PM de folga atira em 4 policiais e morre em confronto na zona norte de SP
De acordo com registro, agente 'apresentava comportamento alterado e fazia ameaças de suicídio, após um desentendimento familiar'
Alerta: a reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda.
Um soldado da Polícia Militar de folga morreu na noite desta terça-feira, 22, após acertar, com disparos de arma de fogo, outros quatro agentes da corporação em confronto no bairro do Limão, zona norte de São Paulo. Conforme informações preliminares, Rogério Vital dos Santos teria cometido suicídio logo após ser ferido. Já os outros PMs receberam atendimento de urgência e passam bem.
Durante o confronto, Rogério foi alvejado de raspão no tórax e no braço. Ele, então, "atentou contra sua própria vida", segundo registro interno. A equipe de pronto atendimento médico da Polícia Militar foi acionada para prestar socorro imediato ao autor da crise, mas o soldado não resistiu e morreu no local.
Conforme a corporação, o quadro se configura como "suicídio pela polícia (conhecido internacionalmente como suicide by cop), em que o indivíduo, ao ameaçar e atirar contra agentes de segurança, busca deliberadamente provocar uma reação letal como forma de interromper sua própria existência".
Onde foram feridos os PMs envolvidos na ocorrência
O registro da Polícia Militar aponta que os quatro policiais militares do 4.º Batalhão de Polícia de Choque feridos durante o confronto receberam atendimento de urgência e passam bem. São eles:
- O 2.º sargento Wilson Katsuji Nakashima, alvejado na região da panturrilha. Ele foi socorrido ao Hospital das Clínicas, consciente, estável e orientado;
- o soldado Vitor Figliolino Corniani, alvejado na região da coxa. Ele foi socorrido também ao Hospital das Clínicas, consciente, estável e orientado;
- o cabo Pedro Henrique Gonçalves, também alvejado na região da coxa. Ele foi socorrido à Santa Casa, consciente, estável e orientado;
- o 1.º sargento Raphael Romão Penna, que foi alvejado no rosto, mas está consciente. Não há informações sobre o hospital para onde ele foi encaminhado.
"A Polícia Militar presta total apoio aos policiais feridos e às suas famílias, e reforça que todos os protocolos técnicos e operacionais foram seguidos, com foco na preservação de vidas e na segurança da população", afirma a corporação.
Dados da última edição do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), publicado no ano passado, apontam que os suicídios cometidos por policiais militares da ativa estão em alta em São Paulo. Foram 31 ocorrências em 2023, alta de 40,9% em relação aos 22 casos registrados um ano antes.
Em paralelo, as mortes cometidas por agentes da Polícia Militar em serviço também têm apresentado alta, com destaque para a capital paulista, onde os casos dobraram: foram 184 ocorrências de janeiro a dezembro de 2024, ante 92 casos em 2023, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Em nota sobre os suicídios de PMs, a SSP afirma que corporação tem ampliado as iniciativas já existentes de suporte ao bem-estar e atendimento psicológico aos policiais militares da ativa por meio do seu Sistema de Saúde Mental (SISMen), que disponibiliza atendimento psicossocial no Centro de Atenção Psicológica e Social (CAPS), na capital, e também em 41 Núcleos de Atenção Psicossocial em todas as regiões do Estado.
"Além disso, há o serviço de telepsicologia, que conta com 59 psicólogos credenciados, com atendimento psicoemocional de policiais da ativa ou da reserva com agendamento e consultas online. Iniciado em outubro de 2023, o serviço já totaliza 34.707 atendimentos até fevereiro de 2025?, diz a corporação.
Sobre a alta da letalidade policial, a PM diz não compactuar com desvios de conduta ou excessos por parte seus agentes, punindo com absoluto rigor todas as ocorrências dessa natureza. "Desde 2023, 439 policiais militares foram presos e 316 demitidos ou expulsos, reforçando o compromisso da Secretaria da Segurança Pública com a legalidade e a transparência", afirma.
"A instituição mantém programas robustos de treinamento e formação profissional, além de comissões especializadas na mitigação de riscos, que atuam na identificação de não conformidades e no aprimoramento de procedimentos operacionais. Por determinação da SSP, todos os casos de MDIP são investigados pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento das corregedorias, do Ministério Público e do Judiciário", acrescenta a secretaria.
Onde buscar ajuda
Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:
Centro de Valorização da Vida (CVV)
Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.
Canal Pode Falar
Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.
SUS
Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuvenis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.
Mapa da Saúde Mental
O site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.
NOTA DA REDAÇÃO: Suicídios são um problema de saúde pública. Antes, o Estadão, assim como boa parte da mídia profissional, evitava publicar reportagens sobre o tema pelo receio de que isso servisse de incentivo. Mas, diante da alta de mortes e tentativas de suicídio nos últimos anos, inclusive de crianças e adolescentes, o Estadão passa a discutir mais o assunto. Segundo especialistas, é preciso colocar a pauta em debate, mas de modo cuidadoso, para auxiliar na prevenção. O trabalho jornalístico sobre suicídios pode oferecer esperança a pessoas em risco, assim como para suas famílias, além de reduzir estigmas e inspirar diálogos abertos e positivos. O Estadão segue as recomendações de manuais e especialistas ao relatar os casos e as explicações para o fenômeno.
