Dúvida é se eleição termina domingo com cheque em branco para Lula; leia análise
Ex-presidente aparece com 50% dos votos válidos, ante 36% de Bolsonaro, na mais recente pesquisa Datafolha para presidente
Chegou ao fim o experimento de ter no comando do Executivo alguém que ao longo de 27 anos como deputado passou por mais partidos do que teve projetos aprovados - oito contra dois, lembrando que a legenda atual é o PL, do mensaleiro Valdemar Costa Neto.
É o que aponta o resultado da pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira, em que Lula aparece com 48% das intenções de voto, contra 34% de Jair Bolsonaro. Na sequência, Ciro Gomes surge com 6% e Simone Tebet 5%. Há uma semana, o instituo registrava 47% para Lula contra 33% de Bolsonaro. A diferença, portanto, permanece em 14 pontos.
Quando se trata dos votos válidos, Lula aparece com 50%, contra 36% de Bolsonaro, 6% de Ciro e 5% de Tebet 5%. Lembrando que para evitar o segundo turno Lula precisa de 50% mais um voto. Hoje, dentro da margem de erro, ele pode chegar a 52%.
Ao longo do tempo, cristalizou-se na cultura popular a ideia de que resultado de eleição é imprevisível. Certamente já houve desenlaces inesperados, porém esses nunca se deram por razões místicas, mas porque os postulantes chegaram na hora agá em condições de força similares, a ponto de seduzirem os eleitores com intensidades parecidas.
Não é o caso deste domingo.
E quem o diz não é apenas o Datafolha e demais institutos relevantes - embora todos, há semanas, apontem para uma absoluta incapacidade de Bolsonaro furar a própria bolha. Nem mesmo o fato de o presidente sofrer com importante rejeição entre as mulheres e os mais pobres, grupos que compõem a maioria do eleitorado. Tampouco, sozinhas, as vantagens de Lula no Rio, em São Paulo e Minas Gerais.
Tudo isso conta, mas sobretudo são sintomáticos os movimentos de aliados políticos do presidente país afora, boa parte se esquivando de sua radioativa imagem para não perder votos.
Enquanto isso, na última terça, Lula foi prestigiado por empresários graúdos em jantar organizado em São Paulo. Dentre os quais sabidos críticos, como o publicitário Roberto Justus, o dono da Riachuelo, Flavio Rocha, e o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun.
A composição da plateia do convescote apenas reforçou o que, no fim das contas, as consultas populares já vêm indicando há semanas: Lula deverá se tornar o primeiro brasileiro a assumir a presidência da República pela terceira vez.
A dúvida de momento não recai mais sobre o resultado da eleição presidencial, mas se ela se encerrará em 72 horas, com direito a cheque em branco para Luiz Inácio, ou se teremos mais quatro semanas de estardalhaço bolsonarista, em que Jair e seus apoiadores levantarão toda sorte de teorias conspiratórias para explicar a derrota, enquanto Lula será obrigado a fazer concessões.
Quem sabe, até mesmo revelar um pouco do que pretende fazer em seu governo.
MARIO VITOR RODRIGUES É JORNALISTA