados para conhecer o quartel-geral do Exército. Não houve citação de que eles iriam ao acampamento golpista. 

Ao chegar no local, o general teria passado uma circular pelo local, e mostrado as instalações aos dois subordinados. 

Embora tenham ido ao QG onde eram realizadas articulações bolsonaristas, a justificativa oficial para a viagem até Brasília foi um evento de confraternização da Apex, com vários funcionários de diversos escritórios da agência, em dezembro daquele ano.

O período em que o general veio ao Brasil também coincide com as discussões em relação à minuta golpista, de acordo com a Polícia Federal, entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e a cúpula das Forças Armadas. 

Não por acaso, o pai de Mauro Cid é investigado no caso da venda de joias presenteadas ao ex-presidente, e que deveriam ser incorporadas ao acervo da União. Conforme a PF, ele foi responsável por negociar a venda dos itens em lojas dos Estados Unidos. Mauro Cid chegou a contar às autoridades que o dinheiro da comercialização ilegal teria sido depositado na conta do pai dele. 

Seu filho, o tenente-coronel Mauro Cid, voltou a ser preso na semana passada após o vazamento de áudios nos quais dizia ter sofrido pressão em seu acordo de delação premiada assinado com a Polícia Federal e homologado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. A PF suspeita que ele tenha omitido informações dos investigadores.

Carta de ex-funcionário da Apex

Um ex-funcionário da Apex, identificado como Cristiano Laux, demitido neste mês do escritório da agência em Miami, enviou no dia 7 de março uma carta à cúpula do órgão relatando que o general Cid usou computadores e aparelhos eletrônicos da estrutura para realizar ataques golpistas com agentes do Exército. Laux foi analista de inteligência de mercado no escritório de Miami. 

Ainda segundo o documento, o pai do tenente-coronel pediu ajuda aos funcionários do local para apagar os registros, mais especificamente Michael Rinelli, e seguir frequentando o escritório, após ser demitido do cargo com a posse de Lula, no início de 2023. Esses documentos conseguiram envolver o general Cid em tratativas golpistas.

“Foram várias as graças que testemunhei a presença do general no escritório após sua demissão nos meses de janeiro e fevereiro de 2023. Recordo que ele disse que iria trazer o 'presidente Bolsonaro' para conhecer o escritório e equipe no período em que este esteve refugiado em Orlando”, afirmou Laux. 

Em uma dessas visitas, segundo o documento, o general levou seu filho, o tenente-coronel Mauro Cid, e que eles se reuniram às portas fechadas na antiga sala do general na Apex de Miami. "Inclusive lembro ter notado que tinha uma mala e o tenente-coronel carregava objetos", explica. 

Antes disso, o general Mauro Lourena Cid teria contratado o escritório ao longo de 2022 como base de articulação golpistas junto às lideranças militares para evitar a posse do presidente Lula e destituição de outros Poderes. 

“O mesmo afirma em conversas nos corredores e cozinha da Apex que não teria posse e se mostrou confiante em permanecer no cargo em Miami por um período mais longo, e mostrou seu celular, de propriedade da Apex, para colaboradores, onde continha mensagens e gravações com seus grupos da alta cúpula militar através do aplicativo WhatsApp”, diz o ex-funcionário no documento.

Relembre o caso das joias

O governo Jair Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o País um colar, um anel, um relógio e um par de brincos de diamantes avaliados em 3 milhões de euros, o equivalente a R$ 16,5 milhões. 

As joias eram um presente do governo da Arábia Saudita para o ex-presidente e a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e foram apreendidas no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Elas estavam na mochila de um militar, assessor do então ministro Bento Albuquerque, das Minas e Energia, que esteve no Oriente Médio na comitiva do presidente, em outubro de 2021. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Ao saber que as joias foram apreendidas, o ministro retornou à área da alfândega, e tentou usar o cargo para liberar os diamantes. Foi nesse momento que Albuquerque disse que o conjunto de diamantes era um presente do governo da Arábia Saudita para Michelle Bolsonaro. 

A cena foi registrada pelas câmeras de segurança, como é de praxe nesse tipo de fiscalização. Mesmo assim, o agente da Receita reteve as joias, porque, no Brasil, é obrigatório declarar ao Fisco qualquer bem que entre no País que passe de US$ 1 mil.

O Estadão apurou que nos últimos dois meses houve ao menos quatro tentativas frustradas de Bolsonaro de reaver as pedras preciosas, envolvendo três ministérios (Economia, Minas e Energia e Relações Exteriores) e militares. 

A última ocorreu quando faltavam apenas três dias para ele deixar o mandato, em 29 de dezembro. Um funcionário do governo pegou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e desembarcou no aeroporto de Guarulhos, dizendo que estava ali para retirar as joias. O funcionário, que se identificou como “Jairo”, argumentou que “não pode ter nada do [governo] antigo pro próximo, tem que tirar tudo e levar”, conforme relatos colhidos pelo jornal.

A reportagem localizou a solicitação para a FAB levar o chefe da Ajudância de Ordens do Presidente da República, o 1º sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, que foi para Guarulhos “para atender demandas do Senhor Presidente da República naquela cidade e retornará em voo comercial no trecho Guarulhos-SP para Brasília-DF”.

Fonte: Redação Terra
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