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Cidades

RJ não descarta pedir ajuda do Exército para conter violência nos protestos

Secretário de Segurança Pública lembrou que as Forças Armadas já estão dando apoio para a realização da Copa das Confederações

21 jun 2013 - 13h00
(atualizado às 15h09)
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A cúpula da segurança do Rio de Janeiro não descarta pedir o auxílio do Exército para monitorar futuras manifestações populares e os eventuais distúrbios que delas venham a emergir. O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, lembrou nesta sexta-feira que as Forças Armadas já estão dando apoio para a realização da Copa das Confederações na cidade, mas pontuou que, por ora, apenas as forças policiais fluminenses atuarão nos protestos.

Protesto contra aumento das passagens toma as ruas do País; veja fotos

"O Exército já está na cidade pelas Copa das Confederações, não pelas manifestações. Eles têm contingente a ser utilizado caso o governo do Estado demande. Temos parceria antiga com o Ministério da Defesa. Se necessário for, não me furtarei a pedir qualquer auxílio", afirmou Beltrame, em entrevista coletiva à imprensa na sede da secretaria, no Centro do Rio de Janeiro.

O chefe da segurança comentou o violento confronto entre manifestantes e a polícia que deixou pelo menos 62 feridas e oito presos, dos quais três jovens. Para Beltrame, as forças de segurança lidaram com uma "situação complexa", e admitiu que a polícia não conseguiu controlar totalmente os distúrbios ocorridos na região central da cidade na noite da última quinta-feira.

"Ontem tivemos uma ação totalmente complexa, não é ação cotidiana. Temos de separar segurança pública cotidiana do que aconteceu ontem. Houve situações que não conseguimos controlar. Mas se controlaram muitas outras coisas que poderiam assumir dimensões maiores. O que aconteceu ontem é algo complexo, que não acontece normalmente”, observou ele.

Sob a cortina de que o trabalho de inteligência deve ser sigiloso, Beltrame evitou falar sobre o perfil dos responsáveis por atos de vandalismo, bem assim como explicar se há alguma ação em orquestrada. Medindo as palavras, ele disse que a chamada "minoria" que comete atos de vandalismo pode não ser tão pequena assim. "Essa questão da minoria tem que ser pensada. Talvez seja frente a 300 mil pessoas. Mas um minoria não produziria o Rio como a cidade amanheceu hoje".

"Demonizar a polícia"

Beltrame alertou para o risco de se buscar a demonização da polícia. Para ele, essa estratégia pode beneficiar os grupos que estão cometendo atos de vandalismo em meio aos protestos. "De nada adianta demonizar a polícia. A polícia é o que o Estado brasileiro tem. Demonizar talvez seja benéfico para os vândalos. Pode haver erros, mazelas, problemas. Talvez não se tenha conseguido contornar todas as situações ontem, mas a polícia contornou muitas e evitou outras que poderiam acontecer."

Diante do baixo número de prisões efetuadas ontem, Beltrame admitiu que é preciso deter mais pessoas que cometem atos ilegais, mas ponderou que há a exigência de meios legais para se conter os vândalos. "Há que se prender mais pessoas. Mas para efetuar uma prisão, é preciso atender alguns requisitos. É preciso trabalhar dentro da lei", comentou.

A chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, informou que a corporação vem trabalhando com imagens feitas nos protestos, e que já está identificando alguns vândalos. Segundo ela, dois homens que agiram no cerco a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), na última segunda-feira, foram identificados e já tiveram a prisão pedida. Um mandado foi concedido para capturar um homem que mora em Itaboraí, na região metropolitana. Segundo Martha Rocha, ele tem antecedentes criminais, por agressão a guardas municipais. A polícia, no entanto, ainda não conseguiu achá-lo.

Acusações de excessos

Sobre as acusações de que a polícia cometeu excessos, Beltrame lembrou, mais uma vez, que a situação era complexa, mas garantiu que irá apurar todas as denúncias. Ele salientou que o policial também sofre consequências diante de todo o cenário conturbado. “A polícia tem que agir, mas não pode abusar. Tem que ser técnica, e tem que ser proporcional. Tudo isso num cenário complicado”, afirmou.

O chefe do Estado-Maior da PM, coronel Alberto Pinheiro Neto, negou que a PM tenha cometido abusos no hospital Souza Aguiar. Os policiais foram acusados de jogar bombas de gás lacrimogêneo para dentro da unidade, para dispersar manifestantes que teriam se escondido. “Para controlar distúrbios, o uso do gás é necessário. O gás se dissipa, a saturação no Centro era muito grande, e alguns locais foram afetados. Estávamos diante de uma perturbação da ordem, para conter pessoas que cometiam vandalismo no Centro. Havia necessidade de contê-los”.

Beltrame negou a informação de que traficantes estariam se infiltrando nas manifestações para incitar os atos de vandalismo. Segundo ele, não há elementos concretos para se afirmar que bandidos de facções criminosas estejam inflamando os vândalos.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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