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Tragédia em Santa Maria

RS: prefeito de Santa Maria cancela viagem a Brasília, mas não depõe

Polícia Civil chegou a agendar com o político, mas adiou depois de receber lista de pessoas que receberam atendimento médico por causa de incêndio em boate

6 mar 2013 - 22h58
(atualizado às 23h29)
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Segundo o delegado Sandro Meinerz, a Polícia Civil estuda alguns elementos antes de interrogar o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB)
Segundo o delegado Sandro Meinerz, a Polícia Civil estuda alguns elementos antes de interrogar o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB)
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

A quarta-feira foi de muita expectativa pelo depoimento do prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), no inquérito que investiga a tragédia na Boate Kiss, que causou a morte de 240 pessoas. Inicialmente, o político iria ser ouvido somente na sexta-feira, mas os planos mudaram depois que ele cancelou uma viagem a Brasília, onde iria se encontrar com a presidente Dilma Rousseff. A alteração na agenda de Schirmer aconteceu por causa da morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que fez com que a chefe da República cancelasse todos os seus compromissos.

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Schirmer já estava em Porto Alegre, na terça-feira, quando soube da morte do líder venezuelano e da alteração na agenda da presidente. Por isso, nesta quarta-feira, ele já estava de volta a Santa Maria. Sabendo disso, a Polícia Civil chegou a agendar com a assessoria do prefeito um depoimento na 1ª Delegacia de Polícia Civil (1ª DP), na qual estão concentradas as investigações.

Mas os planos foram alterados durante o dia, depois que os delegados responsáveis pelo caso receberam uma lista da Secretaria Estadual da Saúde com os nomes de todas as pessoas que receberam atendimento médico devido ao incêndio na Boate Kiss.  Além disso, segundo o delegado Sandro Meinerz, os policiais ainda estudam alguns elementos para poder interrogar o prefeito.

"Não estamos buscando novas informações. Estamos terminando uma análise de documentos que estão no inquérito e fazendo uma análise de todos os depoimentos dos servidores da prefeitura. Precisamos ter essas informações bem esclarecidas para perguntar o prefeito sobre alguns detalhes", afirma o delegado.  

Agora, o depoimento de Schirmer deve ocorrer entre a quinta e a sexta-feira. A data ainda não foi marcada. Antes de concluir o inquérito, o que deve ocorrer provavelmente na próxima terça-feira, a Polícia Civil vai ouvir novamente os quatro presos apontados como responsáveis pela tragédia: os sócios da Boate Kiss, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, e os dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor musical Luciano Bonilha Leão. Os quatro estão presos preventivamente na Penitenciária Estadual de Santa Maria.

Os delegados que comandam o inquérito ainda não divulgaram quando e onde os quatro presos serão ouvidos, até por questões de segurança. Na fase final do inquérito, os policiais não querem arriscar nada que comprometa a investigação.  

Lista de atendidos tem cerca de 600 nomes

Sobre a lista enviada hoje pela Secretaria Estadual da Saúde, Meinerz esclarece que ela tem nomes e dados de todas as pessoas que receberam atendimento e onde elas receberam socorro ou foram internadas. Mas a relação não diz que problemas de saúde essas vítimas tiveram.

A Polícia Civil já começou a fazer o cruzamento de dados com os nomes de todas as pessoas que deram depoimento, para saber quem ainda não compareceu à delegacia. Esses que não tiveram contato com a investigação serão procurados e, depois, encaminhados para fazer exame de corpo delito e prestar depoimento.

Essa quantificação é importante porque essas pessoas são consideradas pela polícia como vítimas de tentativa de homicídio. A intenção, com esse levantamento, é chegar o mais perto possível do número de frequentadores que havia na boate, para poder comprovar se houve superlotação. A lista enviada pela Secretaria de Saúde tem cerca de 600 nomes.  

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou mais de 230 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A intenção é oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Fonte: Especial para Terra
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