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Feliciano: "Lésbicas e gays não creem nos ensinamentos dEle"

Vídeo do então pastor Marco Feliciano contra uso de crucifixos, de 22 anos atrás, viraliza dias depois de ele criticar uso de cruz na Parada

16 jun 2015 - 18h30
(atualizado às 18h49)
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O uso de crucifixo por fiéis que se identifiquem com o Cristianismo passou por uma verdadeira revolução no conceito do deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) nas últimas décadas. Na semana passada, após a 19ª Parada do Orgulho LGBT deSão Paulo, o parlamentar liderou as vozes contrárias à manifestação de uma transexual que apareceu crucificada na manifestação. Entre outras alegações, Feliciano considerou que o gesto da artista expôs a fé cristã "ao vexame".

Em um vídeo que se tornou viral nas redes sociais nos últimos dias, no entanto, Feliciano aparece condenando, em um culto evangélico, o uso do crucifixo e não apenas por pessoas que se identifiquem como homossexuais. “Meu Jesus não foi feito pra ser enfeite de pescoço de homossexual. Nem de pederasta, nem de lésbica. Meu Jesus não foi feito pra andar como, um dia desses, eu ouvi de uma moça: ‘Eu sou cristã, quer ver?’ E me mostrou a canela dela: tinha uma correntinha e uma cruzinha aqui, amarrada. E um Jesuzinho ali. Eu falei: ‘Esse não é o meu Deus’. Porque o meu Jesus não nasceu pra ser enfeite de pescoço, de braço, de perna, nem pra ser enfeite de janela, nem pra ser enfeite de sala, nem pra ser enfeite de tampa de caixão, nem de porta de cemitério! O meu Jesus nasceu pra estar no céu, glorificando seu pai”, diz o então pastor no vídeo, feito, segundo ele próprio, 22 anos atrás.

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"Não pode haver vilipêndio a Cristo ou a qualquer religião cristã”, declarou o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) sobre manifestação artística na 19ª Parada do Orgulho  LGBT de São Paulo
"Não pode haver vilipêndio a Cristo ou a qualquer religião cristã”, declarou o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) sobre manifestação artística na 19ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo
Foto: Arquivo Pessoal/Facebook / Divulgação

O Terra conversou com o parlamentar nesta terça-feira. Ele disse que não tem “acompanhado nada” sobre a repercussão do vídeo antigo nas redes e defendeu: “O que aconteceu na Parada foi grave, o País todo se revoltou. Há 22 anos, critiquei as pessoas que usavam [crucifixo] e que não creem nEle – as lésbicas, os gays, eles não creem nos ensinamentos dEle”, afirmou, para completar: “Quando a pessoa crê em Jesus, não pode expô-lo ao vexame”, afirmou.

Na Parada, a atriz transexual Viviany Beleboni, de 26 anos, encenou a crucificação em cima do carro da ONG Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual (ABCDS) com o objetivo de, segundo ela, representar o sofrimento de gays, lésbicas, bissexuais, trangêneros, travestis e transexuais que são vítimas de violência no Brasil. Depois disso, porém, Viviany relatou ter sofrido uma série de ameaças por telefone e pela internet, a ponto de precisar desativar um número de celular de trabalho.

“Entrei com uma ação civil pública na mesma semana da Parada LGBT, junto com a Frente Ampla Evangélica, e estudamos entrar com uma representação e ver os contratos firmados com os patrocinadores do evento, que tem dinheiro público”, afirmou o parlamentar.

A reportagem perguntou ao parlamentar o porquê de duas visões opostas dele a respeito de um símbolo presente em religiões como a Católica, não a evangélica. “A cruz é símbolo do Cristianismo; é um símbolo universal. Minha repulsa é porque o gesto atentou contra o ato mais lindo que Jesus fez por toda a humanidade”, argumentou. E há 22 anos? “Era outra história naquela época. Não lembro em que igreja era [o culto]; nem lembro o que comi no almoço hoje”, desconversou.

Vídeo de Feliciano contra crucifixo viraliza 22 anos depois:

Ato na Câmara desperta ira da comunidade LGBT

Juntamente com outros nomes da bancada evangélica, na semana passada, Feliciano participou de um ato de repúdio à manifestação durante sessão na Câmara dos Deputados com imagens supostamente do evento em São Paulo. Em carta aberta à sociedade, nesse fim de semana, a organização da Parada informou que pedirá ao Judiciário que investigue os deputados que participaram do ato por crime de “incitação ao ódio e desrespeito explícito ao Estado Laico.” “A Parada do Orgulho LGBT não busca em suas manifestações ofender nenhum segmento da sociedade. É evidente a manipulação das imagens e informações com o objetivo de tirar o foco da luta pelos direitos da população LGBT”, criticou a organização, na nota.

Para Feliciano, “eles [da Parada LGBT] podem pedir [ao Judiciário] o que quiserem”. “O nosso foi um ato democrático. Se as imagens usadas são daqui ou de acolá, eles retratam crime, e precisa ser punido. Não pode haver vilipêndio a Cristo ou a qualquer religião cristã”, declarou o deputado.

Feliciano também endossa a proposta de parlamentares evangélicos que, após o evento em São Paulo, propuseram votar em regime de urgência, com respaldo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o projeto de lei que torna a “cristofobia” crime hediondo . De autoria do deputado Rogério Rosso (PSD-DF), o texto aumenta a pena de ultraje a culto para até oito anos de prisão.

Deputado manda “gargalhadas” a Jean Wyllys

Em evento em São Paulo na última sexta, o deputado federal Jean Wyllys, coordenador da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT da Câmara e integrante da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, afirmou que, caso vire lei, a primeira figura pública a ser punida seria o próprio Feliciano.

Sobre isso, Wyllys citou o vídeo de duas décadas. “O primeiro preso a amargar pena maior de prisão proposta por esse projeto de lei seria Marco Feliciano, porque tem circulado um vídeo em que ele faz ofensas terríveis ao crucifixo católico em tampa de caixão, porta de cemitério e até no pescoço das pessoas, por exemplo. Acho lamentável que Eduardo Cunha entre nessa jogada da bancada de fundamentalistas religiosos por causa de uma representação artística na Parada LGBT e silencie, de outro modo, com pastores que já incitaram violência na TV contra religiões africanas”, criticara.

Indagado sobre que avaliação fazia das colocações do colega sobre ele, Feliciano riu e pediu: “Pode escrever aí: ‘gargalhadas’. Ele [Wyllys] não entende nada de leis", encerrou.

Conselho publica artigo contra “oportunistas”

Apesar da reação da bancada evangélica, artigo reproduzido pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), na última sexta, sobre a manifestação artística durante a Parada, classificou que as “as imagens chocam, e muito, aqueles que foram educados pelo e para o ódio – ironicamente, através da religião que se distinguiu, ao longo dos séculos, por um profeta que pregava o amor.” “Acredite nele ou não, a história de Jesus é a da vítima do ódio mais conhecida pela humanidade”, cita trecho do artigo assinado por Victor Farinelli. “Onde estaria hoje esse Cristo que renasceu? Levando em conta o ensinado nas aulas de catecismo, Cristo seria uma transexual pregada numa cruz na parada gay, simbolizando as travestis que são espancadas, humilhadas e assassinadas com requintes de crueldade no Brasil e em vários outros lugares assolados pelo fanatismo religioso. No caso brasileiro, pasmem, pelo fanatismo cristão”, segue o artigo, em que a suposta blasfêmia do ato seria invocadam na realidade, por “alguns pastores oportunistas”.

Os evangélicos e os homossexuais:
Fonte: Terra
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