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Com raízes italianas, Bolsonaro indica aproximação com Roma

Caso Cesare Battisti está no centro de sua política externa

30 out 2018 - 13h57
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Os primeiros dias de Jair Bolsonaro como presidente eleito do Brasil deram indícios de que sua chegada ao Palácio do Planalto pode reaproximar o país da Itália, principalmente em função do caso Cesare Battisti.

    A península é uma das únicas três nações - ao lado de Estados Unidos e Israel - citadas nominalmente no capítulo do programa de governo bolsonarista dedicado ao Itamaraty. "Deixaremos de louvar ditaduras assassinas e desprezar ou mesmo atacar democracias importantes como EUA, Israel e Itália", diz o texto.

    O "ataque" em questão é a não-extradição de Battisti, ex-integrante da guerrilha Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) condenado à prisão perpétua em seu país por quatro assassinatos cometidos na década de 1970, durante os "Anos de Chumbo".

    Battisti conseguiu asilo no Brasil em 2010, graças ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas Bolsonaro e sua equipe já deixaram claro que a extradição será uma das prioridades de sua política externa. "O presente está chegando", afirmou no Twitter o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, ao agradecer ao ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, pelo apoio recebido durante a campanha. "Já temos homicidas demais no Brasil para ficar alimentando e dando guarida para um homicida que matou gente na Itália", reforçou Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil.

    O próprio Salvini já disse que ficaria "contente" em vir ao Brasil para "pegar o terrorista vermelho Cesare Battisti e levá-lo para a cadeia". Em um primeiro momento, no entanto, Bolsonaro estará de mãos atadas.

    O governo de Michel Temer já deu aval para a extradição, mas o italiano continua no país graças a uma liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, relator do caso que decidirá se o asilo concedido por Lula pode ser anulado por um sucessor.

    Apesar da amizade entre o PT e o Partido Democrático (PD), que governou a Itália entre 2013 e 2018, as relações entre os dois países ficaram marcadas pelo caso Battisti, cuja extradição é pedida não apenas pela direita, mas por boa parte da centro-esquerda, inclusive os ex-primeiros-ministros Matteo Renzi e Paolo Gentiloni.

    Família - Outro fator que pode reaproximar Brasil e Itália no governo Bolsonaro é a ascendência do presidente eleito. Segundo pesquisa feita pelo sociólogo Daniel Taddone, presidente do Comitê dos Italianos no Exterior (Comites) no Nordeste, o capitão reformado é descendente de italianos do Vêneto, da Toscana e da Calábria.

    Os avós maternos de Bolsonaro são da cidade toscana de Lucca, enquanto seu avô paterno, Angelo Bolsonaro, é de Pedreira (SP), mas filho de italianos da província de Pádua, no Vêneto.

    "Eu tinha pensado na genealogia de Bolsonaro bem antes de ele se candidatar, mas me faltava a ligação com eventuais imigrantes porque eu não conseguia encontrar os nomes dos avós dele", conta Taddone, em entrevista à ANSA. No entanto, ele conseguiu descobrir os nomes com um colega que também faz pesquisa genealógica e conhece uma prima de Bolsonaro.

    "A partir daí as coisas foram clareando. Depois dessa fagulha foram apenas 15 dias, tivemos sorte porque boa parte das fontes está online", acrescenta o sociólogo, que coordenou uma equipe de pesquisa de mais três pessoas.

    A avó paterna de Bolsonaro, Elza Hintze, era filha de um alemão de Hamburgo e de uma mulher nascida em Mococa (SP), mas de pai originário da Calábria. "Pelo lado materno, a genealogia é totalmente italiana: dois avós, quatro bisavós e oito trisavós de Lucca. Por parte de pai, é uma mistura de um ramo vêneto pelo avô e de alemães com brasileiros pela avó", diz Taddone.

    Antes de desembarcar no Brasil, o sobrenome Bolsonaro era escrito com "z", "Bolzonaro", mas a grafia acabou mudando com o registro em cartórios. "No dialeto vêneto, esse 'z' é pronunciado com som de 'Bolsonaro' mesmo. Tanto que alguns parentes se tornaram 'Bossonaro', em vez de 'Bolzonaro'", acrescenta o sociólogo.

Ansa - Brasil   
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