RJ: presos organizavam ataques a comunidades com UPPs
Investigações da 13ª DP do Rio de Janeiro sobre a quadrilha de traficantes dos morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Copacabana e Ipanema, que continuava atuando apesar da presença da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), detectaram que chefões do bando planejaram crimes de dentro da cadeia. Uma das ações seria ataque aos morros Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme, quando as comunidades já estavam ocupadas pela PM. Discussões entre bandidos do presídio Bangu 3 fizeram a invasão ser suspensa.
Quem planejou o ataque foi Jony Paulo Gomes de Oliveira, o JP, que pretendia retomar o controle das favelas que comandava antes da instalação da UPP. De dentro da cadeia partiu a ordem para que a quadrilha não atacasse. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça e cartas apreendidas pela polícia levaram a Secretaria de Segurança Pública a pedir a transferência de dois chefões do Comando Vermelho para presídios federais: Paulo Cezar Figueiredo Cabral, o Bolão, do Pavãozinho; e Patrick Salgado Souza Martins, do Vidigal.
Numa carta, Bolão deixou recados claros sobre como seus subordinados deveriam agir caso uma UPP fosse instalada no Pavãozinho. "E os roubos? Tá parado mesmo? Se ficarem de caô com essas ocupações, nós vamos ter que liberar os Pit (risos). Vamos ver como vai ficar". Logo após a entrada da PM, bandidos jogaram granadas em ruas de Copacabana. Bolão também deu ordens para que uma casa fosse alugada próxima ao Fórum de Bangu. Vivendo a expectativa de ser solto a qualquer momento, ele tinha um plano B caso não conseguisse a liberdade na Justiça. "Fala com a Patrícia pra alugar uma casa do lado do Fórum de Bangu. Corre atrás de GPS, que se ficar brabo eu tramo aqui pra ir ao Fórum e o túnel tem que estar pronto", afirma em uma carta.
Já nas gravações feitas pela 13ª DP em um telefone usado por presos, Patrick agradece ao gerente-geral do Pavãozinho, Leandro de Oliveira Rezende, o Azul, pelo fato de ele ter abrigado seus soldados expulsos do Vidigal após a invasão de rivais da Rocinha, em 2006. Com a chegada da UPP, os principais seguranças de Azul seguiram ir com ele para a Favela da Chatuba, no Complexo da Penha. Enquanto isso, a Polícia Civil conseguiu resultado prático: Patrick já foi transferido para um presídio em Mossoró (RN), enquanto Bolão, que está em Bangu 1, sairá do Rio nos próximos dias.
Bolão e Patrick também aprenderam na cadeia a fazer uma melhor mistura da cocaína para torná-la mais pura e, consequentemente, mais rentável nas bocas de fumo. Em visitas íntimas, o chefão do tráfico dos morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo chegava a receber 200 gramas de cocaína por semana dentro de Bangu 3. "Manda toda semana 100g caseira e 100g da melhor do Rio. (...) Vai seguir junto com esse toque uma fórmula que o amigo aqui está me ensinando e vocês fazem um teste aí, pra fazer pó. Vários cientistas loucos aí (risos). Tem que dar certo, hein?!", diz o traficante na carta apreendida.