PUBLICIDADE

Política

Democracia, sororidade, machismo e a verdade sobre a Conferência Nacional da Mulher Advogada

29 mar 2024 - 11h35
Compartilhar
Exibir comentários

O que é democracia?

Democracia é o sistema de governo em que o povo, pelo voto direto e por seus representantes eleitos, participa das decisões da sociedade. Por sua vez, um Estado Democrático de Direito é fundado em regras e leis que garantam sua manutenção e os direitos e liberdades individuais do seu povo.

Fazer apologia de preceito que afronta a Constituição Federal e insuflar crenças que são o pilar da violência contra a mulher, isso sim, é absolutamente antidemocrático.

Exigir que a Constituição Federal do Brasil seja respeitada, que a igualdade de gêneros seja garantida, e manifestar-se dentro das regras estabelecidas por nossa legislação pátria, é uma ação prevista e protegida constitucionalmente. Logo, uma manifestação que vise impedir o protagonismo de alguém que encampa pautas contrárias ao texto constitucional, trata-se de um ato absolutamente democrático.

Antidemocrático é não compreender e respeitar o sagrado direito à manifestação.

O que é sororidade?

Sororidade é a solidariedade entre mulheres baseada no reconhecimento de suas experiências e na luta por igualdade de direitos. Isso implica respeitar os direitos das mulheres, combater a discriminação de gênero e trabalhar juntas para promover políticas e leis que garantam igualdade e justiça para todas - e nunca aceitar o desrespeito aos direitos da mulher, mesmo que as afrontas venham de voz feminina.

Sororidade não gera uma obrigação de apoiar mulheres que julgam e criticam outras mulheres. Sobremaneira, defender que uma mulher deveria ser submissa (algo que não demanda profundas interpretações, visto que é algo de facílima compreensão) não pode invocar em sua defesa a sororidade que desconhece e não pratica.

O que é machismo?

O machismo é um sistema de crenças culturalmente estabelecido que atribui papéis de gênero rígidos, no qual os homens são vistos como provedores e líderes, enquanto as mulheres são relegadas a papéis secundários, submissos e dependentes.

Essa divisão cria uma dinâmica de poder desequilibrada, em que os homens são encorajados a exercer controle sobre as mulheres, seja física, emocional ou financeiramente. Tal mentalidade tacanha, enraizada em muitas sociedades, perpetua desigualdades de gênero e alimenta um ambiente propício à violência.

A desigualdade culturalmente construída entre homens e mulheres é um dos principais geradores da violência de gênero.

E, reforçando o que já afirmamos, um discurso que promove a desigualdade de gênero, afronta nossa Constituição Federal, que estabelece a igualdade entre homens e mulheres como um princípio norteador da sociedade brasileira.

Para concluir, considerando que este texto tem como objetivo responder às alegações trazidas pela Sra. Cíntia Chagas, cabe esclarecer que:

Sobre as supostas ofensas: em nenhum momento foram proferidas ofensas à expositora. As palavras de ordem utilizadas foram "machista". Tal alcunha se deu em razão dos posicionamentos públicos da palestrante, que são inegavelmente machistas. Defender que as mulheres "precisam ser submissas" é uma fala que não demanda interpretações complexas. Trata-se de afirmação escancaradamente machista.

Sobre a cerveja: o evento foi realizado em um local insalubre, sem ar-condicionado e transcorreu em um dia de muito calor. As colegas presentes compraram cerveja para refrescar-se. A bebida estava sendo vendida pelos organizadores do evento. Portanto, não há que se falar como se fosse um descalabro "advogadas bebendo cerveja em um evento da OAB?", visto que a própria OAB disponibilizou a bebida às participantes da Conferência. E ainda que as advogadas tivessem saído para comprar, seria direito delas beber o que quisessem, sem se submeter a julgamento alheio.

Nenhuma manifestante fez menção de atirar bebida na expositora. Os vídeos mostram claramente que as manifestantes não estavam próximas ao palco. Novamente, a acusação trazida pela palestrante não encontra respaldo na realidade.

Sobre o público que queria assistir à exposição x as pessoas que se opunham a sua participação, cumpre pontuar que contra fatos não há argumentos! Há um vídeo que mostra o auditório praticamente vazio. Foi publicado no perfil da Coalizão Nacional de Mulheres, no Instagram. As provas se impõem contra a narrativa de que 90% do público queria assistir à palestra, basta assistir ao vídeo. O auditório ficou vazio!

Finalizamos afirmando que as corajosas advogadas que se manifestaram durante a IV Conferência Nacional da Mulher Advogada, e outras inúmeras que se dispuseram contra a participação da influencer Cíntia Chagas no referido evento, posicionaram-se em defesa de todas as mulheres, cumprindo assim com o juramento realizado no recebimento de suas carteiras e inscrições na Ordem dos Advogados do Brasil.

Com orgulho concluímos esta resposta repisando nossa solidariedade às bravas advogadas que não se amedrontaram diante do desafio e mantiveram seu juramento profissional:

"Prometo exercer a advocacia com dignidade e independência, observar a ética, os deveres e prerrogativas profissionais e defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, os direitos humanos, a justiça social, a boa aplicação das leis, a rápida administração da Justiça e o aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas."

As advogadas continuarão sempre firmes e fortes em defesa da Justiça, da Democracia, dos princípios constitucionais e do Estado Democrático de Direito!

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade